2 - O pó púrpura

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Valkahein estava pacífica quando chegamos, mas não aportamos nela, o dracar seguiu mais meio quilômetro de distância do vilarejo, notei como o ceio da vila de Valkahein estava vazio o frio não deixava as pessoas circularem muito, por isso o porto estava vazio, que ótimo - penso eu, afinal eu não queria ver Ana.
O barco parou em um porto muito velho, muito mesmo as madeiras estavam podres e velhas, algumas quebradas com cogumelos mofados que cresciam entre o musgo, eu e Einar descemos e um grupo de mulheres também.

— Estarei aqui por volta do meio-dia e voltaremos a Rolffsten, se não estiverem aqui não irei esperar — disse Einar a uma delas, mas todas ouviram.

— Vamos apenas levar oferenda a Mimir.

— Pedir sabedoria — falou outra delas.

— Algo aflige? — perguntou Einar

Elas ficaram quietas.

— Não me diz respeito, estejam aqui na hora combinada — disse Einar.

Eu caminhei curioso, não sabia desse lado de Valkahein, também não tive como explorar, ao longe era possível ver a vila afastada, mas também difícil de alcançar pois a praia dividia-se em um paredão de rochas nada escalaveis. A areia enegrecida de pedrinhas eram as mesmas que as das praias entre os fiordes, Einar tocou meu ombro me fazendo andar caminho oposto ao que eu imaginava.

— Vamos...

— Não sabia dessas terras.  — balbuciei curioso.

— É solo sagrado, aqui somente quando estamos em comunhão com os deuses, mais acima na colina há o salão do Odim, para os sacrifícios.

— Sacrifícios? — indaguei um pouco assustado

— Sim, os mais devotos têm o direito de entregar a vida para revogar a irá dos deuses, é um templo de adoração. — explicou — Há um grup, Ásatru, são homens e mulheres de fé, que cuidam do templo, e organizam os sacrifícios.

— Por que fazem isso?

— Porque é o certo a se fazer. Mas ultimamente com os cristãos não há mais tantos homens corajosos a esse ponto, então o sacrifício é outro.

Fomos caminhando rumo a uma cascata de água que se precipita entre a montanha. O frio parecia mais intenso.

— Tome cuidado há bastante lontras selvagens por aqui, e não quero ter que matar nenhum bicho, só evite confronto é proibido matar nessa terra.

— Mas e os sacrifícios?

— Os Ásatru sabem o que fazem, e não são mortes, é devoção, entrega, um acordo.

— Você faria um sacrifício aos Deuses?

— Já fiz muitos.

— Pensei que matavam no processo.

Ele me olhou por cima dos ombros meio atravessado.

— De onde tirou isso? Sacrifícios não pode ter a ver com morte, são oferendas em troca de benefícios. Não, negociamos nossas almas — deu uma pausa — Quando perdemos nossos amores, como mães, maridos, esposas, fazemos um sacrifício, para que a alma deles vá de direto para Valhalla, sem passar pelo julgamento.

— Foi o que fez?

— Sim, quando minha mãe morreu... Fazemos para que sua alma não vire um Draugr.

Draugr são mortos vivos, acredita-se que são espíritos presos entre a vida e a morte, condenados a vagar.

— Como é feito? — pergunto

Einar - Amar, Sangrar E MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora