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— Fábio — Dou um grito de dentro do banheiro chamando o homem que deve estar no quarto ao lado.

— Ju, tá tudo bem? — ele bate de leve na porta indicando que está por ali.

— Pode abrir, arruma uma roupa pra mim. Preciso ir no hospital, liga pra obstetra daqui.

— O que tá acontecendo? — Me olha preocupado dando alguns passos pra dentro do banheiro e agora pouco me importa se estou nua ou não.

— Eu tô com um sangramento Fabinho, pega um vestido qualquer nos cabides e trás aqui pra mim.

— Vou avisar o Gabi.

— Não! Agora não, ele tá concentrado. O jogo é daqui a pouco e não quero deixar ele preocupado sem antes saber o que tá acontecendo tá?!

— Tudo bem Ju.

Ele saiu do quarto mais preocupado do que eu e pegou a roupa assim como eu pedi. Pegou a minha bolsa e meus documentos, me ajudou a descer a escada e a entrar no carro.

Sei que sangramento nessa fase da gestação não é comum, podem ser milhões de coisas e isso me preocupa de várias maneiras. Não consigo chorar, não agora. Penso no Gabriel e em todos que estão envolvidos e no caminho ao hospital só peço a Deus pra que tudo esteja bem com a gente.

Fabio dirige em silêncio, preocupado. A todo tempo me olha pra verificar se eu estou bem. Ele tem uma mania estranha de apertar os dedos quando está nervoso e nesse momento ele pressiona tanto o indicador que está quase roxo.

— Ei, fica calmo tá? Já estamos chegando, vai dar tudo certo Fabinho.

— Não dá, eu sei por tudo o que vocês passaram da primeira vez. Eu fico sei lá, sabe.

— Sei sim, mas vai dar tudo certo, tá bem? Deus sabe de todas as coisas. Estou calma pra não surtar agora, deixar pra hora certa.

Estacionamos no hospital e a obstetra nos aguarda na recepção.

— Ju? Vem, senta aqui na cadeira, vamos subir para a ultrassom e verificar o que tá acontecendo.

Fabinho me acompanha empurrando a cadeira de rodas pelo hospital. É estranho andar por esses corredores como paciente, já salvei tanta gente por aqui e hoje é minha vez.

Me posicionei na maca com a ajuda da enfermeira, ela espalhou o gel pela minha barriga e começou a ultrassom.

— Bem, vamos ver. Aqui está o bebê, os batimentos normais, fortes. Vamos verificar sua placenta. — Ela move o aparelho por toda a minha barriga — Aqui tá vendo? Bem pequeno aqui? Um leve descolamento Julia.

A partir desse momento o mundo ficou em silêncio pra mim e a única coisa que ecoa na minha cabeça são os batimentos cardíacos do meu filho. Deixo o som me relaxar, seguro o choro pra ficar bem. A gente precisa ficar bem.

— Olha só mãezinha, como você bem sabe isso pode ser causado por diversos fatores — Ela limpou o gel da minha barriga.

— Só pode deixar o coração batendo enquanto você me explica? Me acalma um pouco — Nesse momento me lembrei de observar o Fabio que está em lágrimas no canto da sala.

— Claro, posso sim. Você tem um leve descolamento prematuro da sua placenta, não é grave mas é preocupante. Pode ser causado por estresse, esforço, essas coisas sabe?

— Sei sim, mas o bebê?

— Está ótimo, crescimento normal, batimentos fortes, fora de perigo. A partir de hoje te quero em repouso absoluto, nada de estresse, esforço, caminhadas longas por algumas semanas ok? Vou te passar uma medicação leve e quero você aqui de volta daqui 7 dias pra gente verificar a situação.

Minha Cura | Gabriel Barbosa Onde histórias criam vida. Descubra agora