16- A dor da aceitação

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Lídia ficou longas horas de sua noite, sentada naquele banco. Depois de um tempo completamente apática a tudo, decidiu abrir a garrafa de uma bebida qualquer que achara na prateleira do bar e a consumiu por inteiro, não de uma vez, mas sim a cada vez que se lembrava das situações acontecidas, bebia um gole da bebida amarga sem nem precisar de copo. Bebia direto do bico.

Chegou em um ponto que ela provavelmente já não se lembrava mais de nada, por conta do álcool ingerido e se encontrava em uma linha tênue entre a realidade e os efeitos colaterais da bebida e do sono. Sem que percebesse, adormeceu ali mesmo. Sentada em um banco da varanda de seu Palácio, completamente bêbada e frustrada com todo o mundo.

Acordou assustada com alguém lhe chamando. Se não fosse por estar em um castelo, Lídia seria facilmente comparada a um morador de rua, no estado em que se encontrava. O guarda lhe sacudia levemente na intenção de não assustar a princesa, o que foi em vão. Lídia acordara tão assustada, que mal conseguiu se localizar:

— O que... O que tá acontecendo? — Perguntou com a voz embargada pela bebida e pelo sono. — Que horas são?

— Vossa Majestade, está para amanhecer... — Lídia arregalou os olhos e se levantou tão rápido que assustou o guarda em sua frente.

— Espera... Você está me dizendo que eu dormi aqui fora? Neste banco? A noite toda? — O guarda olhava para a princesa em sua frente, não sabendo o que lhe dizer. Pela aparência da jovem e pela garrafa vazia ao seu lado, ele julgava que para todas as perguntas de Lídia, as respostas fossem sim.

— Aparentemente...

—Meu Deus... que vergonha...

— Não se preocupe senhorita, vim apenas lhe dizer que seu quarto se encontra pronto e que seu pai teve uma melhora no ferimento, graças a eficiência de nossos médicos. — Naquele momento Lídia se recordou de tudo que havia acontecido e seu estado depressivo voltava com força. — Já me foram passadas ordens para que haja um cancelamento de sua coroação. Preciso apenas da sua confirmação para fazer o anúncio. — a princesa não precisou de muito para pensar. Não haveria clima para uma comemoração como aquela.

— Pode cancelar, mas mantenha os materiais todos em ordem e conservados por favor. Dispense o Bifett e diga que mais tarde eu converso com eles sobre os valores do prejuízo. Se me der licença, soldado, preciso ir para o meu quarto. Se caso precisarem de mim, estarei no mesmo lugar.

Lídia não ouviu o que o guarda respondeu e apenas entrou pelo corredor do Palácio, já em direção ao seu quarto. Queria chorar por um dia inteiro, mas nem isso poderia. Chorar não lhe traria respostas, mas ela precisava se deitar. As dores da noite mal dormida começavam a aparecer.

Chegando em seu quarto, percebia que tudo estava arrumado, como se nada tivesse acontecido. Mas um detalhe diferente havia lhe chamado a atenção. Encima de sua cama, haviam roupas dobradas. Roupas de Nakime. A blusa regata de gola alta e calças moletom eram quase um traje da garota. "O que isso está fazendo aqui?", se perguntava, com um sentimento ruim em seu peito.

Deitou-se em sua cama olhando fixamente para o teto, enquanto pensava em algo que pudesse fazer para tirar toda essa história a limpo. Pensou em falar com os pais de Nakime, mas seria uma situação muito indelicada para se chegar perguntando. Imaginava que os pais da garota poderiam estar tão piores quanto ela, neste momento.

Mesmo que não estivesse em seus planos, a garota acabou cochilando por cansaço e pressão. Saberia que no momento em que acordasse, teria o mundo em suas costas para resolver, mas não pode evitar...

...


O sol mal aparecia, e os cinco jovens já saiam em direção a floresta do silêncio. O clima estava gélido e a grama úmida por conta do sereno da noite. Kisho odiava aquela umidade na grama, pois sujava o seu pelo, mas estranhamente, ele gostava de chuva e banhos. Vai entender...

Fragmentos do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora