1- O chamado

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Nina está encostada na pilastra da varanda de madeira, de frente para o único degrau do assoalho, segurando no pé da barriga. Talvez estivesse com dor - penso ao me aproximar vagarosamente. Não quero causar dores nela, não mais do que o que ela já sentiu.

— Eu demorei a a criar tudo isso — iniciou ela ao notar minha presença a sua costas — Não acho que agora a essa altura do campeonato deva voltar, podemos ficar aqui, cuidar um do outro...

— E sua família? Seus filhos?

— Eles estão bem Zach, estão bem! Eu sei desde que deixei a terra que os deixaria com pessoas que cuidariam bem deles, que os amariam independentemente se eu morresse nessa viagem, eu estava preparada para uma viagem intergaláctica e não isso, não para ser mãe de novo, mas agora eu estou preparada para esse mundo. — deu uma pausa — Não vou arriscar em busca de um portal idiota que pode ou não tirar o meu filho de mim, se quiser ir atrás dos suprimentos do módulo ótimo, vague as praias do fiorde em busca, até o ajudo se quiser — disse acariciando a barriga — No início eu não queria, não queria, mas e agora? Qual a certeza que ambos de nós chegarmos ao futuro bem? Ou no outro mundo eu não sei... eu não quero mais voltar, não quero deixar uma criança sozinha para trás nesse mundo violento, Kalef pode até ser bom pai mas ele não sabe como é ser uma boa mãe, eu sei, eu já fiz isso antes, nem você é capaz de entender.

Nina tocou meu ombro, e do ombro meu rosto.

— Sei que talvez sente falta dos seus pais, sempre disse a mim mesmo que mais vale um filho morto do que um perdido, sua mãe deve sentir sua falta, mas Davidson? Já se fazem seis anos, ou sete que deixamos a terra... Você era só um menino quando saiu de lá e ele já era um homem, Davidson não estará lhe esperando com um par de alianças. Agora ele, ele sim está te esperando... — apontou Einar que estava do outro lado na frente do celeiro com uma tropa de homens conversando alguma baboseira risonha. — Eu sei, eu senti tanto medo no início... Agora me sinto um deles, eu só quero que Einar domine Valkahem, e eu fique tranquila em uma casa de campo.

— Nina, esse não é nosso lugar, não é o nosso mundo.

— É lugar dele — tocou seu ventre — Estou firmando raízes aqui. Já aceitei isso, cabe você e Ana aceitar também.

Fui tomado por uma raiva enfurecida, talvez Nina tivesse perdido o juízo, ou talvez já não estivéssemos mais falando a mesma língua, até mesmo Ana que eu achava estar mais entrosada nessa vida do que Nina demonstrava querer ir embora. Me retirei de perto de Nina, indo para trás da casa onde ninguém me veria surtar e joguei o relógio para o chão após olhar o mesmo furiosamente pisei nele contra a soleira empoeirada do chão de terra, e pisei de novo, e de novo, com mais perspectiva e força, dando um resmungo furioso.

Idiota! Tudo isso, todo esse esforço em sobreviver em busca de algo que pudesse dizer que nada foi um sonho para nada!

Não faz diferença estar aqui, não faz diferença estar no meu mundo ou nesse afinal em ambos os mundo eu não tenho um lugar, não tenho um espaço, não tenho um local, não consigo firmar raízes alguma, nem aceitar, nem aqui nem . Eu sempre achei que se minha vida mudasse eu realizasse um sonho e uma aventura eu estaria feliz, mas a verdade é que eu não me encontro feliz, e eu realizei o sonho de uma viagem em uma espaço nave, além de mudar completamente a minha vida, mas não era assim, não a esse modo e se fosse de outro também não seria feliz, a felicidade não é uma conquista, não é meu telescópio novo, não é meus amores, não é o mundo, o espaço, a vitória, o reconhecimento, meus pais, não é nada disso, e eu sinceramente não sei o que é.
Uma crise existencial me invadiu, senti-me o mais idiota.

Afkárr — soou o timbre de Einar em minhas costas

— Me deixe em paz — falei por cima dos ombros em seguida dei um chute irritado no relógio que voou em qualquer direção e sai andando.

Einar - Amar, Sangrar E MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora