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Helena deu as costas a ele indo em direção a porta quando ouviu seu nome ser chamado.

César: Helena? Ela virou-se de frente para ele, e, ainda, estando brava, encarou o marido. Eu te amo, nunca se esqueça. Ele jogou um beijo no ar, e saiu do quarto.

César atendeu o telefone, e, como a filha já havia dito, era sua secretária Cris, o informando que o paciente que estava em observação tinha piorado. Então, depois de se despedir da família, ele se dirigiu para a clínica.

Algumas horas se passaram depois da saída de César, pelo que, logo se aproximava o horário do almoço. Helena estava ansiosíssima para encontrar com suas irmãs e principalmente poder rever sua caçula. Haviam marcado encontro no mesmo restaurante de sempre no bairro do Leblon. Mais tarde, estando ela a caminho, não sabe como, mas acabou desviando o trajeto do restaurante e só se deu conta quando estacionou o veículo em frente a clínica.

Helena: O que eu vim fazer aqui?

Desceu do carro e estranhou quando olhou ao redor e não avistou o carro do marido. Questionou-se mentalmente: "Ué, César disse que teria cirurgia agora pela manhã. Será que aconteceu alguma coisa com o carro?". Após descer de seu carro, acionou o alarme do carro, guardou as chaves na bolsa e caminhou em passos largos adentrando a recepção da clínica, sendo alvo de olhares curiosos.

No andar do consultório novo de César não havia ninguém na recepção, então, como o habitual, ela entra na sala sem ser anunciada, pois tinha esperanças de encontrar o marido e fazer uma surpresa. Logo ela abre a porta, vagarosamente, e, sem fazer nenhum ruído, se posiciona no centro da sala, deparando-se com Tereza de costas para ela conversando, animadamente, com alguém ao telefone.

Tereza: Eu tenho certeza que esse casamento não vai durar muito tempo não. Sim, claro, eu também penso assim... Uhumm... Não vai demorar muito para ele enjoar daquela sem sal, acho até que já começou. Você precisa ver o mau humor que ele está vindo trabalhar, uma cara péssima. Você sabe, né?! César, nunca foi homem de uma mulher só. Mesmo casado traía a mulher dele. E aqui na clínica mesmo ele já passou o rodo... Hahahaha. Só eu que não tive esse privilégio, AINDA, mas ele vai ser meu, escreva o que estou lhe dizendo, ah se vai... Hoje mesmo já vou começar a entrar em ação... Ele tem uma cirurgia extensa no final da tarde, e sempre que isso acontece, ele precisa que alguém lhe faça uma massagem após, aí que eu entrarei em ação. Sim, hoje mesmo... Torça por mim, mais tarde te ligo. Agora preciso desligar. Outro beijo para você.

Helena vai sentindo o sangue ferver e subir. Uma forte onda de pensamentos desconexos invade sua mente. Cada palavra pronunciada pela rival, vai adentrando em seus ouvidos sem nem conseguir fazer o processamento correto delas. Ficam apenas soltas: "Ele vai ser meu... César... Massagem... trair... César meu...". Foi engolindo a seco cada som que saia da boca amarga da médica. Helena vai sentindo o coração acelerar, as mãos suar frio e uma forte náusea. Mas mantém-se firme, em pé, numa postura rígida e intimidadora porque não queria dar o gostinho para o inimigo. Então, ela decide acabar logo com toda aquela cena patética. Helena pigarreia fazendo um alarde e chamando a atenção da médica. Tereza que estava atrás da mesa de César, de costas para Helena, finaliza a ligação e se vira assustada. Ela gela de imediato e no rosto uma expressão de confusão se instala, quando vê Helena parada atrás de si, com um sorriso largo nos lábios. Tereza presume o que ela deve ter ouvido. No entanto, para sua surpresa, Helena não esboçava nenhum tipo de reação a não ser um belo e simpático sorriso nos lábios, embora sua vontade fosse socar a cara cínica da médica, gritar, esbravejar. Mas ela possui uma invejável postura de mulher de classe, ela tenta ser racional, e opta por manter a razão. Não era o momento para fazer uma cena, não agora e não no estado em que se encontrava. Seus bebês eram sua prioridade, e colocá-los em risco seria de uma imprudência que não pertencia a ela. Tereza recua o corpo para trás como se quisesse proteger-se do olhar penetrante da professora, e ela adora isso. A tensão paira sobre o ambiente, deixando-o pesado.

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