PARTE 1

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Tambores agitavam-se fazendo um enorme estrondo no ambiente, vozes e gritos constantes de homens, mulheres e crianças, minhas mãos estavam amarradas nas costas. Meu corpo foi lançado em uma tapeçaria vermelha, e houve gritos, um rapaz me ergueu pelos cabelos me fazendo abrir os olhos de pressa. Havia um homem, um tanto velho e parrudo recobertos com roupa de couro e pele de animais em seus ombros sentado em um trono de madeira, em seu lado esquerdo outro trono onde uma mulher estava sentada, em seu lado direito havia um cálice de prata. Soavam palavras e falas desconhecidas em todos os cantos. O homem em posição honorifica sentado em seu trono, tinha uma coroa circular entorno da cabeça prendendo os cabelos parcialmente grisalhos com uma trança na lateral, uma barba bem longa e olhos fundos e amedrontadores. Já a mulher era nova, de bochechas grandes e rosadas, sentada, que exalava grosseria pela sua expressão carrancuda, com os longos cabelos trançados e recaídos sobre os ombros recobertos com uma pele branca e felpuda de lobos, ou urso polar. Em pé um pouco atrás do trono um rapaz novo com cara de fuinha proferia palavras aos outros homens que estavam dentro do salão, notei que fizera uma pergunta e ergueram se as mãos. Estão votando se devem me matar, supus. O homem com cara de fuinha barbudo se aproximou me levantando o rosto pelo queixo, meu corpo estava pendendo, mesmo de joelhos não tinha forças parecia fraco de mais.

— Seu amigo disse que veio dos céus, e os homens viram algo rasgar os céus — disse o rapaz embolando seu inglês — É um guerreiro de Midgard?

O inglês era tão ruim, que mal podia entender ao certo, mas acredito que essa fora a pergunta. Não o respondi, permaneci em silêncio tentando decifrar se essa fala fora realmente isso que eu entendi. Olhei a minha volta para o enorme salão repleto de homens e mulheres guerreiras.

— Einar — proferiu

E um homem, o que parecia ser o mesmo que vira na praia se ergueu, eu o vi de soslaio, mas não me atrevi a me virar para ter a certeza, proferiu palavras com brandura, causando um silêncio rasgando um som com o grave som de sua voz extremamente grossa. Houve um longo silêncio, em seguida Nina fora jogada ao meu lado, ela estava irreconhecível, seu rosto estava roxo, com hematomas, os olhos escorriam lagrimas sangrentas que se misturavam com as feridas, eu me mantive firmemente sem a olhar por muito tempo, acredito que eu esteja em estado de choque agora, suas roupas estão rasgadas e seu corpo parcialmente nu com marcas de arranhões e feridas que ainda sagram, ela resmunga um choro intenso e barulhos agudos incessantes.

— Diga-me por que Odin enviaria dos céus uma mulher de cabelos tosquiados, para se camuflar entre os homens e engana-los? — disse o jovem e eu me mantinha em silêncio tremulo contendo o choro.

— Já fiz dela mulher de verdade — disse um homem com o inglês pior ainda

Nesse momento me virei o olhando nos olhos, e do lado de fora do local o som do trovão da chuva ecoou, e todos dentro do salão se assustaram, inclusive o abusador que estava com as mãos amarradas e acabara de levar um golpe no estomago para que ficasse quieto. Nina o olhou também assustadoramente e se tremia por completo, em seguida o homem em posição de poder sentado no trono disse algo com convicção e homens o içaram o trazendo a frente, o homem do trono se ergueu, pegou uma adaga longa na bainha de sua cintura, caminhou até Nina, que entrou em pânico. De certo ela achava que seria morta e eu também fiquei agitado mas não me movi, mas o homem cortou os cordões que prendiam suas mãos. O abusador gritava tentando se desvencilhar dos homens que o seguravam, e a adaga fora entregue nas mãos de Nina. Sem nem pensar duas vezes ela se levantou, fula da vida, mesmo com a perna ferida foi rápida e cheia de ódio, e brutalmente sem hesito o esfaqueou constantemente o abusador que estava sendo segurado por dois brutamontes, mas os mesmos o soltou, e Nina foi colocando seu ódio todo na força da qual a adaga entrava no peito do rapaz magricelo de rosto chupado e barba quase cinzas. Eu olhava aquela cena horrorizado sentindo o gosto amargo do sangue que provinha de algum corte dentro dos meus lábios. Trovões do lado externo ecoavam e escovam junto do som das estocadas da adaga no corpo do homem, como se Nina perfurasse um saco de areia que esguichava sangue.
Houve um silêncio naquela tragédia, após os gritos de pavor do estranho sendo morto, tento me manter pacificamente calmo, regozijando-me por dentro, Nina ao terminar e estar repleta de sangue se virou, deu alguns passos turvos, estava atônita, em transe, estado de choque total, olhou para suas mãos sangrentas, largou a adaga que ao cair soou um tintilhar no salão, um vento cortou as estruturas de madeira apagando algumas tochas e mais um trovão ecoou, Nina cambaleou e caiu no chão, a mulher sentada no trono de madeira se levantou e um grupo de outras mulheres ajudaram-lhe acolher e carregar Nina. A chuva do lado de fora foi diminuindo assim como os trovões e houve enormes comoção e agito dentro do salão, em seguida fui içado, as cordas e minhas mãos foram cortadas, e todos gritavam e comemoravam enquanto eu os olhava atônito após o homem no trono ter dito algo.  O mesmo se levantou e deu batidinhas em meu ombro, eu estava livre?

