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Diário da gravidez: Ouvindo o coração.

|Gabriel Barbosa|

Eu vou ser pai. Essa é a única coisa que eu consigo pensar ultimamente além de todas as decisões que temos para enfrentar. Queria sair gritando isso pro mundo todo ouvir mas eu e a Julia achamos melhor segurar um pouco.

Ela tem medo. Ultimamente anda tendo medo de tudo e não posso deixar com que ela se isole. Acho que devido a primeira gravidez, ela ainda se culpa. Faço o que eu posso para que ela se sinta o mais confortável e normal possível, apesar dela não querer nada, não gostar de nada, eu ter que parar o carro no meio do caminho por ela estar enjoada e ela chora todas as vezes que o Sampaoli fala com ela, estou tentando. E estou animado.

É uma experiência única a que estamos vivendo, ela ta tão linda, a barriguinha já está mais aparente e marcando as roupas. É como se tivesse uma aura em volta dela, ela tivesse ganhado super poderes de mamãe. Fico bobo todos os dias vendo ela dormir ou na cozinha comendo leite condensado com farinha e bolo.

– Ele ou ela já me ouve né amor? – Peguei na sua barriga enquanto íamos à clínica.

– Bom Bi, na ciência não, mas pra Deus tudo é possível, então... acho que ouve a gente.

– Então ouviu a gente transar ontem e aquelas coisas que eu te disse?

– Gabriel – Ela sorriu alto dentro do carro.

– Amor eu tenho tantas dúvidas, tantas perguntas. O papai sabe que você ouve né filha.

– Você quer que seja uma menina amor? Isso pra mim é novidade – Pousou sua mão sob a minha que acariciava sua barriga – Sempre pensei que queria ser pai de menino.

– Bom, quero. Queria os dois na real amor, mas me lembro de quando eu era mais novo e ajudava a cuidar da minha irmã, sei lá, eu sinto sabe?

– Sei. Você vai ser um bom pai Bi, um excelente pai na verdade – Os olhinhos dela estavam marejados – Também quero que seja uma menina, a gente vai torrar todo o salário do papai no shopping né filha, quando vierem os namoradinhos a mamãe vai ajudar a esconder tudo do papai.

– Ai não né jogadora, papai é ciumento sua mamãe sabe bem. Pra ser meu genro, vai ter que comer muito arroz com feijão.

– Isso vai ser divertido, filha.

– Hoje já dá pra ouvir o coraçãozinho amor?

– Acredito que sim, já estamos entrando no 4º mês. Vamos tentar.

Estacionei e descemos do carro na clínica. Está tudo vazio como em todos os outros meses que eu acompanhava a Julia por chamada de vídeo.Sou eternamente agradecido pelos rios de dinheiro que desembolsei pra calar a boca de todo mundo e nada ser vazado. Hoje vamos também coletar o exame de sexagem para saber se é menino ou menina.

A Julia segura a minha mão forte, apertado. Não tinha vindo ainda com ela já que as duas  consultas que ela já veio não batiam com a minha agenda e eu não podia me deslocar aqui pra SP sem ser descoberto. As mãos dela estão suando. Nos sentamos na recepção e a secretária nos atendeu pedindo para que ficássemos à vontade.

– Calma tá? – Ela deitou a cabeça no meu ombro ainda segurando minha mão e eu contendo o meu nervosismo de pai de primeira viagem para não somar com o dela.

– Boa tarde, seu Gabriel? Julia? Podem entrar e ficar à vontade.

A médica tem um pouco mais de idade. Quando pesquisamos ela era a melhor daqui, a indicação veio do Guedes do Corinthians, colocamos o Fabio pra resolver tudo e dar os pulos dele pra isso ser sigiloso, ele contou que ele engravidou uma menina e queria que ficasse tudo no sigilo.

Minha Cura | Gabriel Barbosa Onde histórias criam vida. Descubra agora