Capítulo 2

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A caminho de sua casa,Ellen se deu conta de que a viagem de uma hora estava mais longa do que nunca.
Desanimada,guiou seu carro sem reparar nas pastagens verdes que se estendiam pela lateral da rua.
A primavera em Boston,era a estação mais bonita do ano,era tempo de renovação e de esperança,quando era criança,sempre rezava que cada primavera trouxesse uma possibilidade de mudar as coisas. Infelizmente estava desacreditada daquilo.
Na frente da antiga casa, desligou o carro e saiu lentamente,em segundos,uma menina desceu correndo os degraus gastos da escada de madeira e voou para ela. Ellen
sorriu e lhe abraçou com força,mas a irmã se  desvencilhou depressa.

- Você quase se atrasou!O almoço está pronto e papai disse que íamos comer sem você.

Ellen puxou as trancinhas da irmã,a provocando.

- Se já estamos atrasadas para o almoço, Lexie,como a senhorita pode estar aqui ao invés de estar lá dentro ajudando?

Lexie sorriu,marota,já estava com doze anos e parecia que a cada vez que Ellen voltava para casa a irmã estava crescendo cada vez mais.

- Eu estava ajudando enquanto esperava por você. - animada,segurou Ellen pela mão e puxou para dentro. - Papai  está bebendo de novo,essa semana perdeu dinheiro no jogo,escutei a mamãe brigando com ele. - contou seriamente enquanto subiam os degraus gastos. - Mas não comenta nada com a mamãe,senão ela vai brigar comigo.

Já dentro de casa,Lexie ouviu a voz da mãe,que havia escutado o que ela dissera.

-  Por que você não pára com as fofocas e começa a ajudar?

- Eu também posso ajudar. - Ellen disse pendurando o casaco no gancho atrás da porta . - O que querem que eu faça?

Suzan deu um beijo em Ellen e foi até o fogão e levou o assado para a mesa.

- Não precisa ajudar. Lexie pegue os talheres,por favor. - sem perder tempo,colocou a travessa na mesa. - Essa menina só quer ficar no celular...

- Faz parte da adolescência,já fui assim. - Ellen sorriu.

- Mas ela está demais, Ellen. Agora deu em confrontar o seu pai.

- Também pudera,ela está vendo ele se afundar em dívidas e na bebida.

Suzan não disse nada por alguns segundos.

- Eu vou chamar ele para almoçar.

Ellen nem precisou perguntar onde estava o pai. Os dias de domingo seguiam uma rotina inalterável,sempre com bebidas.Lentamente, foi até a pequena sala ao lado da cozinha e encontrou Tatcher sentado na espreguiçadeira,assistindo a
televisão que Ellen dera de presente no Natal para a família.

- Oi,pai. O almoço está pronto.

Tatcher pausou o programa que assistia no YouTube. " Como ser um ótimo apostador". Coçou a cabeça irritado e olhou Ellen de cima a baixo.

- Eu ouvi.Não recebi seu cheque este mês, mocinha.Você não está se esquecendo de onde veio,está?

Ellen olhou ele em silêncio.Talvez algum dia deixasse de se impressionar com a capacidade dele de menosprezá-la. Quando criança,o via como um homem grande e poderoso,porém a maturidade e tendo que sustentar a casa com sue ganhos desde cedo lhe trouxeram uma visão mais realista.
A vida regada ao alcoolismo estava o destruindo,estava com os pés inchados e a barriga cada vez maior,não era mais um homem forte,era simplesmente um homem, cuja única força vinha do hábito de conduzir a família com punhos de aço.
Ellen só continuava a ir para casa mensalmente por causa da madrasta e de Lexie.

A vida é um jogoOnde histórias criam vida. Descubra agora