Mais um dia inteiro caminhando.
No início, a caminhada até a entrada da floresta não parecia ser tão longa. Era o que os cinco estavam pensando e se enganaram completamente. Acabaram levando mais tempo que o calculado.
Nakime estava apreensiva. Entrar naquela floresta lhe parecia assustador, não por ser um lugar perigoso e protegido, mas sim por que algo lhe dizia que ela deveria ir para lá. Essas sensações de estar indo em direção ao desconhecido e sentir que alguma coisa te espera ali dentro, deixavam Nakime ainda mais ansiosa.
O sol estava se pondo. Ao invés de pararem ao cair da noite, os cinco decidiram caminhar um pouco mais. Depois de tanto tempo andando, quase sem pausas, a entrada da floresta finalmente estava próxima.
A noite caiu.
Lá estavam os cinco jovens de frente para a enorme floresta. De perto, o lugar era ainda mais assustador:
— Tem certeza que é uma boa ideia? — Lucas perguntava para Sophia.
— Olhando bem para esse lugar... Eu não sei. — Kisho olhou assustado para a garota ao seu lado. Sophia costumava não ligar para nada ao seu redor, por mais perigoso que aparentasse. Se para a garota, aquele lugar não era boa coisa, é por que realmente eles não deveriam pisar ali dentro. — Acho que devemos passar a noite aqui fora e avaliar melhor se entramos ou não neste lugar pela manhã.
Todos concordaram e começaram a arrumar suas coisas para passar a noite no local. Ascenderam uma fogueira em seguida e ficaram ali, observando a entrada da floresta:
— Helo, você disse que ali é uma espécie de templo da Mãe das Águas... Não é?— Lucas quebrava o silêncio que estava instaurado no local. Todos estavam muito tensos com a presença daquele lugar tão silencioso.
— Sim! Bom, é o que dizem. — Helo respondeu de boca cheia. — Alguns dizem que toda essa floresta pertence a ela, além da floresta de Cosmo. Mas ela preferiu se esconder nesse lugar, por que as pessoas não têm coragem de invadir. Algumas lendas também dizem que ela te chama para o templo quando você mais precisa... — Neste momento Nakime começou a prestar atenção. — Mas isso não é para qualquer um. Mesmo que ela seja uma entidade bondosa, ela não sai por aí ajudando a todos... É difícil entender, mas você compreende quando escuta o chamado.
— Uau... Isso é incrível e ao mesmo tempo confuso... Será que ela está nos chamando? — Perguntou Sophia, olhando para trás.
"Será?..."
Nakime se perguntava internamente. Poderia ser um chamado. Talvez isso explicasse essa sensação que Nakime estava sentindo.
Enquanto ainda estavam comendo, Kisho perguntou para Sophia sobre o paradeiro deles e sobre o motivo de também estarem fugindo. A garota contou a mesma história que havia contado a Nakime e Kisho teve certeza de que Sophia era no mínimo louca.
Depois da refeição, eles conversaram um pouco sobre assuntos aleatórios e sobre o passado de cada um. Nakime permanecia calada, apenas observando as chamas ardentes da fogueira. Se sentia estranha.
O tempo passou e os jovens decidiram descansar, para seguir viagem no dia seguinte. Arrumaram as suas camas na grama e não demorou muito para que caissem no sono. A única que ainda estava acordada, era Nakime. O sono havia fugido de si e ela apenas havia mudado de posição, para ficar mais confortável enquanto observava o fogo se apagar aos poucos.
Tempos depois, ela começara a finalmente pegar no sono...
" Nakime..."
Abriu os olhos, assustada. Olhou para seus companheiros e viu que todos estavam apagados. Estava alucinando provavelmente...
" Nakime..."
Não. Não estava sonhando. Alguém realmente estava lhe chamando.
O coração da garota estava a mil por hora, pois ela olhava para todos os lados e a única coisa que via, era a imensidão dos campos de grama com o barulho do rio desaguando dentro da floresta.
Dentro da floresta...
" Nakime..."
Agora ela havia entendido. Algo ou alguém lhe chamava na floresta. Ela foi se virando lentamente para observar o lugar atrás de si, com receio do que pudesse ver. Não havia nada.
— Ok... eu to ficando louca... — Disse se virando para deitar, mas a coisa lhe chamou de novo e dessa vez bem mais perto que antes. Quando se virou, a floresta que antes era pura escuridão, estava levemente iluminada por três esferas de magia. Nakime precisou esfregar os olhos umas três vezes para ter certeza do que estava vendo.
"Nakime... por aqui..."
Tudo aquilo era muito estranho, mas Nakime não sentia medo. Mesmo com todo aquele ambiente sombrio, vozes lhe chamando e aquelas esferas indicando um caminho desconhecido, a garota sentia que deveria seguir o tal caminho. Ela olhou para trás e viu o fogo quase ao fim. Seus companheiros pareciam estar com frio, pois estavam todos encolhidos em suas cobertas. Ela voltou para o centro, ascendeu a fogueira novamente e em seguida, arrumou a coberta de seus companheiros. Virou-se novamente e entrou.
As esferas começaram a trilhar um caminho para Nakime seguir. A medida que entrava mais a fundo no local, a escuridão ia desaparecendo, dando lugar às luzes neons das plantas. O mais curioso, era que o rio em que estava seguindo a trilha, também brilhava numa forte tonalidade de ciano. Por fora, a floresta não parecia ser tão grande, quanto era por dentro: árvores gigantescas, rios e riachos por todos os cantos, troncos de árvores formando pontes de passagem e alguns escombros de construções antigas, desenhavam aquele lugar. Era belíssimo.
Uma calmaria se fazia presente no peito de Nakime, como se algo quisesse dizer-lhe, que tudo ficaria bem. De repente, as esferas desviaram da rota do rio e seguiram para outro lado da floresta. Provavelmente, por conta do barulho da queda d'água, havia outra cachoeira pelas redondezas. Não era a toa que Mayra era a protetora do lugar.
De repente, as esferas começaram a ir numa velocidade maior. Estavam chegando. Nakime acabou as perdendo de vista e entrou num leve desespero, até escutar aquela voz lhe chamando novamente:
"Siga o barulho das águas, Nakime..."
A garota fechou os olhos para se concentrar melhor. Respirou fundo e de repente, silêncio total. Com aquela concentração, ela conseguiu identificar o caminho da cachoeira e correu até lá, desviando de cipos, galhos de árvores e plantas espalhadas.
Quando finalmente chegou, ela teve certeza de onde estava:
A Cachoeira dos Espelhos, templo de Mayra a Mãe das águas...
...
Kisho dormia como uma criança. Sentia o calor do fogo lhe aquecendo e suas cobertas lhe envolvendo como um abraço quente.Porém, ele acorda de repente, sentindo alguém lhe chacoalhar.
Era Heloisa, que estava desesperada. Ele olhou ao seu redor e percebeu que a fogueira estava apagada e que Lucas e Sophia se escondiam atrás de uma das árvores da entrada da floresta do silêncio. Algo estava errado:
— Mas o que é... — antes que ele terminasse de falar, Helo cobriu a sua boca e o fez se deitar novamente. Com apenas um olhar apontando a direção, Kisho também se desesperou.
Haviam guardas do Palácio na outra ponta da floresta. Estavam armados com lanças e espadas e a maioria estava montada em cavalos.
Kisho e Heloisa foram engatinhando até a entrada da floresta e se esconderam junto ao casal.
— Precisamos entrar... — Disse Lucas, com um semblante assustado.
— Espera... Cadê a Nakime? — Perguntou Heloisa, observando aos arredores e não vendo nem sinal da garota.
Foi quando todos entraram em total desespero. Olharam para todos os lados e a única coisa que viam eram os guardas caminhando em direção a eles.
Não sabiam o paradeiro de Nakime e muito menos se ela estava por perto. A única solução era entrar...
Entrar para o perigoso desconhecido...
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Fragmentos do Passado
FantasyUma jovem guerreira do Reino em que residia, cujo a sua infância é desconhecida, tem os caminhos da sua vida tomados pelo caos, quando ela se vê obrigada a enfrentar o passado esquecido. Acompanhada de seus irmãos, eles seguem numa árdua aventura, e...