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Bia

Não sei ao certo quanto tempo eu fiquei ali, mas conforme fui descendo o morro em direção a minha casa notei que tinha alguma coisa de errado, a maioria dos olhares vieram em minha direção enquanto cochichavam entre si, apertei meu abraço ao redor do meu corpo abaixando a cabeça e imaginando que devia ser algo em relação aos meus pais.

O céu já estava escuro e nuvens pesadas de chuva começavam a cobrir o céu azul, provavelmente na hora que eu fosse trabalhar já estaria caindo uma chuva daquelas, precisava me lembrar de colocar a sombrinha na bolsa.

Estava colocando minha bolsa no cabideiro ao lado da porta quando meu coração quase parou ao meu ver meu pai sentado no sofá com a expressão séria enquanto minha mãe estava ao seu lado em uma postura defensiva, seus olhos estavam inchados e vermelhos, franzi o cenho confusa com a cena atípica e me aproximei dos dois.

Bia: Está tudo bem?-os olhos gélidos do meu pai me queimaram e eu senti meu corpo arrepiar em um pressentimento ruim

Gilmar: O Senhor odeia os lábios mentirosos, mas se deleita com os que falam a verdade-citou o versículo da biblía para mim e se levantou, só então me dando a visão de um cinto em sua mão

Bia: O...o que-dei um passo pra trás assustada

Gilmar: Fujam da imoralidade sexual. Todos os outros pecados que alguém comete, fora do corpo os comete; mas quem peca sexualmente, peca contra o seu próprio corpo. Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de vocês mesmos? Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o seu próprio corpo-sua voz era fria feito uma navalha a antes que eu pudesse entender a situação a primeira cintada desceu contra minhas pernas me fazendo gritar com a dor ardente 

Bia: O que está acontecendo?-gritei sentindo meus olhos lacrimejaram 

Meu pai agarrou os meus cabelos com força e desbloqueou seu celular mostrando um vídeo que eu reconheci na hora do que se tratava, era eu e o Cobra atrás do bar na noite em que transamos, alguém tinha gravado e postado em uma dessas páginas de fofoca aqui do morro.Por mais que meu rosto estivesse escondido a maior parte do tempo tinha um momento em questão que dava para me ver nitidamente.

Ai meu Deus.

Gilmar: Eu não criei filha minha para ser vagabunda-gritou apertando meus cabelos com força com que fez meu couro cabeludo queimar-Não criei você pra ser uma prostituta que dá para bandido 

Bia: Pai, me escuta-implorei enquanto seu cinto descia contra minha barriga e ombros, a fivela batia com força contra minha pele arracando sangue de mim

Gilmar: Escutar?-debochou-Você nos humilhou e mentiu, tem noção do que o povo da igreja vai pensar?Tem noção do que dar essa buceta vai causar na nossa família?

Adélia: Eu não vou aguentar mais uma decepção-sua voz não tinha nada de maternal e acolhedora

Lágrimas desciam em meus olhos enquanto me sentia a menina pequena que apanhava por sentir falta do irmão que a abandonou, minha mente tentava assimilar a situação enquanto meu pai me batia e recitava versículos da bíblia que falavam sobre vulgaridade e pecado.

Gilmar: Escuta bem o que eu vou dizer-sua mão agarrou meu maxilar com força enquanto eu sentia meus braços tremendo com a dor que as fivelas tinham deixado-Nós vamos embora amanhã Beatriz, você vai se casar com o Hugo e vai obedecer tudo que ele falar, vai ser a mulher que eu te criei pra ser

Meus músculos estavam pesados, letárgicos devido ao espancamento, conseguia sentir cada do meu corpo arder e sangrar, ficando até mesmo difícil me manter ajoelhada.

As palavras do meu pai me apavoraram, mais do que nunca eu tive a certeza que tudo que eu queria deles dois era distância, o que eles fizeram todos esses anos comigo foi pura tortura psicológica e física.

Eu não queria viver em uma bolha onde eu seria submissa, casada com alguém que me dava medo e completamente infeliz igual minha mãe, eu queria ser feliz de verdade, ter a liberdade que eu sempre sonhei e sair da prisão dos meus pais, longe da loucura e fanatismo religioso que eles viviam.Isso era uma doença perigosa.

Durante anos eu tive medo de expressar o que eu sentia, de falar "não" e de impor limites.Tive medo de fazer o que eu queria e me guardei dentro de mim me oprimindo e me sufocando.Me guardei tão bem de mim mesma que esqueci quem eu realmente era, me esqueci de viver e respirar como qualquer pessoa normal.

E mesmo que a dor física estivesse me matando, mentalmente eu não podia estar mais livre do que um dia eu me agarrei com todas as forças, eu amava meus pais mesmo com todas as turbulências, mas acima disso, eu me amava mais.

Por isso eu respirei fundo e tomei a decisão que eu relutei tanto para tomar, e não era pelo Cobra, embora ele tivesse me feito enxergar a mim mesma quando eu nem mesmo me reconhecia, era por mim, por todos os abusos que eles me causaram, se antes eu achava que só o meu irmão tinha me abandonado, mal sabia eu que meus pais também.

Bia: Não-falei firme com o resto de forças que me restava-Eu não vou

Meu pai me olhou como se tivesse vendo um monstro em sua frente, seus olhos ficaram vazios e em rompante suas mãos agarraram no meu pescoço com força, meu corpo cedeu pra trás e ele me segurou me sacudindo.

Gilmar: Você não vai estragar tudo que eu conquistei porquê resolveu dar essa buceta-rangeu os dentes com força

Bia: Eu o amo-revelei sentindo um rio de lágrimas descendo pelo meu rosto

Adélia: Meu Deus, isso é o diabo falando-sibilou apavorada segurando um terço na mão

Gilmar: Sua putinha, eu prefiro te ver morta

Eu achei que fosse morrer no momento que ele começou a me enforcar, comecei a gritar e a tentar o arranhar quando o ar começou a me faltar, o desespero começou a subir pelo meu corpo enquanto eu me debatia embaixo dele buscando algo que o tirasse de cima de mim.

Bia: Você vai me matar-sussurei em desespero, ligeiramente tonta com a falta de oxigenação 

Gilmar: Eles sofrerão a pena de destruição eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder

Quando meus pulmões começaram a doer e tudo começou a ficar embaçado eu escutei uma movimentação na porta junto do barulho do que parecia ser um tiro, as mãos que impediam o ar de entrar sumiram do meu pescoço junto do peso em meu tronco.

Cobra: Quem vai te matar sou eu seu filha da puta-foi a última coisa que eu escutei antes de apagar






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