1 - A verdade

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Embora as peça de lã fosse um material bastante requisitado (não muito por escravos tão pobres como eu) era comum que fossem de uso de pessoas mais enobrecidas, isso porque a lã dava um bom dinheiro ou troca, e para os mais pobres compensava mais vende-las do que usar.
Indo mais além, eu não tinha peças de lã, pois eu era o escravo mais novo, e também o que tinha menos recursos, todos os outros servos já eram servos aqui a muito tempo, tirando o que eram traficados, eu também não tinha meu devido espaço nesse mundo, nem mesmo para ser escravo.

Eu gostava da forma como as roupas eram feita, nada sob medida grandes camisões, ou blusões que ia abaixo da cintura, as vezes amarrada na cintura por algum fio de couro ou corda, de Juta ou Linho, gostava dos detalhes da gola em V que faziam, com alguns bordados retintos — Nada de fru-frus apenas costuras com molduras ou detalhes, principalmente nas lãs —, e quanto mais detalhes mais caro era a roupa de lã, como a que Einar usara em tom amarelo claro com a gola branca e vermelha, camisa longa que iam até seus joelhos, as mangas eram largas, e a camisa em si ficava ajustada em seu corpo grande e musculoso, não agarrada mas perfeitamente acomodada. Além disso até mesmo as calças eram confortantes, mais que o linho ou o couro.

Ele deu um resmungo como se desse um riso, mas não sorriu, agora entendo por que eu o evitava, olhar para ele era com rever a cena de sua brutalidade e barbaridade cometida semanas atrás.

— Vou lhe arrumar tecidos bons e de boa qualidade, nenhum servo aqui morrerá de frio — afirmou ele novamente

Ao me lembrar do fato grotesco em seguida o icei pelo braço.

— Einar, por que fez aquilo? — perguntei — Por que decapitou os homens aquele dia?

— Porque eles ousaram me desafiar.

— Nãão... Não foi Einar, eu os escutei...

— Shhhh — ele fez em seguida sinal de silêncio.

— Não eu...

Em seguida ele me virou tirando o arco de minhas costas e dando em minha mão, havia um alce raspando a boca em uma árvore atrás de liquens para comer. Einar espreitou se baixando em minha frente, e ao mexer nos galhos da moita um punhado de neve se desprendeu e recaiu sobre seus ombros largos coberto por pele de coiote branco por cima capa verde-queimado, me aproximei ao seu lado e passei a mão no punhado de neve retirando o mesmo de seu ombro que ele nem notara, ele me olhou sem entender, mas em seguida ao perceber agitou a mão grande sob o seu ombro retirando a neve, caso a neve ficasse molharia o tecido ou o congelaria, e já estávamos parcialmente gelados da neve que caia do céu e em contato com o calor de nosso corpos derretiam em nossos tecidos os tornando ainda mais congelantes e frios.

Empunhei o arco, ele me posicionou de maneira com que eu conseguisse mirar no alce, e eu o olhei por alguns segundos vendo seus olhos azuis se destacarem em sua pele levemente avermelhada do frio. Estava nervoso, e Einar me desconcentrava, tentei me concentrar no alce ao longe. Puxei a flecha junto da corda do arco.

— Respire fundo, tente acertar no pescoço ou coração, se tiver força. — Sussurrou. — Deve analisar os pontos fracos, as pernas, a cabeça, o olho...

Preparei a flecha e na hora de soltar senti um suor frio me descer na espinha. Olhei nos olhos do bicho distraído e por um momento aquilo parecia covardia, abaixei o arco com um olhar imparcial.
Ele puxou seu arco das costas imediatamente.

— Um bom guerreiro não pode ter piedade de seu alvo — disse bravo

E antes que ele pudesse atirar me irritei e me levantei fazendo o alce correr assustado.

— Einar!

— Pelas bolas de Thor! O que você está fazendo? Assustou o bicho! — Disse ele revoltado.

Einar - Amar, Sangrar E MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora