Fragmentos do Passado

46- Agonia

Pelas correntezas do rio, Lídia seguia rumo a Eatonia. O caminho estava rodeado por uma gélida e fraca neblina, que causava arrepios na pele da princesa, mesmo usando as roupas reforçadas para o frio.

O clima melancólico preenchia aquele barco tão solitário, onde Lídia por várias vezes chorava a morte de sua mãe. A sensação esmagadora no seu peito, superava até mesmo o dia em que a princesa a viu morrer, visto que agora ela sabia da verdade. E mesmo assim, Lídia mal teria tempo para sofrer, ou pensar no assunto. Ela tinha uma missão a cumprir...

...

Mal amanhecia, e o caos já estava instaurado no Palácio de Aline. A notícia do desaparecimento de Lídia, já havia alcançado todos os cantos de todos os Reinos.

Como imaginado, o Reino Akangatu estava recebendo fortes acusações dos moradores de Cosmo, os incriminando por esse sumiço. Por enquanto, nenhuma intimação real havia sido feita, mas Aline já estava se preparando para caso acontecesse. Nada tirava da sua cabeça, que aquilo não passava de uma forma de abafar o julgamento que estava para acontecer, ou de colocar ainda mais culpa no Reino Akangatu, já que todos sabiam que Nakime e os outros estavam abrigados ali:

— Talvez se nos juntarmos as buscas pela princesa, as coisas se amenizam para nós. — Na sala de reuniões, estavam os soldados e a princesa, para conversar sobre os últimos acontecimentos e em como eles deveriam se preparar para tal.

— Não. Nos envolver numa coisa que não temos absolutamente nada haver, pode acarretar em ainda mais confusões para nós, soldado. — Alex o respondeu. — Sem contar, que isso pode ser alguma estratégia suja do Thomaz.

— Não é possível que uma pessoa faria uma coisa tão baixa, só para incriminar o Reino vizinho. — Uma amazona comentou, sem acreditar nessas hipóteses absurdas.

— Ele faria até pior, se precisasse. — Dessa vez, a princesa era quem argumentava. — Coloquem uma coisa na cabeça de vocês: estamos em guerra. Não uma guerra onde vamos derramar sangue e arriscar as nossas vidas, mas saibam que já estamos num conflito indireto, a passos curtos de transformar isso numa tragédia. Por isso, vocês vão seguir um novo protocolo de segurança: eu não quero soldados próximos a divisa. Os únicos que ainda poderão ficar, serão os da vistoria dos transportes. De resto, sem soldados na região. Vocês vão se redobrar na vila de Akangatu e principalmente, na Cidade das Árvores, apenas pela segurança do nosso povo. Temos que cuidar do que é nosso. Deixe eles pensarem o que quiserem de nós, mas não vamos dar combustível para as ladainhas deles. Estamos entendidos?

Os soldados concordaram com as ordens da princesa e ela logo os dispensou, restando apenas Alex e Aline na sala:

— Qual será o próximo grande show de Thomaz? — Alex ironizou, enquanto observava Aline se levantar e caminhar até a janela do local.

— Eu temo o que possa ser. O fato de ele ainda estar em silêncio, já me soa como um grande alerta vermelho. — Aline mirava o horizonte, pensando nas inumeras possibilidades para o futuro da nação. — Vamos ficar atentos. Eu tenho certeza que isso ainda vai render bastante confusão...

...

Nakime não havia dormido bem naquela noite. Os pensamentos intrusos, de que algo grave havia acontecido com Lídia, não deixaram a sua cabeça em paz. "E se ela tiver sido sequestrada?" , "E se alguém tiver feito alguma coisa com ela?", eram os tipos de pensamentos que rondavam a cabeça da garota.

Porém, um lado de Nakime, o qual ela não gostava de escutar, lhe fazia pensar como Aline pensava: isso não passa de uma armação do Thomaz. Ela detestava pensar dessa maneira, mas conhecia o Thomaz o suficiente para saber do poder de manipulação que ele possuia. Mas, ela evitava ao máximo pensar desse jeito, pois Nakime também conhecia Lídia. Ela jamais toparia participar de uma coisa daquelas...