Minha Cura | Gabriel Barbosa

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Gabriel Barbosa

Estamos em casa, mas dessa vez é diferente. Com a Liz no meu colo vestida em um macacão todo do Flamengo e uma mantinha bordada com o escudo do flamengo.

O quartinho dela, todo roxo. O tema safari ficou na nossa casa antiga, aqui optamos por algo mais a cara dela, ou de como esperamos que ela seja, e que ela goste.

A Julia está bem cansada, vou deixar ela descansar e ficar de olho na Liz. Ela parece um pacotinho todo embrulhada e encolhidinha, de vez em quando dá uma mexidinha mas é calma, quase não chora.

Pedimos que esse momento da nossa chegada em casa fosse um pouco mais íntimo, só nós três para que pudéssemos tentar aprender a nos virar.

Antes dela nascer eu e a Ju fizemos umas aulas de pais de primeira viagem, até que me sai bem. Melhor do que eu esperava na verdade. Allan, Luiz, Filipe, Bruno, David, todos me deram várias diquinhas de coisas que poderiam me ajudar nesse momento e sempre frisar que é importante eu manter a calma já que o momento é de alegria mas o puerpério da Julia é delicado.

– Olha só filha, esse aqui é o seu quartinho – Abri devagar a porta do quarto – Olha, sua visão sei que ainda é um pouquinho embaçada mas papai vai descrevendo as coisas pra você tá?

Ela deu um sorrisinho de canto, muito esperta mostrando que tá entendendo tudo.

– Esse aqui é o seu closet, sua mamãe fez pensando já na sua adolescência e como bem antes de você chegar já tinha muitas roupinhas um guarda-roupas não seria o suficiente. Tá vendo esse manto aqui? Esse aqui tá assinado pelo tio Zico, é ele é o maior filha, o maior, quando você estiver maiorzinha papai te leva pra conhecer ele.

– Aqui fica o seu banheiro com seus perfuminhos e suas coisinhas. Seu primeiro banho foi lá no hospital e a gente ficou super nervoso, mas vai dar certo né. E esse aqui é o seu quarto, todo em tons lilás, lá na outra casa era tudo de Safari, mas eu e a mamãe achamos melhor assim, você gosta?

Mais uma vez ela deu uma mexidinha, como se me dissesse que concorda.

– Aqui esse enfeite, foi o tio Matheuzinho que presenteou. Seu nome em LED acende, coisa mais fresca. Eles estão todos ansiosos pra te visitar logo. A gente também colocou essa cama aqui pra poder passar a noite com você caso precise.

– E essa, essa é nossa cadeira de balanço, com vista lá pro mar. Sabia que ela já foi do papai? Sua avó mandou de Santos pra cá especialmente pra você, a gente deu um upgrade nela com essas almofadas, aqui você vai tomar vários mamazinhos.

– Sabe filha, não sei se você entende tudo o que eu digo, mas eu espero que sim. Estou tão feliz por te ter finalmente em meus braços, desde que você chegou, na verdade desde que soubemos de você nossa vida mudou. Você tem um irmãozinho que hoje é um anjinho e mora lá com o Papai do Céu e temos você que veio pra ser nosso arco-íris.

E depois de uma longa conversa, balançando na cadeira com ela vidrada me olhando, adormeceu.

O sentimento de ser pai muda muito a gente. Eu era inseguro, imaturo e às vezes meio irresponsável e depois que a Liz nasceu foi como se tudo isso tivesse ido embora, é como se a cada passo que eu dou agora eu penso nela e na Julia, penso que preciso ser melhor a cada dia pela minha família.

A Liz, é perfeita. A cara da mãe, o nariz puxou o meu mas de resto? Os cabelos pretos lisos, os olhinhos pequenos e castanhos, a boca bem desenhada, a Julia todinha.

Julia

Chegamos em casa.

Me sinto vazia e cansada, muito cansada. São três noites sem dormir direito fora que o meu corpo é um completo vazio, como se meus órgãos fossem sair pra fora a qualquer momento. É estranho não ter a Liz me chutando pra todo canto.