Kiire Joks

Capítulo 14

— Por que é tão difícil assim desistir dessa ideia tola? Até quando se colocará em perigo, minha doce menina?

— Por que é tão fácil assim desistirem da Yu-na? — Rebateu Yoo-ri. Arrependeu-se instantaneamente ao ver o homem sentado na frente dela encolher os ombros e abrir a boca como se tivesse sido socado pela própria filha.

Yoo-ri respirou fundo, passando os dedos pelas madeixas soltas sobre os ombros ao desviar os olhos do pai e fitar a cidade através das janelas da cafeteria. O trânsito àquela hora já estava intenso e por um momento se pegou pensando se conseguiria chegar na redação antes das 9h da manhã ou se deveria seguir o plano de Jeon e deixar o trabalho daquele período para Namjoon realizar.

Ao pensar no rapaz, pelo canto do olho, observou o cara de capuz e máscara preta que estava sentado na mesa de frente para a dela, as costas de seu pai. Jung Kook a irritara veemente para acompanhá-la, logo depois de ouvir Yoongi também relatar que vinha sendo seguido.

Yoongi, obviamente, por Jeon Jung Kook: o piloto com a cabeça mais cobiçada no momento. Ela, provavelmente, por estar na cola da Jung Corporation e pelos artigos que havia publicado — ou ao menos tentado publicar, uma vez que o redator-chefe barrava cada um deles, frustrando a jornalista. E mesmo depois de repreendê-lo por ir a outra cafeteria de modo descuidado, ainda que fosse uma cafeteria nos subúrbios, menos badalada (e menos frequentada), de Monev, Jung Kook a seguiu até ali.

Primeiro porque, segundo ele, estava entediado. Observar Jung parecia perda de tempo sendo que o alvo primário do trio seria um dos membros do comitê da Kiire Joks, Seokjin. E porque com Jung teriam mais trabalho, pois o herdeiro da Jung Corporation selecionava cautelosamente todos os que se aproximavam dele. Diferentemente de Jin, que curtia acompanhantes de luxo. Segundo, porque se a (milésima) conversa com o pai da Yoo-ri não os ajudasse, teriam que seguir com o plano B. E aquele era o principal motivo para o piloto estar ali, conforme havia dito para desfazer a carranca insatisfeita da jornalista.

Por uma breve fração de segundos os olhos da cor de jabuticaba encontraram-se com os dela, e, como se lhe desse um cutucão mental, uma das sobrancelhas de Jung Kook içaram-se ao passo em que, com o queixo, indicou Nam Jin-goo, fazendo-a voltar a atenção para o pai.

Jin-goo falava mais uma vez sobre o modo abrupto com o qual ela tinha encerrado a discussão com a mãe, noite passada, aproveitando-se da chegada dele para sair batendo os pés e a porta. Nam Mi-ra era orgulhosa e os dois sabiam disso. Yoo-ri também sabia que a mãe choraria a noite inteira e na primeira oportunidade que surgisse iria até Yu-na, para que a filha mais velha tentasse fazer a cabeça da mais nova.

Do mesmo modo que sabia que seu pai iria até ela para implorar que largasse o emprego no jornal antes que fossem visitar Yu-na na prisão, no fim de semana, para evitar que a filha mais velha se preocupasse, uma vez que nada podia fazer estando atrás das grades.

E toda aquela confusão era culpa da vizinha mais fofoqueira de seus pais. Por isso, a velha a olhou desconfiada quando a viu se aproximar da casa dos dois. Aquela mulher... ela precisava mesmo levar um dos artigos com o nome da Nam mais nova, com a maior cara-de-pau, e dizer que Yoo-ri seria tão bem-sucedida, naquela carreira, quanto Yu-na?!

Yoo-ri poderia fingir que deixaria sua profissão de lado e seguiria por outro caminho, apenas para que os pais ficassem mais tranquilos e por conseguinte evitar que Yu-na se enervasse à toa. Mas isso apenas dificultaria o que precisava fazer. A jornalista ainda contava com o fato de Jin-goo ter sido o único aliado que tivera desde que decidiu seguir o mesmo caminho que a irmã. Ela sabia que o homem, ainda que a olhasse em súplica — com os lábios contraídos num beicinho caído —, também desejava ver Yu-na livre. Não apenas por cumprir a pena a qual fora condenada, mas com seu nome imaculado outra vez.