Capítulo 35

206 20 12
                                    

Em Monev, o "tum tum" que fazia a cabeça de Jung Hoseok batendo devagar no vidro do carro estava incomodando o motorista a frente. Porém, o herdeiro não se importava, pelo contrário, ele nem sequer tinha ciência do que estava fazendo. Após o velório, o moreno despistou sua equipe e sua amada, pedindo um táxi, e atirando o seu celular pela janela.

Ele queria seguir sem rumo, assim como estava seu coração naquele momento. Sem rumo. Batimentos desregulados e incessantes. Mãos trêmulas e o olhar que se perdia nos carros que passavam pela pista escorregadia do dia ensolarado em Monev.

Seria aquilo uma sátira aos sentimentos do todo-poderoso herdeiro Jung? A chuva molhava o solo de Monev, as nuvens tomavam o céu criando uma atmosfera de verão perfeito com ares quentes e abafados. E dentro do Volkswagen achatado e acinzentado, de janelas escuras, Jung Hoseok passava por uma tempestade de sentimentos.

Um misto de sensações repetidas. Flashbacks e um rancor que percorria cada linha de seu corpo. Da veia que saltava eu seu pescoço, as lágrimas que escorriam sem permissão das íris. Nada, pela primeira vez em sua vida, estava dentro de seu comando. Nem o seu próprio corpo.

O carro parou. As lágrimas cessaram, e o moreno agradeceu ao motorista, que estava apressado para receber o seu pagamento. Saindo do carro, gotas de lama salpicaram sobre as bordas de suas calças ao pisar numa poça de lama. O motorista partiu o mais rápido que podia, sem se importar de deixar rastro de poeira para trás e a roupa preta do herdeiro Jung com traços salpicados de marrom.

— Espero que o meu fim não seja tão triste quanto esse. — Hoseok suspirou, abaixando as lentes pretas que escondiam o verdadeiro olhar do homem. Encarou a vista a sua frente e revirou os olhos.

A visita pretendia ser silenciosa, mas o portão alaranjado grunhiu como se não visse uma mão de óleo há anos. Porém, não havia ninguém ali tão perto, além dele e um cachorro escorado ao lado do muro divergente e acabado.

— Em outras circunstâncias eu diria que esse é o inferno. — Ele reclamou consigo mesmo enquanto seguia pelo caminho curto e repleto de pequenos galhos desalinhados.

Se não fosse pelo sapato preto e alongado que cobria seus pés, com toda certeza ele teria saído dali com o pé machucado por pisar em pequenos tocos soltos pelo caminho. Com uns minutos de caminhada, depois de ter expulsado o cachorro da entrada de seu encalço algumas vezes, o caminho de Jung Hoseok começou a se abrir. Dando um espaço mais amplo para locomoção.

Ele retirou o sobretudo e o repousou sobre o ombro. Quando ele pensou estar sozinho, há uns 5 metros a esquerda dele, ele avistou um trio de pessoas. Uma senhora, já de idade, expressões fortes marcadas sobre a pele enrugada. Um adolescente concentrado em seu celular. E um homem que direcionava toda a sua atenção para a garrafa em suas mãos. Jung Hoseok os ignorou e seguiu em frente.

O moreno estancou os pés no chão quando finalmente chegou de frente a mais um portão, dessa vez menor, tão mal cuidado como o outro, porém esse possuía alguns traços mais delicados. A serpente que se enroscava em si, embutida em todas as grades, indicava a ele que havia chegado no seu destino. Enfim, abriu o portão à sua frente.

— Olá, mamãe. — Ele tirou o óculos, e deixou que um sorriso discreto escapasse de seus lábios. E seu peito, que parecia tão pesado, descansou em um suspiro longo e carregado. Ele pousou a mão sobre o jazigo, a frente dele, e abaixou a cabeça. — Tem sido um longo tempo sem nos vermos, não é?

Jung Hoseok nunca tinha se permitido visitar o túmulo de sua mãe, desde do momento exato da morte dela, para ele era como reviver cada cena em sua mente. Era como sentir o sangue em suas mãos novamente, como se ele tivesse menos idade, e não soubesse pedir socorro. Mas no fim das contas, ele teve que segurar em suas mão outro amor de sua vida, teve que sentir como era não poder fazer nada, mesmo sempre tendo tudo.

Kiire JoksOnde histórias criam vida. Descubra agora