Capítulo 41

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Desde que se tornara pai,Patrick não conseguia associar o pai de Ellen a uma criatura tão insensível,mas só um cego não notaria seu desprezo pela filha mais velha. Era difícil de entender,já que Maddie,sua filha era seu mundo. E por causa de Maddie ele também se tornara um homem mais sensível,por esse motivo que pensou duas vezes depois de abrir a porta pedir que Tatcher se retirasse.
Analisando bem,o homem parecia muito mais velho desde que o vira a primeira vez,uma aparência de doente e desamparado. Parecia também tomado de culpa e arrependimento.

- Se for da sua vontade peço que ele se retire. - Patrick murmurou para ela.

Ellen mordeu o lábio e seu olhar se encontrou com o do pai,parecia que se viam pela primeira vez. Ela também reconheceu o ar cansado dele.

- Eu...eu... - Tatcher começou a falar,nervoso de início. - Não quero atrapalhar em nada. Só quero te dar uma coisa Ellen. - enfiando a mão no bolso da calça social, puxou uma gargantilha de prata com um pingente.

- Eu avisei todos os convidados que não queremos presentes. Se o senhor quer ser gentil,pode fazer como os demais convidados e doar uma quantia para uma das instituições que estavam no convite. Esse é o único presente que queremos de casamento.

Tatcher teve que segurar firme as mãos trêmulas para que o colar não caísse.Ele sacudiu a cabeça.

-  Isso não é um presente de casamento; É algo que eu tenho certeza que sua mãe ficaria feliz se você usasse. Ela usou quando se casou comigo.

Ele a puxou pela mão com delicadeza e Ellen o olhou,nunca recebera aquele olhar
dele e sentiu o coração bater mais forte.

- Me perdoa, Ellen. - ele fechou os olhos e ela viu a dor insuportável em seu semblante.  - Eu fui um... idiota. Tantos anos desperdiçados. Minha culpa...Minha culpa.

Ellen começou a tremer e bater o queixo. Sentia um grande nó na garganta e
não conseguia fazer com que aquilo desmanchasse.
Incapaz de falar,devido as suas emoções,olhou para Patrick com a visão
borrada de lágrimas.
Uma vida. Uma vida de anseios,mágoas e esforço inútil,com o pai sempre lhe negando amor. Um amor que ela merecia assim como Lexie que ele fazia questão de dizer que era a razão de seu viver. A irmã não tinha culpa,Ellen a amava demais. Mas não era justo!

Fitou o pai,sentiu a mão pesada na sua, e tantas emoções conflitantes surgiram em seu peito, capaz de lhe dificultar a respiração...raiva e aceitação,ressentimento e alívio,tristeza insuportável e a alegria mais doce imaginável. Tudo misturado. Alegria por saber que naquela noite certamente sua mãe em qualquer outro plano estaria feliz por ela. Feliz pela família que ela estava construindo. Aquela família que certamente ela um dia idealizou para si.
Parte dela queria gritar e se revoltar contra a injustiça daquilo tudo,contra a crueldade de ter que ter amado sua mãe a distância,na medida que ela foi crescendo não lembrava de mais nada.

Lágrimas escorreram do canto dos olhos de Tatcher,encharcando a barba grisalha crescida e para surpresa de Ellen ele largou seu braço e ergueu a mão acariciando seu rosto. Ela sentiu o coração partir em dois pelo gesto.
Patrick observava atentamente a espera da reação dela,até que ela não mais suportou a pressão da mão do pai e cessou o carinho retirando a mão de seu rosto.

- Eu não consigo...Por favor não me peça perdão...

Patrick fitou o rosto imóvel de Tatcher,sentiu a respiração dele enfraquecer.

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