3 - O chamado

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Creio que Einar não mais precisasse de minha ajuda, embora ainda ferido ele só precisava apenas repouso e agora podia cuidar sozinho de suas feridas. Logo um grupo de três mulheres incluindo a Nina voltaram com uma cumbuca de barro nas mãos na qual ofertaram a Einar, um ensopado, uma delas, a mais nova e bela Astrid - seu nome, pegou a bebezinha e se sentou ao lado de Einar. Eu não conhecia Astrid ainda, soube seu nome através de Einar que a solicitou ajuda no momento em que ela adentrou o comodo. Ele soprou o ensopado, provou e depois guiou o talher de madeira que mais era como uma espátula em formato de pá de madeira até a boca da bebezinha, e assim prosseguiu.

— Há um rapaz, Eric, ele fala sua língua é um criado, ensinará a vocês o que devem aprender, podem ir. — preferiu Einar mas também disse outras palavras a uma das moças como se a desse instruções sobre nós.

Nina e eu nos entre olhamos e a estranha nos guiou para fora de seus aposentos, porém antes de sairmos de fato houve um tossido, em seguida Einar se agitou, Nina e eu paramos, Einar pegou Sigrid do colo de Astrid e começou a agitá-la, de início não me dei conta até notar que a pequena bebê estava engasgada, ele tentou parar o engasgo com balanços e não contente enfiou o dedo na boca da criança que já estava arroxeando-se.
Rapidamente corri em sua direção, quase que sem hesito algum peguei a bebê de seu colo e fiz a manobra Heimlich, debruçando-a em meu braço com o o estômago em meu pulso, a criança já sem força, Nina se aproximou rapidamente, e eu pressionei uma, duas, três, quatro vezes e novamente até que expeliu a mistura de líquido e cenoura no chão, e abriu um berreiro estridente.

Einar a tomou de meus braços, a abraçou e em seguida gritou irritado me olhando feio.

— Saiam! — mordendo os dentes

Nos retiramos todos, rápidos e assustados feitos ratos fugindo do ninho.

....

Aos poucos fui entendendo mais sobre a cultura nórdica antiga, eles eram ótimos com trabalho em equipe, Rolfsten é formada pelos melhores guerreiros que Einar "roubara de seu pai", aqui nasceu o clã dos Corvos, uma vertente do clã dos Corvos ordenado por Olaf. Clãs são coisa s importantes, pelo menos é assim que funciona um grupo de poder político por aqui.
Eu tinha muitas duvidas mas preferia ficar longe e quieto observando, isso me fez treinar o idioma local na qual eu já estava balbuciando algumas palavras e entendendo com mais facilidade, a primeira semana não fora tão fácil, eu passava a maior parte do tempo com Nina e juntos ficávamos tentando decifrar os enigmas daquele vocabulário. No fim, ser um escravo que no caso eles me chamavam de Bryti, que é uma gíria local que significa: homem prestável um escravo com benefícios, não era tão ruim assim. Tinha-se obrigações mais pesadas aos servis, mas nada de açoites ou bofetadas afinal eles já se agrediam naturalmente, em jogos, brincadeiras e treinamentos. Havia alguns grilhões e correntes para os mais teimosos ou novatos, não era o meu caso, eu aceitei aquilo e cooperava com tudo, pois era uma ótima distração não pensar de mais. Os escravos de Einar não ficavam no grande salão de forma constante e não podiam se abrigar lá, aqui em Rolfsten não havia uma casa comunitária, então muitos, assim como nós, ficávamos em choupanas de palha, cabanas de tecidos ou tendas ao fundo das propriedades ou espalhados ou pela vila, mas ao longe nas margens de Rofsten havia a formação de tendas e choupanas conjutas e as vezes o frio era tão intenso que os via se juntarem e dormirem em um único recinto, e como de prestes costumavam também fazer sexo em grupos, mas não eu, não Nina.
Mais ao longe da vila, Einar tinha uma outra propriedade: uma fazenda, - eu diria -, na qual as tarefas eram bem exauridas, tudo o que produzíamos para Einar os ganhos iam direto para ele, e tudo o que fazíamos para nós vender nas feiras locais 80% dos lucros obtidos ia para Einar, pois mesmo sendo escravos podíamos produzir algo por conta sem a permissão dele. Nina estava começando a se soltar mais e conseguiu com as meninas arrumar uma tela de tecer e passava grande parte do seu tempo livre tecendo e arrumando e remendando roupas dos moradores locais, e eu ficava responsável por vender ou trocar seus tecidos prontos na feira, sem atinar de pagar parte dos lucros obtidos ao "Jarl (Conde) Einar, o Berserkir" – este era seu titulo por aqui.

Eu estava retirando água do poço aquela manhã, e um serrado recaia sobra as montanhas do fiorde fazendo nuvens brancas se abrumarem feito fumaça, observava aquilo todas as manhãs e sentia aquela aragem de manhã fria como quase todos os dias que se estavam frios pela manhã, mas aquecia-se ao entardecer, me deparei com Nina que estava ao meu lado me analisando enquanto apertava os nós dos dedos avermelhados e sujos de suas mãos com as unhas curtas encardidas, pois mais cedo limpava os restos de brasa da lareira externa utilizada como aquecedor no grande salão.

— Você me parece melhor.

Ela deu um leve riso, seus cabelos também haviam crescidos um pouquinho mais.

— Você se adequou rápido — respondeu ela.

— Acho que me conformei. — falei pegando o balde de água o abraçando nos braços — Já estávamos longe de casa há dois anos quase três no espaço, claro que tenho saudades, mas... É melhor não pensar.

— As vezes choro, sinto falta dos meus pequenos. E também me sinto assustada pelo o que aconteceu... Mas as mulheres aqui são muito valentes e acolhedoras de certo modo. É estranho parece que tudo o que vivi antes não aconteceu, e que tudo que estou vivendo agora é real. — Caminhamos lado a lado — Mudando de assunto estou andando e analisando um grupo de curandeiras, a medicina aqui é precária.

— É bom que esteja se encontrando, mas eu me sinto um tanto deslocado para fazer pesquisas, afinal qual seria a finalidade? —  Percebi que minha fala a desanimou. Despejei a água em uma caldeira. —  Não gosto muito da comida, ou da ausência de tecnologia mas podemos melhorar as coisas — ri tentando amenizar minha soberba.

Eric se aproximou de nós, ele tinha os cabelos enrolados e longos castanhos escuros de olhos cor de mel, em seguida disse afoito:

— Zach, Jarl Einar o chama no grande salão.

Einar - Amar, Sangrar E MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora