32- Mágoas

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Sentado na porta do trem, Kisho sentia algumas lágrimas rolarem por seu rosto. Eram memórias difíceis de recordar.

Na época, ele não teve tempo para sofrer, pois fugiu para a floresta de Cosmo, que foi onde se abrigou sozinho por quase um ano inteiro, até a chegada de Nakime.

A mais velha, sempre ressaltava o quanto o seu irmão era forte, quando se tratava desse assunto. O garoto era apenas um filhote, quando viu toda a sua alcateia ser dizimada num grande massacre, além de presenciar a morte da sua mãe, bem na sua frente e mesmo assim, conseguiu seguir em frente e sobreviver só, no meio de uma floresta que ele nem conhecia.

Quanto ao pai do garoto, bem no início da subida da montanha, estavam ele e seus companheiros, todos apunhalados pelas costas.

Ele chorava silenciosamente, pensando em como as coisas teriam sido diferentes, caso o massacre nunca tivesse ocorrido. Ele provavelmente estaria ao lado do seu pai, aprendendo a como ser um grande líder, para futuramente, assumir o seu cargo. Estaria ao lado da sua mãe, sendo um grande guerreiro da sua tribo, assim como ela era fora. Ele traria orgulho aos pais.

Mas por outro lado, talvez ele nunca conhecesse Nakime ou Heloisa e até mesmo a Aline.

Quem poderia imaginar, que a vida, além de o recompensar com duas irmãs, o recompensou também com os melhores pais que ele pudera ter. Cristina e Marco sempre cuidaram e amaram Kisho, além de o ajudarem com o seu passado sombrio.

Ele sofreu.

Sofreu muito.

Mas a vida o recompensou da melhor maneira possível, mesmo que ele ainda sentisse a dor do seu passado...

...


Um tempo se passou e Nakime despertava do seu descanso. Ela olhou em volta, desnorteada por estar se sentindo em movimento, até que lembrou onde estava. Levantou e se espreguiçou, percebendo o seu irmão, sentado na porta do trem, observando a paisagem:

— Hmmm... E se eu te empurrasse heim? — Perguntou a irmã, sorrindo diabolicamemte, lembrando de quando o seu irmão a ameaçou. Ele olhou para ela, sorrindo fraco e não precisou de uma palavra para que Nakime soubesse que ele não estava bem. — São as memórias, não é?

— Sim...

Nakime caminhou até o seu irmão e sentou-se ao lado dele. Observou a paisagem passando, enquanto esperava alguma fala do seu irmão, referente ao assunto:

— As vezes eu penso, se em algum lugar, os dois se orgulham de mim... — Aquelas palavras machucaram.

— Por que a dúvida e não a certeza? — Nakime perguntou ao seu irmão.

— Eu não sei. As vezes eu penso que eu só sou um grande nada. Faço a escola de magia medicinal a anos e mesmo assim, tenho dificuldade com coisas básicas. Eu tenho medo de quase tudo ao meu redor e principalmente, o medo de perder vocês, por que eu ainda estou preso no passado...

Aquele discurso sempre era um peso para Nakime. A insegurança do seu irmão, o impedia de ver o quão brilhante e forte ele era. As vezes, Nakime queria que o seu irmão tivesse os olhos dela, para que ele se enxergasse como ela o enxerga, pois os olhos dele não funcionavam para isso.

Ele não fazia ideia do quanto as duas irmãs o admiravam. Desde criança, ele sempre se mostrava o mais otimista e protetor possível com as duas e nunca demonstrou estar quebrado. Ele era e é inteligente em quase todas as áreas de magia e de aprendizados do cotidiano. Sem contar, que ele era um belo rapaz. O charme, eram orelhas e presinhas do garoto. Muitos homens e mulheres o cortejavam desde a adolescência, mas ele sempre fora muito tímido e mesmo assim, sempre chamara a atenção.

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