4 - Fechando Acordo

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O grande salão estava sempre cheio em determinados dias da semana, isso por que sempre havia moradores querendo resolver pendências com o Conde, mas hoje estava vazio, cruzei a porta e os dois guardas lado a lado me permitiram passar sem hesito. Einar estava sentado em seu trono de maneira solene e pensativo de forma majestosa, fazia alguns dias que eu não o via.

— Me chamou? — perguntei desconfiado ao entrar.

— Ah sim, sim — disse se ajeitando no trono mas me olhando estranho — Como você está, tem gostado daqui?

— Vamos ao que interessa, você não quer saber isso. — retorqui e ele me olhou por cima, como se reprovasse minhas palavras.

— Talvez tenha esquecido o seu real propósito aqui — ele disse se levantando e dando meia volta no trono, mas logo sentou-se de maneira desleixada — Bryti, disse que sabia sobre armas, duas semanas se passou e ainda não vi o seu trabalho...

— Pedi para que me desse uma chance além de ser seu servo, queria que me ensinasse ser um guerreiro e não me ensinou nada até agora — retorqui cruzando os braços. — Tudo que aprendi foi arar sua terra, cuidar da fazenda, matar animais, cozinhar.... tecer, vender.

— É um ótimo inicio para um guerreiro astuto feito você. — falou pacificamente. — Tive duas semanas muito atarefadas, tive uma enorme falta de tempo, coisas chatas para cuidar. — ele disse com desdenho.

Einar estava vestido de forma ainda mais robusta sem atinar a ausência de sua capa longa e a capa que parecia se um poncho de pele de urso. Se levantou me analisando, em seguida se aproximou dando uma volta entorno de meu corpo. Eu até entendo sua semana atarefada, afinal na primeira ficou metade da mesma de repouso em cima de uma cama, pensei até que houvesse morrido perante ao seu sumiço, mas só me dei conta quando me pedira ajuda para retirar os pontos cicatrizados em sua ferida.
Eu não sabia o que ele estava fazendo, mas ele estava me analisando diretamente.

— Por que não me diz a verdade? Sem mais enrolações, como cruzou os  céus ou os mares até aqui? É muito diferente, ao mesmo tempo que parece vir do Oeste, parece não ser do Oeste, então de que terra veio? Vinlandia ou alguma terra inexplorada da Inglaterra? Wessex?

— Por que isso é tão importante? Estou aqui agora não é?

— Por que não me convence, primeiro você disse que era um guerreiro! Agora não sabe lutar feito um e quer que eu o ensine, me remendou feito trapos velhos e disse algo sobre Midgard

— Nunca disse isso, foram vocês quem disseram que eu era um guerreiro — falei sentindo um leve temor.

Ele riu, em seguida me ponderou e parou em minha frente.

— É cristão? Apenas responda, Afkarr.

— Não.

— Fui pego por cristões enquanto explorava aquelas terras. Não são bons, eles me mantiveram como escravo durante um longo período.

Tussi um riso como se aquilo fosse merecido.

— Acha engraçado?

— Claro, imaginar você servindo aos seus senhores como eu, é engraçado.

— Só que como eles eu não trato mal aqueles que me servem. — disse

Imagina se tratasse bem - presumo
Ele soltou um resmungo risonho.

— Eu não posso negar em ter notado que você diz muito o nome do Deus sem nome: "Meu Deus". Você é um cristão, não é? — continuou ele

— Não, eu não sou, eu nem acredito em Deuses

— Então não veio de Midgard, se não acredita é cristão, no que mais acreditaria?

Estava ficando complicado.
Ele disse como se estivesse com raiva, mas me senti tranquilo em dizer que não era cristão. Entretanto agora que sei que ele foi escravo, Isso explica o porquê de ele falar tão bem o meu idioma, presumo. Continuei em silêncio, o que eu poderia dizer? De certo modo eu condenava Einar por sua falta de escrúpulos.

— Então qual é seu Ásatrú (fé)?

— Nenhuma, eu não acredito em quase nada.

Ele riu de forma formidavel.

— Odin o salvou aquele dia no salão enquanto Thor batia seu martelo anunciando estar um pouco presente, devia acreditar nisso. — disse ele.

— Escuta Einar eu o respeito, respeito sua "Ásatrú" ou seja lá o que isso significa, mas não é sobre isso que quero conversar. — Dei uma pausa longa — Quero que me ensine a ser um guerreiro, já que não tenho para onde ir, e posso fazer algo bom com o ferreiro para suas batalhas... Quero um acordo justo, e caso os meus ensinamentos tenham muita valia, quero que me liberte, de a mim um punhado de terras em Rolfsten.

Ele riu, riu mesmo. Eu pensei que se Nina estava se adaptando eu devia me adaptar ainda mais, ser um guerreiro parecia um bom começo de fato, e era melhor que eu abraçasse essa ideia. Além disso queria ter a liberdade de fazer minhas coisas apesar de que viver como um escravo não era ruim, mas acredito que se eu ia ficar nesse mundo era justo que eu tivesse meu próprio canto para chamar de lar.

—  Eu gosto do seu brio, você é bem audaz — disse ele um tanto impressionado —  Você não parece ter medo de mim e isso... Bom, vamos ver até onde vai, o que tem a me oferecer?

— Melhorarei seus armamentos, assim que começar a treinar.

Ele parecia gostar de desafios, me olhou de modo duvidoso como se me subestimasse e eu particularmente também duvidava de mim mesmo, caso minha ideia desse errado eu iria ter de improvisar.

— Certo, só uma coisa — ele resmungou na hora em que deu as costas — Quando estiver em minha presença de novo, curve-se, é bom que saiba que seu lugar é abaixo de mim. E tente ser menos petulante, tem sorte de eu estar de muito bom humor, eu não sou qualquer um rapaz.

Einar - Amar, Sangrar E MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora