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Gabriel e eu tomamos banho juntos e descemos pra sala de TV, ele tinha pedido japa e organizado a sala com uns colchões e cobertas pra gente ficar confortável:

- Assim fica bom Jujuba? - disse me mostrando o que tinha feito com os colchões orgulhoso

- Aconchegante, me lembra de quando eu era criança e fazia isso na casa da minha avó com meus primos - meu semblante caiu

- Vem cá - ele sentou e me chamou pra que eu pudesse me acomodar no meio das suas pernas e me envolveu com um abraço e vários beijinhos pelo ombro e pescoço - você disse que tinha um defeito de fábrica, quer conversar sobre isso? Ou melhor agora não?

[gatilho]
- Bi, vou ser sincera como eu nunca fui em toda a minha vida - me virei o encarando - depois que você me ouvir talvez queira me deixar. Vou te contar do início ok? - ele assentiu com a cabeça

- quando eu comecei a faculdade conheci um professor que dava aula a uns semestres a frente do meu, começamos a conversar sem nenhuma intenção, ele era incrível, me fazia me sentir a melhor mulher do mundo sabe; eu era nova aqui então não conhecia muitas pessoas e ele virou meu ponto de paz, sempre me chamava pra sair até que um dia eu resolvi aceitar, saímos. Isso foi ficando mais frequente e intenso, foi rolando entre a gente - Gabriel me observava com atenção enquanto fazia carinho em uma das minhas mãos

- e foi ficando mais sério, veio o pedido de namoro e eu aceitei, nosso relacionamento era ... perfeito. Nossos horários não batiam muito então ele me convidou pra que eu morasse com ele e assim eu fui; a partir daí as coisas começaram a mudar, mas a mudança eu pensava que era só amor e cuidado... começou com a implicância por eu usar uma calça jeans mais justa, depois pros trabalhos em grupo; até que um dia eu fiquei de esperar ele pra irmos juntos pra casa e peguei ele beijando uma mulher no estacionamento. Fui pra casa sozinha nesse dia e ele chegou enfurecido, dizendo que eu estava com outro quando joguei na cara dele o que tinha visto, o primeiro tapa veio - senti as lágrimas molharem meu rosto

- ele me pediu desculpas dizendo que a culpa era minha por ter duvidado dele e me fazendo me sentir maluca; flores no outro dia e muito amor... uma semana depois a mesma situação, gritos, apertos no braço, roxos por todo lado, empurrões na parede, embromas ... e ele sempre me fazendo acreditar que a culpa era minha. Eu fui me apagando aos poucos, não tinha mais amizades, não tinha vida social, não falava mais com meus pais, tudo que eu tinha era ele que sempre fazia questão de deixar bem claro que ninguém iria gostar de mim, que eu falava demais, que meu jeito irritava as todas as pessoas. que eu não era suficiente, que eu era louca e jamais teria outra pessoa além dele. Um dia ele encontrou a mensagem de um colega no meu celular pedindo pra que eu mandasse um trabalho já que ele tinha faltado, Gabriel eu fui parar na UTI - eu chorei mais do que já estava ao lembrar de tudo isso

- a polícia prendeu ele, eu fui algumas vezes prestar depoimento e na audiência e depois disso nunca mais tive nem notícias, eu sai daquele hospital tão quebrada, tão magoada. Ele arrancou pedacinhos de mim que eu nunca mais encontrei e nunca vão ser preenchidos - sequei minhas lágrimas com uma das mãos

- e eu fiquei sozinha nessa cidade enorme, não podia contar com ninguém, entrei em uma depressão profunda, desenvolvi crises de ansiedade e pânico... foi quando decidi transferir a faculdade e recomeçar, quando por sugestão da psicóloga eu gravasse minha rotina pra me distrair, aí que eu conheci sua irmã e seus pais.. e assim eu fui me recompondo e a partir daí jurei nunca mais deixar alguém se aproximar de novo, nunca mais ter outra pessoa pra me quebrar - eu chorava tanto nesse momento que até soluçava

- Julia vem aqui, meu Deus - tinham umas lágrimas no seu rosto - Você é uma mulher tão forte e incrível, que não consigo nem mensurar em palavras, você é digna de todo o amor e felicidade desse mundo. Se você achar que está se arriscando demais comigo nós podemos parar aqui e seguir amigos, mas eu não quero nunca mais te deixar se sentir sozinha tá me ouvindo? - ele me afastou pra que pudesse me olhar e enxugar minhas lágrimas - os seus problemas não definem quem você é tá bom? Você não tem defeito de fábrica e eu te aceitaria com eles ou com mais um milhão deles; eles fazem você ser essa mulher incrível.

- Gabriel, eu nunca disse isso antes. Eu me sinto bem e segura com você, não quero de forma alguma me afastar - segurei suas mãos e apertei - pelo menos não por agora, mas se um dia acontecer... espero que me entenda.

- Mas quero que saiba que você é livre pra ir ta bom? Não se sinta presa e não tenha medo de me dizer o que sente ok? Eu sempre Julia, sempre vou tá aqui pra te ouvir, te ajudar e te respeitar.

- Tá bom Bi, desculpa por toda essa confusão. Você é um homem maravilhoso, tia Lindalva deve ficar orgulhosa por ter te criado tão bem - juntei nossos lábios em um beijo lento.

As palavras do Gabriel me atingiram como uma flecha. Como pode caber tanto amor e consideração dentro de uma pessoa só; eu não sei se nós dois vamos pra frente mas nesse momento sei que posso contar com ele. Nós ficamos ali abraçados por um tempo até que eu me acalmasse e quebrasse o silêncio:

- Você viu que a gente saiu em site de fofoca né? - disse rindo

- Os cara me cornetaram a tarde toda Ju por isso, sério - ele sorriu - não sei da onde surgem essas fotos cara

- Olha se eu soubesse tinha colocado uma roupinha melhor, soltado o cabelo... imagina ser vista do lado do 10 do Flamengo feia, Deus é mais - disse fazendo com que ele sorrisse - e como estão as coisas lá?

- Complicadas, eu tô treinando feito um doido pra dar o meu melhor no jogo do Vasco - disse preocupado

- Posso ir? - pedi fazendo beiço

- Num clássico desses? nunca no Brasil, vai ficar em casa segura e salva.

- ué não dá pra ir por que? - questionei pois não sabia o que acontecia

- Teu palmeirense te deixava ir em clássico? - me olhou com um arzinho debochado

- Ciúme uma hora dessa Gabriel Barbosa - eu sorri - fui em poucos jogos deles, uns dois ou três mas os camarotes lá do Allianz são outro patamar - disse animada - mas ainda não me disse o porque de eu não poder ir

- É coisa chique mesmo Ju, fui lá já. Da muita confusão, ainda mais que os vascaínos vão disputar esse jogo como se fosse copa do mundo, não é bom assistir lá no estádio, as torcidas geralmente se confrontam - ele acariciou meu cabelo - te quero bem e segura

- Ok então né jogador, se tu tá dizendo vou torcer por você lá de casa - fiz beicinho

- Não faz essa carinha pra mim que tu me ganha mais ainda julinha - ele me deu um selinho demorado - chama a Dhiô e vão me buscar

- Eeeeee - comemorei juntando nossos lábios pra um beijo - por falar em Dhiô, ela nunca te disse nada do que aconteceu comigo?

- Em partes, meio por cima daquele jeitão dela sabe. Toda preocupada com seus sentimentos - ele me encarou

- ela me conhece melhor que ninguém - sorri - ela te alertou pra tu não se tomar um susto

- Na real Ju, eu já tinha percebido um certo receio teu mas isso a gente vai trabalhando aos poucos, não se preocupa com isso agora tá? - colocou uma mexa atrás da minha orelha - enquanto eu tiver por perto nunca vou deixar nada de mal acontecer contigo, nada - me abraçou apertado.

Escolhemos um filme, jantamos e ficamos por ali. Gabriel logo adormeceu deitado no meu peito enquanto eu acariciava seu cabelo. Era estranha a sensação de estar junto com alguém não só por sexo, não estava acostumada com isso. O Joaquim tentava se aproximar e eu sempre fiquei na defensiva com medo do que poderia vir assim como eu estou agora; eu sinto um misto de sentimentos como se o Gabriel fosse vacilar comigo a qualquer momento e eu sei que posso estar enganada, mas talvez essa minha insegurança me faça por um ponto final nisso tudo.

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Oi mores

Dois capítulos hoje.

Ontem fiquei refém do jogo terrível do Flamengo 😭😮‍💨

Espero que estejam gostando ❤️ beijos

Minha Cura | Gabriel Barbosa Onde histórias criam vida. Descubra agora