Dou alguns passos confusos descendo um pequeno lance de degraus de madeira mal feito, sou tomado pelo temor, penso em fugir, olhares estão voltados para mim, outros parecem não se importar. Há uma enorme mesa de madeira crua e bancos longos minhas pernas me conduzem até o banco longo onde me sento ao lado de outros homens estranhos e selvagens, tudo que eu precisava era sentar, acima da mesa um enorme banquete, com carne, frutos e vegetais, nada muito bem elaborado. Por um momento senti que estava ainda em uma cena cinematográfica de um filme de ação histórica, ou em um sonho. As roupas de alguns homens ainda estavam sujas de sangue o que fazia o cheiro do lugar ser no mínimo fúnebre, usavam peles de animais nos ombros, capas longas de lã, roupas com costuras visíveis feitas de retalhos ou linho, há escudos redondos de madeira mal pintada em tom azul nas paredes, bandeirolas azuis escuras com o desenho de um corvo feito à tinta estampado de vermelho, diversas velas e tochas espalhadas iluminando o local, e um parlatório incessante de um vocabulário muito distinto. Ao me ajeitar diante a mesa, olhos que me vigiavam deixam de me olhar e logo retornam a suas atividades de gritos, risos e degustação da comida com as próprias mãos feito animais. Meu estomago ronca, sinto fome, não hesito em pegar uma coxa de frango, nem mesmo alguma fruta mesmo de modo receoso, precisava comer algo, sentia-me fraco de mais.
Penso em Nina, tento não pensar, espero que não tenham a matado, caímos em uma região não civilizada, e provavelmente o instituto espacial esteja enfrentando dificuldades para nos achar aqui, mas ficaremos bem, eu espero.

Indolentemente fui ficando perdido em meus próprios pensamentos tentando decifrar o que estava acontecendo e o que os homens falavam nas conversas fiadas e risadas, hora ou outra identificava uma palavra ou duas e as vezes nada, ainda sim recebia olhares e até cumprimentos por aqueles homens e mulheres selvagens que erguem seus canecos forjados por ferros, madeiras e até mesmo chifres de animais, ou então batiam em seu elmo de prata para demonstraram força ou saudações diante o meu olhar. Olhei para minhas roupas que estavam aos trapos, parecia que eu estava pelado em comparação a eles que vestiam camadas e mais camadas de roupas, e eu apenas usava uma camisa que podia jurar ser branca antes de tudo acontecer, e um short até os joelhos também feito do mesmo tecido, seda, isso por que os trajes espaciais eram macacões quentes e completos. Gostaria do traje agora, estaria bem aquecido sem sentir esse frio ardente na pele.

Notei mais ao longe um homem, este o mesmo que vira na praia me encarando de modo curioso, os olhos dele.me ponderar sem nem piscar, como se eu fosse um bicho, ou ele era o bicho selvagem. Segurava um caneco com as mãos entre as pernas, me fitando friamente.

Sofri uma interjeição, me fazendo perder a linha de pensamentos que buscava compreender onde eu estava, mesmo que estivesse sentado sem sofrer nenhum tipo de represália a mais ou incomodo, — além do incomodo causado pela minha enorme dor de cabeça que certamente tinha sido causada pela pancada que levei onde agora havia uma pequena ferida na nuca —, eu me sentia um intruso, pensando na maneira correta de fugir. O homem que me chamara a atenção, não o mesmo que me encarava ao longe, e sim l que sentou-se diante de mim um grandalhão e redondo, de bochechas vermelhas e cara feia, vestindo uma pele de cervo nos ombros por cima de uma enorme capa longa de tecido escuro, usava roupas feita de retalhos de couro com costuras assustadoras e visível, algo muito primitivo, ele riu mostrando um dos seus dentes quebrados, os cabelos eram raspados nas laterais e havia pinturas de tinta entorno da cabeça e até mesmo no rosto barbudo. Em seguida ele sussurrou algo, dando uma leve curvada e me estendeu a mão, naquele instante o salão inteiro paralisou, houve um abrupto silêncio, o homem franziu a testa me olhando com os olhos estreitos e baixo, seu sorriso sumiu.

Einar - Amar, Sangrar E MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora