Não peça o que é dele

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Ao me retirar do quarto, no grande salão homens e mulheres guerreiros de Valkahein ajeitavam suas comodidades, — quando cheguei estava vazio, mas agora um grupo de homens se instalavam no local, arrumando camas improvisadas no chão, outros dormiam nos bancos aos cantos, alguns cuidavam de seus ferimentos. Pude ver um grupo com três rapazes em pé, Batedores com lanças na mão, um deles com o escudo de tinta azulada nas costas, cutucaram-se com os cotovelos me olhando. O primeiro a cutucar os outros disse aos cochichos:

— O gato-manhoso de Einar. — Riram

—Ele não é um dos guerreiros de Midgard? — perguntou o outro.

— Guerreiro nada isso é o que dizem, de certo deveria se dos bordeis de lá — respondeu

— Ah se Odim me permitisse, faria de mim o seu deposito — riram.

— Por que não pedimos ao Einar, como um último desejo ao sairmos amanhã? Pelo menos sairemos satisfeitos, ele é só um escravo Einar não vai recusar de jorrarmos prazer dentro dele — falou outro.

Todos riram. Eu não quis ouvir aquilo, fiquei abruptamente horrorizado, tentando fugir não ouvir, quanto insulto! Caminhei em passos largos até a saída, passando por eles sem encará-los, temi que me fizessem algo, um deles até se aproveitou segurando em meu braço, mas me soltou a o notar que não o olhei seguindo em frente.

Outro dia nasceu em Rolffsten, e pela manhã acordei um pouco mais tarde do nascer do sol, que embora brilhasse no céu não aquecia aquelas terras frias, Nina e Ana conversavam na entrada da tenda enquanto eu estava sentado analisando-as silenciosamente ao longe, estava com a mente anuviada pensando em um pouco de tudo, ainda faltava muito para aceitar a ideia de que aquela seria nossas vidas, noite passada o frio me fez sentir frio de verdade, tão frio que os cobertores de peles e linho não estavam adiantando, se ao menos tivéssemos um cobertor de lã, pois dormi grudado em Nina já que sua capa de lã verde era quentinha, talvez eu devesse dormir perto da fogueira, ou fazer uma lareira externa embaixo da tenda mesmo correndo risco de tudo pegar fogo, Ana já se preparava para ir embora, segurava em baixo do seu braço algumas peles, não foram as que cacei, afinal não cacei nada. Seu machado estava em suas costas junto do escudo, e ela já estava caminhando melhor, menos manca, mas ainda mancando em passos lentos.

— Certeza que não quer que peça para Olaf vir e pedir para Einar os tornarem livres?

— Não precisa, Einar disse a mim que estou livre hoje mais cedo, Zach me pediu para que eu fosse até ele e era exatamente isso. Ele cumpriu parte do acordo e que até mesmo ficarei na posse de uma propriedade temporária. Mas fora isso, quero que venha no nascimento do bebê. — Riu.

— Claro que sim, estarei aqui — disse Ana.

— Parte do acordo, Einar disse isso a você? — me intrometi na conversa.

— Sim. — disse ela.

— Eu pensei que...

Meu esboço fora eminentemente tomado por uma expressão depressiva, Einar embora tivesse libertado Nina não significava que eu estava liberto, e pior mesmo que Nina ficasse com uma de suas propriedades não podia me abrigar, pois eu não era seu, não a pertencia.

Fui tomado pela felicidade e a tristeza, os dois na mesma medida, feliz por Nina, mas triste por mim. Aí estava a minha punição: Nina liberta e eu escravo.

— Você Zach? — perguntou Ana — O que fará?

— Einar disse que Zach ainda tinha umas pendencias, que ele inclusive já devia ter me liberto. Mas Zach vai quitar tudo, e logo ficaremos juntos aqui em Rolfsten, gosto daqui, fizemos amigos, todos já nos conhecem, e acredito que firmar raizes aqui não é uma má ideia — proferiu Nina antes que eu falasse o que eu pensava.

Einar - Amar, Sangrar E MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora