3 - Lar temporario

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Dado momento avistei algo, algo muito encantador, que tomara minha atenção.

— Olha aquilo! — falei apressado.

Desatei a correr na frente.

— Garoto! Afkárr ei! Volte aqui não... Não... — Einar berrou tentando me alcançar.

Mas estava fascinado, encantado ao mesmo tempo que só parei atrás de um arbusto alto, onde me abaixei entre a moita e olhei para Einar que vinha atrás de mim com uma expressão enervada, fiz sinal que não fizesse barulho e levantei a cabeça para olhar, ele se abaixou ao meu lado respirando fundo, mas em silêncio. A neve estava bem baixa, com isso pequenas raízes ficavam fácil de alcançar no chão e lá estava um alce, mas não qualquer alce, era um branco, um belo macho albino, enorme, a pelagem densa, mas parecia frágil, parecia até mesmo sutilmente amarelada pela falta de melanina, estava a alguns metros de distância.
Olhei para Einar que me olhou de volta, seu semblante estava menos bravo, então sorri.

— Que lindo, não é?

— Sim. — Respondi aos cochichos. — Não vai querer matá-lo?

— Não funciona assim, matar e matar...

— Mas queria matar as lontras.

— Porque elas eram pequenas e comeríamos a carne além de fazer botas com suas peles, e eu só queria as grandes, aqueles filhotes sobrevivem sem as mães, já não dependem delas. Agora matar esse alce braço como esse não seria justo.

— Mas quis matar no dia em que caçamos.

— Por que naquele caso se matássemos ele ia alimentar toda a vila, agora se nós matarmos esse aqui, a pele é até bonita, mas a carne não seria toda aproveitada, não é certo, devemos respeitar o Homem-verde. — explicou e Einar — Acha que matamos sem motivo? Claro que não.

— Não sabiam que tinham lei de preservação ambiental — resmunguei

Ele me olhou confuso.

— Quê?

— Nada, coisa do meu mundo...

— Não há animais no seu reino? — perguntou ele

Parei um pouco para pensar.

— Você parece se encantar com qualquer animal que vê. — Acrescentou ele

— É meio difícil — falei baixinho e desanimado. — Meu mundo, como disse, parece estar... No fim. Os animais, como esse são raros, quase não vemos coisas assim, a não ser...

— Nos filmes? — ele interrompeu.

Eu ia dizer na mídia.

— É — retorqui

— Mas você disse que os filmes mentem, como sabe se é verdade.

— Não sei, na verdade acredito que sejam tudo documentários gráficos feito por máquinas e computadores... mas sei que muitos dos bichos já não existem mais.

Ele fez aquela cara de novo de que não entendeu nada.

— Pelas barbas de Thor eu não entendo nada do que fala. — reclamou ele

Eu ri.

— Talvez seja mentira de fato Einar. — falei — Talvez o meu mundo esteja em uma situação pior que as mentiras dos filmes.

— Quais animais nunca viu de perto?

Parei para pensar, e fui poucas vezes no zoológico, na verdade só uma em minha vida toda, não achava aquilo adequado, aprisionar animais, eu era tão pequeno e lá havia exemplares de animais já extintos por conta do calor intenso, não era a mesma coisa que vê-los vivos, os que estavam vivos pareciam mais dopados do que vivos mesmo.

Einar - Amar, Sangrar E MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora