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Estacionei quase junto com o ônibus dos meninos, assim que me aproximei tô vendo Gabriel descer de casaco e touca — faz um calor do caramba aqui e do jeito que as coisas andam será que esse homem não tá com febre?

— Porque você tá todo tampado assim? — disse respirando fundo já que tive que dar uma corridinha pra poder alcançá-lo.

— Oi amor, eu tô bem também — sorriu segurando minha mão — Fora de forma né dona Julia nem parece que namora um atleta.

— Me poupe Gabriel Barbosa, quero saber o motivo disso tudo aí.

— Seus pedidos foram atendidos — arqueou uma sobrancelha e me deu um olharzinho sugestivo enquanto andávamos.

Caminhei ao lado dele em silêncio até a gente entrar no vestiário, cumprimentei todo mundo ainda querendo saber e que medo dele tá careca.

Tirou a touca.

Ele tacou o loirinho pivete com o manto Mengão, mirou no branquinho neve e acertou meu coração, tá lindo vida — cantei pulando no seu colo.

— Quando eu tô loiro? — sorriu empolgado.

Esquece — falamos juntos, em perfeita sincronia como duas cópias perfeitas da DJ Deolane Bezerra.

— Gostou?

— Mas é claro, eu, a nação e os meus shampoos agradecem por isso Bi, te amo — o beijei enquanto ele ainda me segurava — vou te esperar no estacionamento tá? Dhiô tá aí mas vai pra Santos assim que o jogo terminar.

— Sim senhora, muito curto esse shortinho em dona Julia — me analisou de cima em baixo.

— Não vou dizer nada pra não tirar sua concentração. Eu te amo tá? Vai lá e amassa eles por que quando você tá loiro esquece — o beijei uma última vez e sai.

[...] Final do jogo recebi uma notificação que tem uma reunião marcada com DM e diretoria após o jogo da libertadores e juro dependendo do resultado do jogo de quarta eu nem vou, se for é pra chutar o pau da barraca.

Que jogo horripilante, que tenebroso é ver Vidal entrando, Santos não passando confiança nem pra uma mosca, nosso DM lotado de novo, Léo Pereira lesionado fazendo gol, cara o que é isso.

Sim, já tem quase 2 horas que estou aqui esperando o Gabriel. Vendo tudo o que aconteceu com o Vinicius hoje no jogo contra o Valencia, isso mata qualquer ser humano por dentro! Quanta injustiça, quanta impunidade e vendo as pessoas se manifestarem só agora.

Ele passa por isso a muito tempo mas a comoção só veio por ele ter se revoltado. Jogo injusto! Juiz injusto! La Liga lixo!

Dito isso, volta pro Flamengo Vini!

Gabriel chegou, calado. Entrou no carro, só segurou minha mão meio frio e saímos, movimentação estranha e não é nada interno no time não, é comigo.

Conheço isso, já estive aqui outras vezes...

— Bi? Tá tudo bem? — tentei a sorte já que tô aqui me torturando tentando saber o que houve.

— Não Ju e não queria que a gente conversasse agora, tudo bem pra você? — disse baixo e calmo, como quem pensou em detalhes no que iria me dizer.

— Tudo bem, quando estiver a vontade já sabe — ele me olhou de relance e beijou minha mão, ainda frio.

Aí como eu detesto esses shows, vou me calar pra não acontecer como da última vez. Chegamos em casa ele subiu, ligou a musiquinha dele lá em cima e eu deitei aqui no sofá na sala. Vou seguir o conselho do Matheus.

Subi, as mãos suando e entrei devagar no quarto, ele tava sentado na poltrona de canto todo largado olhando pro teto.

— Posso ficar aqui? — perguntei falando alto quase gritando e ele só me olhou, alguém avisa que eu não tenho bola de cristal — Acho que não então vou subir lá em cima na sacada tá?

— Fica — segurou minha mão apertado quando eu ia saindo.

Não é que o manco tinha razão. Ainda não sei o que foi que eu fiz pra ele e não gosto dessa sensação de ficar me torturando com perguntas que só ele podem me responder mas também não quero ser chata.

Ele caminhou até a cama e no fundo tocava Acróstico da Shakira — sim gente, Gabigol ouvindo a rainha Waka Waka como ele chama ela. Mas eu tô entendo a mensagem subliminar dele, ela fez essa música aos filhos dela mas ela se encaixa perfeitamente entre eu e o Gabriel, no que a gente passa agora.

Ele se deitou do meu lado e dessa vez que deitou no meu peito, me abraçou apertado. Muito apertado. Como quem não quisesse que eu saísse daqui nunca mais, e eu quero rir por que estou mais confusa do que estava a dois minutos atrás mas também quero chorar por conta do filho da Waka Waka cantando e o Gabriel também a seguinte parte:

Quererte sirve de anestesia al dolor
Te amar serve como anestesia para a dor
Hace que me sienta mejor
Faz com que eu me sinta melhor
Para lo que necesites, estou
Estou aqui para tudo o que precisar
Viniste a completar lo que soy
Você veio completar o que eu sou.

E de todas as músicas que já dedicamos um pro outro, essa seja uma das mais bonitas que ele já me dedicou.

— Não se tortura tá? — ele me disse baixinho e vi uma lágrima em seu rosto — Não é nada de mais e amanhã a gente conversa. Eu te amo, não quero sair nunca mais de dentro do seu abraço.

— Te amo Gabriel, muito — disse segurando o choro, acho que é a primeira vez que vejo ele vulnerável dessa forma — Você sempre me terá, tá?

E aqui acariciando o cabelo loiro dele — que inclusive tá super frágil e precisa de uma reconstrução — conforme programei as luzes se apagaram e adormecemos. Abraçados, juntos, do nosso jeitinho de ser.

Continua...

Minha Cura | Gabriel Barbosa Onde histórias criam vida. Descubra agora