Minha Cura | Gabriel Barbosa

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Que dia do caralho. Não costumo usar palavrões mas hoje o dia está definitivamente do caralho. A semana foi do caralho.

Estou com dois ansiolíticos correndo na veia e com os batimentos cardíacos descompassados. Isso são efeitos do clássico. Cheguei mais cedo no Maracanã para dar apoio a galera das organizadas, ninguém sabe mas tem dinheiro meu nesses sinalizadores e fogos.

A atmosfera gerada para esse confronto foi criada a 20 dias atrás no sorteio. Os meninos estão mais concentrados do que nunca, acho que depois da bronca coletiva neles no domingo, às reuniões ao longo da semana valeram de alguma coisa.

A quem estava curioso a reunião foi basicamente lavação de roupa suja. Surgiram coisas da época de 2019 mas todos saíram de lá com as almas lavadas - assim espero. Foi entrado em um consenso de não deixar assuntos externos atrapalharem o convívio no CT, o que não deveria nem ser cogitado.

Cada um com suas reclamações e eu intermediando os diálogos para que não virasse pancadaria. Gabriel foi um dos que mais se manifestou a respeito de melhora pessoal e a coletiva, cobrou, aceitou opiniões... tá mudado meu garoto.

E chove no RJ. Frio. Quer dizer, pra Julia aqui menos de 30ºC é quase nevando. To usando blusinha térmica e camiseta de 2019 que catei no armário do Gabriel, um casaco por cima pra acompanhar uma calça oversized que cabem três Julinhas na barra e um tênis, Jordan, presente do meu Predestinado.

Ultimamente tenho me referido a ele só assim, meu predestinado. Não sei como nunca pensei sobre isso. Ele se sente confiante, amado e é como se eu depositasse muita ou toda a fé que cabe dentro de mim no trabalho e no futebol dele.

Carequinha queria que eu fizesse um discurso hoje antes deles entrarem em campo, mas achei muita pressão. Eu sou ótima com conselhos e pós jogo, mas no pré, prefiro ficar de boca calada, ainda mais hoje que é dia de decisão. A única coisa que consigo pensar foi que mandei no grupo mais cedo: se não for pra jogarem na tática e no talento, joguem com raça... já é meio caminho andado.

Me deram ingresso pro camarote do Biel Maciel e preciso expressar aqui meu ranço eterno por ter que ficar com esse monte de garota que ele trás pra cá em todos os jogos. Bêbada é até ok aturar tudo isso mas hoje é difícil. Gabi e o Planet pediram pra que eu viesse só pra fazer uma salinha já que se hoje for vitória o rolê é lá em casa - espaço destinado para vocês reviraram os olhos comigo.

Todos esses dias em casa me fizeram incorporar a skin Julia idosa. Nada de roles, nada de socializar, somente a minha cama, minha casa em silêncio com as pessoas que moram por lá.

– E ai senhora Barbosa, como você está? – incrível o alto astral desse Biel, nunca vi esse cara ser triste.

– Estou bem Biel e você? Ta lotado aqui né – O abracei.

– Vem cá pra tu ver o show que vai rolar ali fora, vem, vem, vem – Me puxou pela mão frenético como aquelas crianças arteiras indo mostrar algo de muito errado que estava fazendo.

– Olha – Mostrei meu braço todo arrepiado assim que sai pela porta.

– e essa taça vamos conquistar. Vamos Flamengo, vamos ser campeão...

Não posso deixar de me emocionar. Não sei como não vivi isso antes, já mencionei várias vezes que estive em outros jogos, outras torcidas mas nada se compara a atmosfera criada aqui, feita por toda nossa nação rubro negra.

Os sinalizadores que eu ajudei comprar estão acesos e o time entrando em campo, se a CBF sonha a multa pro Fla vem forte. O hino, quase abafado pelo canto da torcida, 12º jogador da partida está on e roteando.