2 - A proposta

244 37 2
                                    

Ana e Nina foram empurradas mais a frente da multidão, assim como Einar que tocou em meu ombro me empurrando para frente, só então notei que além das pilhas de corpos no barco alguns animais como cavalos e gansos vivos e amarrados. O olhei irritado e assustado, mas em seguida dei alguns passos, uma mulher, alta de cabelos mais longos que já vira, com pinturas pretas na pele de sua face e vestimentas leves em vermelho de tiras pretas e estranhas parecia não sentir frio, caminhou até mim fazendo me juntar ao lado de Nina e Ana, eu não disse nada a elas, mas Ana aproveitou o momento para cochichar:

— Alguma novidade de Will?

Neguei com a cabeça, em seguida a mulher magrela, superalta e estranha de cabelos pretos, mas pretos com um grude como se fosse piche, sebosos como se houvesse uma pasta de óleo grudando os fios nos deu tochas que pegara da mão do Rei que acendia  uma a uma em uma espécie de latão de ferro, cada um de nós fora guiado até a frente do Cais parando diante de uma única barca com copos empilhados em fogueiras de madeiras e alguns animais esses de seus respectivos donos já mortos, o som da corneta ecoou novamente, houve gritos, acho que aquele era o sinal para que ateássemos fogo no barco lançando nossas tochas.

— Eles acreditam que os animais vão para Valhala com seus donos.

O meu pavor em matar um animal vivo com fogo, e tão qual como se houvesse humanos vivos ali, mas todos pareciam esperar, olhei para Einar que parecia me desafiar com o olhar, fechei os olhos tomando um fôlego e lancei a tocha na primeira pilha de corpos daquele barco, as madeiras que cheiravam a algum tipo de resina que fizera com que o fogo elevasse e se espalhasse rapidamente.  Em seguida vi Ana fazer o mesmo ao meu lado, quanto a Nina ela estava parada olhando a ultima pilha de corpo em cima do barco, e que não acendera jogando sua tocha, ela observava o corpo de Wes que tinha a cabeça partida em dois, talvez estivesse revivendo e cena em sua mente novamente, assim como eu toda vez que o olhava.
Antes de caminhar em sua direção, toquei o ombro de Ana para que a mesma me ajudasse, nós dois a tocamos como forma de conforto, Nina lançou sua tocha nos corpos em cima do barco. Relinchos de cavalos, gritos de porcos além dos mugidos de cabra vieram daquela cena caótica. O cheiro de queimado subiu na atmosfera, a era possível ver o sangue derretendo e cozinhando entre as madeiras enquanto os corpos e os animais fritavam tentando escapar e o barco afundava levando aquele pouco de vida ao afogamento. Houve gritos e comemorações e felicidades, além de bebidas e brindes brutos, em seguida mais gritos enquanto Rei dizia palavras, como se estivesse proferindo uma pequena missa ou desejando sorte para aquelas pobres almas, talvez uma vingança futura. Notei ao longe e mancando o Einar se distanciando, toquei ambas Ana e Nina e pedi para que me esperassem pois retornaria para falar mais com elas sobre essa loucura que estávamos vivenciando. Corri cruzando a multidão até chegar em Einar, e o toquei no em seu braço para que ele parasse de andar, ele olhou de cara feia, mas não parou de andar.

— Preciso da sua ajuda — falei em seu encalço. — Realmente, não somos guerreiros.

Einar parou a caminhada manca e bufante e deu um leve gemido resmungando. Me encarou, estávamos longe da multidão.

— Isso não é um problema meu, avise o rei, espero que ele não te mate pois eu te arrancaria a cabeça por mentir. Eu não vivo aqui, moro depois do mar em um novo vilarejo em meio a um fiorde, em Rolfsten. — Falou pacificamente mas como se orgulhasse do que estava dizendo.

— Tome-me como escravo, mas leve-me. — Falei em desespero sem nem saber o por que estava dizendo aquilo.

— Escravo? Não vai querer ser meu escravo ... — deu uma pausa — Por quê ... Por que não pede ajuda a outros? Por que não diz a verdade ao rei que não é um enviado de Thor?

— Porque a única pessoa que encontrei que fala minha língua é uma escrava, escrava de Bjorn, mas ela parece não saber muito sobre as coisas por aqui, já você, você é como eles.

— E você não é um de nós, e não será. — Rebateu firme voltando a andar. — Só serve para ser um servo mesmo.

— Não, não sou. Venho de um lugar muito diferente... Sei coisas que talvez não saiba, posso cuidar do seu ferimento. — Ele paralisou me arrostando — Esta ferido não é? E de certo hoje está mais ardido do que ontem, deve estar com febre também.

Deve estar com uma infecção, pensei, mas não disse, ele nem entenderia essa palavra.

— É um curandeiro, ou um völva... um Seith?

— Talvez.

— Na minha vila há curandeiros eles podem resolver.

— Te garanto que posso ser util. — Respirei fundo — Escuta, posso ser valioso, sei sobre armas de batalha que não sabe, mesmo não sabendo lutar. Leve-me e serei-lhe util.

— Se o levasse, compraria uma briga com meu pai, ele é o Rei e já não estamos tão bem.

— Diga a ele que é uma escolha minha, diga a ele que o favorecerei nas batalhas assim como você.

Naquele instante um corvo pousou em um cercado adiante chamando a atenção com o seu som, principalmente a de Einar que fechou a cara numa expressão odiosa e resmungou algo que não entendi, mas não hesitou a proposta.

Vejamos: não há um motivo concreto para tamanho desespero senão a familiaridade no sobrenome McAulay, o que me fez pensar que talvez Einar, o único até então que falava minha língua e tinha liberdade poderia ser a chave e a solução para sair daquele mundo, mesmo que eu já estivesse tentando conciliar que aquilo não era um sonho, presumi que talvez fosse um sonho, e que Einar McAulay fosse a resposta para me acordar. Seu pai, também tinha o mesmo sobrenome, e poderia facilmente confiar nele, mas diferente de Einar, o Rei Olaf não falava no mesmo idioma que eu, não parecia amistoso, e agora Einar me fizera criar o medo de ser descoberto um não guerreiro. Pelo menos Einar, já sabia minhas verdades, ou minha quase verdade, e não me mataria - eu acho -, pois se assim fosse caso contrário já havia feito.

Einar - Amar, Sangrar E MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora