Cobra
Rocinha-RJOito horas da manhã e eu já tava por conta do caralho, só estresse nesse morro e eu tendo que resolver tudo ao mesmo tempo, ainda tinha o caralho da Karina que não parava de me tirar a paz, todo dia uma gracinha diferente que já tava me deixando saturadão.
Nem tinha clareado o dia ainda e eu já tava na boca programando a próxima entrega de drogas com meu fornecedor, se não fosse tudo bem calculado a PRF interceptava o caminhão e eu perdia toda a carga, eles eram mais difíceis de subornar e nem sempre meus contatos podiam aliviar a minha barra.
Assumi o morrão quase onze anos atrás, meu coroa morreu em uma operação da BOPE e no mesmo dia eu já entrei pra cumprir o meu legado, eu sempre soube que herdaria isso tudo, fui criado pra isso, meu coroa não era o melhor pai do mundo mas como bandido soube me passar a visão do certo legal.
Peguei todo o conhecimento e investi no meu morro, em dois anos eu transformei a Rocinha no maior ponto de droga do Rio de Janeiro e com o maior faturamento da facção, vagabundo vinha até de fora pra comprar nossa droga.
O pai é chato com os fornecedores.
Piloto: Coe patrão, que cara é essa?-meu braço direito chegou e se jogou no sofá de couro do lado da minha mesa
Cobra: Cheio de problema nesse caralho-resmunguei acendendo um cigarro e jogando a fumaça para o alto
Piloto era meu braço direito, menor entrou pra boca há uns anos depois dos pais expulsaram ele de casa, no começo não coloquei muita fé não, moleque novo e emocionado geralmente só faz merda, mas conforme o tempo passava vi que o menor tinha mais disposição do que alguns dos meus melhores seguranças, foi então que eu subi ele de cargo e não me arrependo, confio no moleque de olhos fechados.Disposição pura.
Piloto: Karina?-perguntou já sabendo da resposta
Karina era minha ex mulher, assumi ela como fiel pouco depois de assumir o morro e fiquei junto até o ano passado, no começo o bagulho era até maneirinho, mas conforme os anos foram passando não aguentava mais nem escutar a voz, tudo era do jeito que ela queria e vivia fazendo barraco na rua, sem postura nenhuma.
Sempre fui sujeito homem e me mantive fiel durante o tempo que a gente tava junto, até quando rolava uma briga mais séria eu metia o pé pra não perder a razão, muitas vezes ela falava tanta merda que dava até vontade de grudar ela de porrada.
Se não fosse minha coroa que me criou dizendo que isso era coisa de covarde, já tinha metido um socão na cara dela sem nem pensar duas vezes.
Eu sempre soube que nosso relacionamento era na base do interesse, Karina gostava do posto de primeira dama e de gastar meu dinheiro, durante anos eu dei o papo pra ela abrir alguma parada no nome dela e tirar um dinheiro maneiro, mas ela nunca quis e sempre foi sustentada por mim, nunca deixei faltar nada, e também nem fazia questão, tinha mais dinheiro na conta do que ia conseguir gastar a minha vida toda.
Quando eu comecei a passar mais tempo na rua do que eu casa comecei a ver maldade no papo dela de querer ter um filho, até vasectomia eu fiz pra não dar mole e ela engravidar, confio nada.Trinta e dois anos na cara não é qualquer um que faz minha mente.
Colocar uma criança no mundo no meio da confusão que era nosso relacionamento chegava a ser maldade, papo reto.Já tava velhão pra esses bagulhos, agora só quero ser livre e morrer cercado de piranha.
Cobra: É po, ontem ela caiu na porrada com a Raquel-peguei o caderno do fechamento das bocas e dei uma olhada vendo que tava com uma margem boa de lucro, melhor até que no mês passado
Como eu disse, o pai era chato no fornecedor, minhas drogas só vinham de fora e da mais pura.
Piloto: Fiquei sabendo desse câo, Raquel deu uma coça nela
Ultimamente Karina tava caindo na porrada com toda mulher que eu fodia, já tava de saco cheio de toda hora ir separar briga, terminei pra ficar livre dos estresses e nem assim eu conseguia ter paz.
Só matando essa filha da puta.
Cobra: Enfim-cortei o assunto pra não me irritar, mais-Teu pai pegou dinheiro de novo
O pai do Piloto era pastor de uma igreja lá no pé do morro, pregava de dia e a noite cheirava até ficar pancadão, só não tinha passado o cerol nele por que o Piloto pagava as dividas, não pelo pai, mas sim pela irmã que ainda morava com os pais, mina novinha que ralava pra ganhar o dela e ainda tinha que sustentar casa de viciado.
Meu corpo se agitou só de imaginar a cena.
Piloto: Quanto?-perguntou irritado, menor que praticamente sustentava o vício do pai, pastorzinho de merda
Não é pecado um bagulho desse?
Cobra: Tá devendo seis mil só de droga
Piloto: Manda cortar a conta dele, só pega droga com dinheiro na mão-ele tirou um paco da gaveta e deu na minha mão pra quitar a dívida mais uma vez, era a quarta só nesse mês
Cobra: Correto
Marquei da boca até a hora do almoço, ainda precisava fazer as cobranças que restaram e se tudo desse certo comer uma piranha que já tava tonteando desde ontem.
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Vícios e Obsessões {PAUSADO}
Teen Fiction📍Rocinha-RJ|+18 "Eu sou seu anjo, seu demônio Cê é meu pesadelo, é meu sonho Ela me balança tipo o mar Se sumir vou sentir falta, ela é tipo o ar"