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|Julia|

De volta a minha casa, preciso dormir uns dois dias seguidos e é isso que eu vou fazer. Na semana que vem entrego minha conclusão da residência e preciso decidir o que vou fazer da vida: se paro com a medicina e continuo influencer, se abro uma clínica, se arrumo emprego em algum time... enfim o problema. Mas vou deixar pra me preocupar com isso quando for o momento.

Dhiovanna já me ligou querendo sair pra fazer alguma coisa. Acho incrível como essa garota não consegue parar quieta em casa. Organizei as coisas que estavam na mala no lugar, tomei um banho e dormi; decidi que iria ficar em casa mesmo até o dia do jogo e assim eu fiz. Minha amiga surtou com certeza mas graças a Deus estou descansada e pronta pra enfrentar a semana; nada paga a paz de estar em casa vendo Netflix, dormindo, comendo, tudo numa boa.

[...] Já é o dia do jogo, entreguei meu trabalho de conclusão no e-mail da banca e agora só aguardar o resultado e a cerimônia de formação. Durante o final de semana Gabi curtiu algumas fotos minhas BEM antigas mas fiquei na minha, hoje com certeza a gente vai se trombar. Liguei pra Dhiovanna pra saber como iríamos fazer pra ir pro Maracanã:

- Oi linda

- finalmente deu as caras em julia, mó sofrimento sem falar contigo em

- eu precisava descansar amiga, pensar na vida - ela sorriu do outro lado da linha - e o jogo hoje tá de pé?

- quando que tu me viu desmarcando alguma coisa contigo? Nunca né, claro que tá

- muito doce graças a Deus né diovanna, eu não tenho camiseta do Flamengo

- vem pra cá, se arruma comigo aqui, vamos pegar uma no quarto do Gabi ele tem milhões... aí vamos com teu carro pra lá

- vou pegar uma roupa, comer aqui e tô indo pode ser?

- amiga só falta tu trazer o resto das suas roupas pra cá porque tem tudo aqui, minha mãe tá aqui amiga tem comida, vem logo tô te esperando, tchau

- beleza, tchauzinho

Eu amo minha amizade com a Dhiovanna, foi bom nós duas termos nos reaproximado, a família dela também é incrível... com excessão do Gabriel. Arrumei minhas maquiagens e perfume numa necessaire, peguei minha bolsa e parti pra lá.

Estacionei e a tia Lindalva já veio correndo abrir a porta da garagem:

- Julinha meu amor - ela sorriu e veio na minha direção

- Oi tia, quanto tempo, saudade

- a tia tava morrendo de saudade, como você tá linda - ela me abraçou apertado e se afastou me observando - tá magrinha em, vem a tia fez bife com batata frita mas não conta pro Gabi

- aí tia que delícia, tô com fome - sorrimos - pode deixar não conto não - mal sabe o que eu dei uns beijos no filho dela

- e a faculdade filha? Como que tá?

- Entreguei meu trabalho da residência hoje tia, só esperar a avaliação e a cerimônia de conclusão - contei animada

- Você é uma mulher incrível Júlia, responsável, inteligente, linda, podia ser minha nora né, colocar juízo na cabeça do Gabriel - ela me olhou seria afastando a cadeira da mesa pra que eu pudesse sentar

- Minha mãe já te tietando julia? Deixa a menina respirar mãe - graças a Deus a Dhiô desceu e interrompeu o assunto terrível que a tia queria começar

- Deixa ela Dhiô, a gente tá papeando aqui sobre a faculdade - disse dando um beijinho nela

"Almoçamos" e conversávamos sobre a vida; a tia queria umas receitas de um pãozinho e um bolo que eu sei fazer e que o Gabriel ama. Aposto que quando ele comeu não sabia que eu quem tinha feito, se não não tinha comido. Subi com a Dhiô e ela me deixou no quarto do Gabriel pra escolher uma camiseta, já estive aqui antes então aproveitei e me maquiei aqui mesmo já que se arrumar com ela é sempre uma disputa de espaço. Escolhi uma camiseta branca pra combinar com a legging preta que eu ia usar, ela fica um pouquinho grande pra mim mas de calça e tênis fica show... escolhi um boné azul também e ele poderia me matar por isso mas eu sou ousada. 

Queria ficar no meio da organizada já que era a minha primeira vez no jogo do Flamengo, sempre ouvi dizer que a atmosfera do estádio é coisa de maluco, mas segundo tio Valmedir como hoje é decisão é melhor a gente ficar de boa no camarote.

- Amiga e ai? Tô bonita? - perguntei pra ela me virando de costas e vendo o "GABI 10" no espelho

- Tá estilo mulher de jogador em Julia, já pensou se tu gosta - ela debochou

- Cala a boca, dois minutos pra eu tirar essa camiseta aqui em - revirei os olhos

- Tá linda cunhada, inclusive o Bi ama essa camiseta branca - ela sorriu

- Vamos Dhiovanna logo, já já eu te deixo - sai do quarto e ela veio atrás - pegou a credencial? Ou aqui é diferente do Allianz?

- A mesma coisa amiga, a gente só tem uma entrada meio diferente mas lá eu te mostro.

[...] Entramos no estádio e passamos pela entrada do vestiário, achei estranho mas só segui. A visão do campo era ótima, o Maracanã lotado me lembrei do Gabi dizendo: "todo mundo tinha um dia que colocar a camiseta do Flamengo e entrar no Maracanã lotado pra sentir aquilo"  e ele não mentiu, era coisa de maluco estar ali, eu fiquei toda arrepiada.. a torcida gritava:

- eu sempre te amarei, onde estiver eu estarei, ó meu Mengo. Tu és filho de tradição, raça, amor e paixão, ó meu Mengo..

- Tá emocionada fia? - Dhiô me abraçou

- Coisa de maluco isso aqui amiga, tô arrepiada olha - mostrei meu braço ela

- Tu não viu nada, hora que o jogo começar tu vai ver o que é cantar de verdade, Gabriel sabia que você ia gostar - ela me olhou de canto

- Gabriel? - disse confusa

- Sim amiga, ele queria muito que tu viesse ver o jogo. Ele ainda tá bravinho pelo rolê em SP mas isso aí vocês se resolvem depois - ela sorriu - seja bem vinda ao Flamengo

- obrigada por me apresentar isso - fiquei ali observando o jogo e encantada torcida cantando a todo minuto e pulando.

Eu sabia que o Flamengo vinha de uma série de derrotas de competições importantes e parte dessa culpa era da presidência e do técnico, os jogadores faziam o que podiam mas se a falha vem de lá não tem muito o que ser feito. Por causa do meu trabalho eu acabo sabendo de muitas coisas dos bastidores e isso me revolta de mil maneiras.

O jogo tava feio, muito feio. Ninguém conseguia finalizar, a bola só acerta trave, milhões de cruzamentos na área e ninguém consegue fazer ela entrar. A equipe meio perdida. O jogo seguiu, entrou o segundo tempo e nos últimos segundos, gol do Arrascaeta, não tenho coração pra uma prorrogação e muito menos pra pênaltis. Dito e feio, fim da prorrogação: pênaltis.

[...] perdemos, torcida tava enfurecida vaiando jogador antes de acabar e xingando o Gabriel e alguns outros, isso me revoltou tanto pois eu sabia de onde vinha a falha, a Giovanna teve que me segurar enquanto descíamos pra eu não me meter no meio de uma entrevista.

- amiga calma por favor, ser flamenguista é isso aí; amor e ódio fia. Tá parecendo um pintcher - ela riu

- aí cara nem sei o que falar - olhei indignada

- acontece, te prepara pro Gabriel, quando perde ele fica só o ódio e ele vai ter que ir embora com a gente - ela me encarou sorrindo de canto

- como assim? Não quero ir no vestiário não e muito menos levar ele embora

- infelizmente a opção não ir e não levar não existe hoje pra você linda - ela passou a mão no meu ombro - vem entra

- um dia eu ainda te bato.

O vestiário no maior silêncio do mundo, a gente não ouvia nem grilo. Os jogadores lembraram de mim, Ribeiro me deu um abraço avisando que ia pra coletiva. A Dhiô procurava o Gabriel:

- amiga vê pra mim se ele não tá lá nos banheiros

E eu na inocência fui, correndo o risco de achar o homem pelado. Entrei e chamei jurando que ele não ia estar ali:

- Gabi?

- Tô aqui - ouço uma voz lá do fundo e fui na direção dele.

Minha Cura | Gabriel Barbosa Onde histórias criam vida. Descubra agora