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|Gabriel Barbosa|

Tô aqui dentro da sauna vendo a Julia tirar as coisas dela de dentro do meu carro e colocando no outro que ela alugou — por pura birra. Na real eu sou um mané por ter saído, ter deixado ela sozinha aquele dia e talvez levado pro coração o que ela disse.

Tô sentindo uma dorzinha lá no peito, aquela sensação de frio na barriga de quando se está perdendo alguém aos poucos sabe? Eu não consigo decifrar essa mulher, nem se eu tivesse uma bola de cristal. As vezes ela me olha e eu sinto como se a tivesse por inteiro pra sempre e as vezes ela me olha e eu sinto que ela tá indo aos pouquinhos.

Inseguro, acho que é assim que me sinto agora.

A luz do meu quarto está acesa, vou subir e ver o que tá acontecendo. Andando aqui e pensando que essa casa é um completo vazio sem ela, tudo aqui tem um toque de Julia; as flores nos vasos, os livros decorativos que ela rodou esse RJ inteiro atrás, o quadro feito a mão com minha foto no hall de entrada escolhido por ela, as louças dela no armário da cozinha, até os gabigolzinhos escondidos por aqui...

Entrei quieto, e ela tá aqui no closet. Me escorei na porta e estou aqui a observando e como sempre linda, radiante, vestida num vestidinho branco e sem sutiã, deixando o corpo dela todo desenhado, o cheiro do seu perfume tomando conta de todo o closet.

E ela tá sim, arrumando minhas coisas. Talvez isso seja um dos milhares motivos que fizeram eu me apaixonar por ela. Cuidadosa, arrumando tudo como sempre fez por mim, nos mínimos detalhes.

— Tá devolvendo meu carro porque? — ela se assustou, como sempre.

— Agora você decidiu falar comigo? — ela sorriu no maior deboche do mundo, o que ela sabe fazer como ninguém.

— Me deu vontade agora mas ainda não me respondeu sobre o carro — eu sei que é por pura birra dela porque somos iguais e eu faria a mesma coisa.

— Não quero incomodar, vocês precisam do carro aqui e como eu estava sem decidi alugar um por enquanto — explicou evitando me olhar, olhando ela qualquer canto menos nos meus olhos, a única vontade que eu tenho agora é de correr e levar ela pra cama e dizer o quando eu amo essa mulher.

— Sabe que não precisava, podia continuar usando Ju... besteira isso de ... — pensei antes de dizer bobagem.

— Tá tudo bem Gabriel, eu só passei aqui pegar umas coisas — me respondeu ainda sem me olhar.

— Volta — foi a única coisa que eu consegui dizer.

— Pra onde? — ela quer me torturar sim.

— Pra cá Julia! Pra casa! — ate parede uma maluca, voltar pra onde.

— Já tá pronto pra sentar e conversar comigo sobre o que aconteceu? — eu fiquei em silêncio encarando o chão— não consegue nem me olhar Gabi... e pelo visto ainda não, quando pensar, estiver pronto sabe onde me encontra, suas coisas estão arrumadas aqui e você sempre me terá Bi.

Ela parou do meu lado, ficou na ponta dos pés acariciou meu rosto e beijou minha testa; fez o que eu costumo a fazer com ela. Eu não disse nada porque ainda não sei o que dizer, não por ego, por birra ou marra. Eu nunca quis tudo isso e talvez agora tenha que aprender a lidar com as consequências do que eu fiz. Ter saído aquele dia foi a maior besteira da minha vida.

Minha Cura | Gabriel Barbosa Onde histórias criam vida. Descubra agora