— Linda, minha linda, minha linda...
" Espera... O que tá acontecendo?"
Nakime se levantou, um pouco assustada. Olhou para o canto do trem e avistou Sophia, mexendo nas caixas e cantarolando a música que tocava nos seus sonhos.
— Sophia?...
— Ah! Oi Nakime! Tá tudo bem? Você parece assustada. — Respondeu enquanto abria um pacote de biscoito que ela havia retirado das caixas.
— Que música é essa? Que você estava cantando agora?
Sophia não respondeu, mas a encarava como se a resposta fosse óbvia:
— O que foi?
— Nakime, você vive cantando essa música, sem contar que estava cantando ela agora. Como não sabe o nome?
A resposta pegou Nakime desprevenida. Ela literalmente não se lembrava em nenhum momento, de ouvir aquela canção, durante toda a sua vida.
As duas ficaram se encarando por alguns segundos, até que Sophia a respondeu:
— Linda garota.
— O que?
— O nome da música. Linda garota. É uma música antiga, mas é bem famosa. Como você não sabia o nome dela e vivia cantando?
— Quando eu cantei?
— Você canta enquanto dorme. Não sempre, mas em algumas noites, eu acordei com você cantarolando. — Quanto mais Sophia respondia, pior era o entendimento de Nakime. — Você é meio sonâmbula também, sabia?
Novamente, as duas ficaram se encarando. Repentinamente, alguns flashs do sonho que Nakime tivera começaram a aparecer em sua mente. A sensação, a música, o lugar... Parecia que ela estava deitada num quarto todo branco, enquanto alguém cantava essa melodia aos fundos...
Tudo era tão familiar, mas tão estranho, que ela não sabia distinguir se aquilo poderia ser uma memória ou algum cenário criado na sua cabeça...
Memórias...
— Nakime, o que aconteceu? Se você arregalar mais os seus olhos, eles vão saltar para fora. — Perguntou Sophia, encarando Nakime com uma leve preocupação.
— Eu... eu sonhei com algo... Mas não sei dizer exatamente o que foi. Tudo parecia tão real e ao mesmo tempo não... E alguém estava cantando essa música aos fundos... Era uma sensação boa, mas esquisita...
Sophia então, parou de comer os biscoitos e começou a pensar. Ela encarava Nakime, como se estivesse lendo a sua mente:
— Nakime... E se esse sonho for uma espécie de memória? E se você estiver finalmente sonhando com o seu passado?
Sophia ficou empolgada com a possibilidade, diferentemente de Nakime, que ficava cada vez mais assustada. Ela tinha exatamente vinte anos, e durante toda a sua trajetória desde a floresta, ela nunca teve um resquício de memória sequer do seu passado. Agora subitamente, as coisas começam a vir a tona de uma vez só. Sophia percebeu que Nakime não compartilhava da mesma alegria que ela, e decidiu se controlar:
— Por que você está tão assustada? Tipo, não é uma coisa boa? Você está se lembrando das suas raízes! — Ela tentava de alguma forma, deixar a situação mais leve ou mais agradável para Nakime.
Nakime, antes de responder, finalmente deu falta do resto do bando e percebeu que o trem não estava em movimento:
— Espera um pouco... Por quê estamos parados? E cadê os outros?
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Fragmentos do Passado
FantasíaUma jovem guerreira do Reino em que residia, cujo a sua infância é desconhecida, tem os caminhos da sua vida tomados pelo caos, quando ela se vê obrigada a enfrentar o passado esquecido. Acompanhada de seus irmãos, eles seguem numa árdua aventura, e...