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Era por volta de oito horas da manhã em Buenos Aires, normalmente a cidade já estaria movimentada mas, em um domingo eram pouco os ruídos que adentravam pelas janelas esquecidas abertas na noite anterior. Helena acordou primeiro, sentindo os primeiros raios de sol tocando gentilmente sua pele a esquentando de forma sutil, mas o suficiente para despertar.

Lentamente ela se levantou e foi para o banheiro fazer suas higienes matinais. Ao voltar ao quarto, se sentiu arrasada quando olhou para a sujeira de vidro estilhaçado pelo chão e mais alguns objetos que foram arremessados. Tentou organizar um pouco, colocando algumas peças em seus devidos lugares, mas o estrago foi grande, e o preço com certeza seria alto. Se sentia angustiada, abalada, e uma lágrima grossa de dor, desceu pelo rosto ao lembrar as palavras carregadas de maldade, ironia que a medica pronunciava estampando um belo sorriso de sarcasmo. "Ah, mas isso não vai durar muito... César não é homem de uma mulher só... Além dos casos com as médicas eu conheço bem a fama entre suas assistentes". Helena fechou os olhos com força e os apertou, sentiu o estômago embrulhar quando um frio mortal percorreu seu corpo se aprofundando em sua espinha a dor naquele momento era física. Lembrou do dia do seu casamento, do momento em que César fez o juramento, "Prometo estar contigo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-te, respeitando-te e sendo-te fiel em todos os dias de minha vida, até que a morte nos separe. Recebe esta aliança como sinal do meu amor e da minha FIDELIDADE". Fez questão de dar ênfase na última palavra, pois sabia o quanto significava para Helena, e ele quis tornar isso público, quis que todos soubessem que somente por ela, ele seria fiel, ela tinha esse poder sobre ele, e por ela, ele faria o possível e o impossível. E mesmo se lembrando desse lindo dia, ela se sentia vulnerável, insegura, mesmo sabendo que ele havia prometido, o passado sempre voltava para assombrá-la por mais que ela soubesse disfarçar muito bem, a insegurança era enorme dentro de si. E com as palavras traiçoeiras que Betinha havia dito, ela não suportou, se agachou colocando a cabeça entre os joelhos e desabou a chorar. Estava sentindo-se sufocada, seus soluços eram tão audíveis que ecoavam pelo quarto, despertando o marido que tinha o sono leve.

César: Helena? Chamou por ela, assustado.

Helena: Me abraça, César!

César: O que aconteceu meu amor? Porque esta gelada e tremendo?

Helena: Eu estava lembrando do que a Betina falou ontem no restaurante... E numa coisa ela está certa... Eu sei que me prometeu fidelidade, mas conhecendo sua fama entre as mulheres, entre suas assistentes, eu ... Ele a interrompe.

César: Shiiiiiu...Ele a toca nos lábios. Não fala nada! Ele a abraça apertado, querendo afastar qualquer tipo de insegurança. Vem cá! Ele a leva no sofá e a coloca sentada em seu colo. Eu sei que errei, errei muito. Errei com minha falecida esposa, com a Laura, Luciana entre outras... Mas com você é diferente, sempre foi... você é meu verdadeiro amor...Depois que você me abandonou pela segunda vez, eu tranquei meu coração e joguei a chave fora... Infelizmente eu te procurava em todas elas...Ela o interrompe

Helena: Não, por favor! Eu não quero falar sobre isso, não agora! Ela se levanta do colo dele e passa as mãos sobre o cabelo na tentativa de afastar os pensamentos e a dor em seu peito, caminha para o outro lado do quarto ficando longe de César.

César: Mas uma hora vamos ter que falar, e porque não agora?

Helena: Não estou preparada! Disse sendo sincera, realmente ali não era o local para que colocassem seus monstros para fora. Então por um momento, ela encostou a cabeça na grande porta de vidro e fixou o olhar num ponto qualquer do lado e fora e o que ela mais queria era não se lembrar, mas não teve como, estava tudo muito nítido.

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