1 - Um vindouro inesperado.

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Dormir em barracas de pano era como acampar, hora ou outra se irritaria com algum dos insetos que apareciam, as barracas nada impermeáveis estavam sempre úmidas e geladas ainda mais pela chegada do inverno, eram como alojamento temporários em lugares temporários pois sempre mudávamos de lugar feito nômades, Nina e eu dividimos o mesmo espaço para o descanso, vezes deixávamos as barracas armadas atrás do grande salão ou perto da fazenda de Einar mais longe do centro da vila, e as fazendas por aqui não tinham muitos animais, senão ovelhas, gansos, cavalos, frangos, a grande fonte de produção estava nas lãs das ovelhas e nas plantações. Os escravos sempre se organizavam para executar as tarefas juntos com prontidão, então as vezes Eric e Astrid auxiliava nas tarefas do grande salão, e eu e Nina com as tarefas do campo, e havia também aquelas tarefas na qual sabíamos quem faria mais rápido como lavar a roupas ou fazer a colheita. Além disso havia um lugar para escravos, como não havia uma Casa Comunitária, pois a mesma estava sendo construída, havia-se então um amontoado de moradas improvisadas nas margens mais pobres de Rofsten, essas eram choupanas madeira, lã e palha maiores e mais aconchegantes, formando um assentamento para reuniões, em que nós e outros servos se uniam após terminar as tarefas diárias. Realmente como Priam dissera não era tão ruim, ou eu estava esperando torturas, pelourinhos e chibatadas, correntes e grilhões pesados nos pés, no final das contas éramos capazes de escolher nossas tarefas e tudo que fazíamos todos faziam, a única  diferença é que o escravo estava prestando serviços e caso seu senhor precisasse ou te ordenasse a fazer algo por ele deveria fazer sem hesito, e na divisão extremamente injusta dos lucros, e caso eles (seus patrões ou dono) o batessem devia ser apenas com as mãos perante suas próprias leis, e alguns criados até revidavam gerando uma briga que podia levar a morte ou não, nada de instrumentos punitivos.
Prestávamos serviços comum, tão comuns que os moradores também faziam, todos aqui prestavam serviços para a vida em comunidade.

Estávamos sentados entorno da fogueira, Eric era um ótimo contador de histórias e ele contava enquanto os outros riam, até mesmo Nina estava mais enturmada, fez amizades, mesmo que a pegasse as vezes triste acredito que ela não tinha tempo para deixar a tristeza tomar conta, toda hora havia algo para fazer. Imagino que se nessa época já houvesse camas individuais em quartos, e a individualidade pessoal, sem tarefa alguma, ela estaria deitada, trancada em seu quarto se afundando em remédios antidepressivos.

Uma mocinha chamada Fenyre era apaixonada por Eric, ela não é escrava, mas é pobre e não havia tanta diferença entre os pobres e os escravos assim ela adorava se juntar a nós, se sentar em nossa fogueira, ou ficar em nossas barracas ou tecer fios de linho junto de outras escravas para vender e trocar nas feiras locais, estava com a bochechas vermelhas de tanto rir, seus cabelos louros claros derramados sobre o ombro estavam bem trançados por si mesma, ela adorava trançar os cabelos dos homens que sentavam no meio de suas pernas para o feito, desta vez o seu amado, Eric, estava tendo os cabelos trançados.
Fico imaginando caso eles fossem transportados para minha época, não se adequariam com facilidade, de certo teriam grande dificuldades com modos costumes e linguagem, podiam até mesmo matar alguém, embora eu também me encontre nessa dificuldade tive grande sorte em sobreviver, e agora me saio bem disfarçadamente, já até mesmo falando seu idioma mesmo que por muitas vezes me confundido em uma palavra aqui outra ali, a questão é que tudo é um ato de adaptação, no início eu tentava entender apenas interpretando e buscando similaridade nas palavras, agora eu buscava entender diferenciando uma palavra da outra e tentando traduzir para Nina que estava também desenvolvendo o meio de comunicação local.

— O que ele disse? — perguntou Nina enquanto todos davam um gargalhada uníssono.

— Algo sobre Odin ter se zangado com ele, e Thor ter batido seu martelo levando o barco de tripulantes que viajavam com ele.

Einar - Amar, Sangrar E MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora