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Bia

Gilmar: Eu não aguento mais esse inferno-escutei o berro do meu pai e levantei assustada da cama 

Adélia: Homem, eu não tenho mais da onde tirar dinheiro

Esses últimos dias tinham sido um inferno, cada vez mais eu ficava preocupada com a maneira abatida que minha mãe se encontrava, meu pai tava desequilibrado e tentando de qualquer maneira um dinheiro para uma obra na igreja que claramente não tínhamos como bancar.

A igreja ficava em uma espaço dado pela associação de moradores, uma pequena garagem onde cabiam cerca de vinte e cinco pessoas, todas as reformas eram custeadas pelo dízimo, então me estranha ele estar desesperado por dinheiro sendo que é só abrir mais uma arrecadação destinada a obra como todas as outras.

Bia: Bom dia-murmurei sentindo meus olhos pesarem de sono

Se eu dormi três horas essa noite foi muito, fiquei rolando na cama de um lado para outro e no final só fui dormir quando o dia tava clareando.

Adélia: Bom dia minha filha

Como todos os outros dias ela beijou minha testa e serviu uma xícara de café pra mim, já meu pai não olhou na minha cara e saiu batendo a porta em um baque seco.Minha mãe suspirou visivelmente cansada.

Bia: Eu posso dar mais dinheiro, se precisar-sugeri já imaginando que teria que mexer nas minhas poucas economias, mas era melhor do que ver esses dois em pé de guerra

Adélia: Não precisa, você já ajuda muito

Estranhei sua fala, desde que eu comecei a ajudar em casa-cerca de quatro anos atrás-ela nunca tinha falado isso, muito pelo contrário, quase sempre me pedia ajuda para pagar alguma conta que faltava.

Adélia: Vai trabalhar?-perguntou mudando o assunto 

Bia: Sim, tenho uma casa pra faxinar

Adélia: Hum-foi sua resposta antes de sumir pela cozinha.

***

No instante que eu escutei o primeiro tiro meu coração quase saiu pela boca, estava quase na hora de ir embora  e tive que voltar, escutei a movimentação dos meninos na frente da casa e paralisei, na mesma hora meu celular apitou e eu me obriguei a olhar com medo de que tivesse acontecido algo em casa.

"Adélia: O caveirão subiu o morro , fique onde está
Espera os tiros passarem
Bia: Ok"

Foram cerca de duas horas de tiro sem nenhuma pausa, já tinha escurecido e eu continuava sentada na bancada na cozinha pedindo para que quem que estivesse lá em cima protegesse meu irmão.Mesmo depois de tudo eu não queria vê-lo estirado no chão com um monte de tiro no peito.

E acredite, até o Cobra entrou no meio desses pedidos, justifiquei pra mim mesma que era apenas que se ele morresse, eu perderia meu emprego, mas lá no fundo eu sabia que não era bem isso.

Quando vi que os tiros deram uma trégua peguei minha mochila preta surrada, verifiquei se estava tudo desligado na cozinha  e apaguei as luzes, foi quando a porta da frente abriu com tudo e o Cobra entrou cambaleando dentro de casa enquanto uma mancha de sangue enorme se formava em seu ombro.

Bia: Ai meu Deus-falei assustada e corri para ajudá-lo a se equilibrar, o que não era muita coisa, já que eu pesava 58 kilos e ele era uma parede de músculos bem mais pesado que eu 

Cobra: Tá fazendo o que aqui?perguntou com a voz dolorida e eu o ajudei a se sentar no sofá 

Bia: Fiquei presa aqui por conta dos tiros-respondi enquanto passava o olho no seu peitoral tentando achar algum outro ferimento-O que aconteceu?Quer que eu chame ajuda?

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