2 - Causa e efeito

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inicialmente não sabia o que fazer, caminhei perdidamente pelo vilarejo, observando tudo a minha volta. Havia muros de pedras pela metade, onde cresciam arbustos de plantas e consequentemente um pequeno pé de amora selvagem com poucas folhas, aquilo me fez um sorriso. Claro, Nina está certa! Folhas de amora são ricas em propriedades anti-inflamatórias, não me lembro ao certo em quais dos livros de botânica eu havia colhido essa informação, já que quase nunca prestava atenção nas aulas de botânica, mas lembro que eu passava alguns períodos de tédio foleando as paginas dos livros que eram minimamente interessante, fiz uma junta de poucas folhas embora os arbustos não houvesse amoras, algumas brotos tentavam crescer em um período fora de época o que facilitou encontrar outros arbustos por ali com pouca folhagem, fazendo com que fizesse uma coleção de folhas murchas, experimentei levar até mesmo alguns galhos na mão. Enquanto eu selecionava as folhas, escutava os sons de um martelo, que batia avidamente em algo de ferro. Havia um ferreiro em algum lugar próxima, caminhei pela vila de casas de madeira, ainda observando o chão para ver se não encontrava algo que fosse tão interessante quanto as folhas em minha mão. Penso que talvez saturar aquela ferida não será algo fácil, talvez devesse tentar apenas desinflamar e torcer para que a cicatrização desse certo naquela saturação que Einar mesmo fizera se ficasse de repouso, mas não descartaria a possibilidade de costurá-lo, talvez fosse uma boa ideia se eu ao menos achasse uma fagulha fina como um alfinete para a Nina seria incrível.
Retornei ao grande salão, com as folhas em mão. Einar está fraco, nem acordado nem adormecido, em resmungo de certo, queimando de febre, suando feito um porco velho para o abate enquanto Nina dá o último ponto em sua pele com uma agulha que não fazia ideia de onde havia tirado. Não era uma agulha daquela época era uma agulha mesmo fina cor de prata, perfeita, já a linha que ela usava era a de linho, pinçou a mesma cuidadosamente dando um nó mordeu a linha e a rompeu. Não fiquei muito tempo ali observando.

Ao fundo do quarto havia outro cômodo, e ao mais a fundo dois cômodos de madeira com vazios constantes e tralhas, e fora lá onde encontrei um vasilhame de ferro como Einar dissera a Nina outrora, por fim, ao fundo do salão do lado externo um poço artesiano de água.

Com a ajuda de Nina separei as folhas, usamos uma fogueira abandonada pela vila e nos sentamos nos aquecendo a Nina como companhia era melhor do que o nada mesmo em silêncio era boa companhia, ficamos sentados esperando com que as folhas fervessem na água. Ela estava apenas sendo uma boa observadora e companhia. Pessoas passavam por nós, podia dizer que algumas nos olhavam, outras tentavam um cumprimento sutil, mas todas tinham medo, como se fossemos dois estranhos monstruosos, fazendo algo errado.

— Acha que vai funcionar? — pergunto.

Nina está mexendo com as mãos em dois gravetos finos de amora, da um leve riso e balança a cabeça, sua expressão triste quebra meu coração, era impossível a olhar por muito tempo com todo aquele roxo em sua pele do rosto.

— Sinto muito pelo o que aconteceu Nina, e também por ter te trago para cá, eu não sei... Eu, eu acho que o sobrenome de Einar significa algo mas talvez seja coisa de minha cabeça. Eu só...  não sei nem o que estou fazendo...

Ela me lançou um olhar dolorido, e em seguida tocou minha mão, como se dissesse: tudo bem.

Eu sentia muito por Nina, e respeitava o seu silêncio, queria ter uma conversa de verdade com ela, mas não agora, não aqui, talvez quando tivéssemos tempo para respirar, quando déssemos uma pausa, seus olhos perguntavam o que eu estava fazendo e por que estava ajudando aquele estranho homem mesmo que eu já tivesse lhe dito a resposta, no fim, pergunta essas que nem eu saberia responder de modo correto. Peguei um pedaço de tecido velho para faze-lo de luvas, e retirei pela lateral das chamas o vasilhame que cozinhara as folhas tornando a água sutilmente verde, um chá de folhas de amora.
Com o liquido um chá potencializado que fiz Einar beber um pouco, e com as folhas mornas forrei sua ferida banhadas em rum e mel com a ajuda de Nina. Nina e eu passamos aquela noite ali, ela adormeceu na cama ao lado de Einar e eu ao relento frio do chão. Já Einar estava tão fraco que mal recordaria de nossa presença, volta e meia eu acordava perdendo o sono.

Einar - Amar, Sangrar E MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora