Ciro não ficou bem.
Mas quem ficaria depois de toda a sua família ter sido morta em um atentado?
As mãos, de Yur, que o acalentaram na frente do fogo que fizeram próximo dos destroços de sua casa foram as mesmas que colocaram um lençol sobre meu corpo enquanto eu lamentava os corpos dos que não sobreviveram.
Eu não estava derramando tantas lágrimas quanto eu achei que derramaria, acho que as lágrimas foram mais por Guilhermina do que para o restante deles.
Ela estava virando minha amiga.
Além de Guilhermina, Hannah e o pai de Ciro, diversos trabalhadores do castelo e Felipe também haviam morrido.
Eu simpatizava com Felipe. Éramos iguais. Dois lados de uma moeda.
Foram tantas vidas tiradas que resolvi apenas me desligar daquele momento. As vozes das pessoas ao redor flutuam ao meu redor tentando me alcançar, porém não consigo entendê-las.
Estão mudas para mim.
Yur se senta ao meu lado e segura meu rosto em direção ao dele.
Nossos narizes quase se tocam.
— Amiga — ele diz com a voz profunda e o olhar escurecendo — Eu preciso de você. Você está viva. Fique aqui com os vivos. Você me ajudou uma vez. Me deixe te ajudar também.
— Eu... não entendo — consigo emitir e me pego derramando uma lágrima de ambos os olhos — Por quê?
— O ataque? — ele pergunta.
Eu assinto.
— Eles não queriam que o primeiro-ministro criasse uma lei que decretasse a paz entre Trolia e Versen. A família Kobayashi tem grande influência e consegue tudo o que querem. Ser pacifista não foi visto com bons olhos por alguns aqui.
— Eles querem guerra — digo.
— Sim — ele responde, a voz diminuindo de forma abrupta.
— E quem são eles exatamente? — Não é bem uma pergunta, mais uma divagação minha — E precisava ser todos e não só o primeiro-ministro?
Olho na direção de Ciro que depois do baque inicial parece estar tentando se recompor falando com os sobreviventes.
— Precisava — ele rebate — porque qualquer um que sobrevivesse poderia buscar resistência ao que eles fizeram.
E esse sobrevivente é Ciro.
Mas, se ele seria uma resistência contra esse grupo ou o líder da guerra, aí realmente não conseguia chegar a uma conclusão. Não sei se acredito que Ciro concordava com sua família pacificadora.
Na verdade, creio no oposto.
— E como ter certeza que não foi Versen que atacou a casa dele? — pergunto.
— Não sei — Yur dá de ombros — Não tivemos contato com eles desde que saímos de lá.
— Orlean não deixaria que isso acontecessem, deixaria? Nós estamos aqui. Ele não nos atacaria.
Yur assente. Pensamos igual. Ele também acha estranho que o ataque possa ter vindo de Versen, logo quando Versen preparou a visita para que assinassem, de alguma forma, um acordo de paz.
Não acho que colocariam tudo a perder, mas Trolia pode não concordar.
Ciro, que tinha acabado de entregar comida para algumas crianças, se aproxima de nós. Ainda está visivelmente abalado, o cabelo coberto de poeira e alguns arranhados no queixo e testa devido a explosão, mas está tentando o melhor que pode aparentar não estar sofrendo.
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O Portal para Versen
FantasiAlissa Ribeiro trabalha como funcionária numa das maiores redes de fast food de sua região. Entediada com a vida rotineira e sendo sempre alvo de provocações de um de seus colegas de trabalho, Alissa se incomoda com a falta de perspectiva de uma vi...