Capítulo 29

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Ah, se fosse a primeira vez! Em tese, aquela era a primeira vez tendo o mesmo pesadelo em uma nova casa, o mesmo pesadelo estando debaixo do mesmo teto da culpada por tudo aquilo. Pelo menos era isso que ela pensava, com suas razões, por mais contraditórias que fossem.

A médica remexeu-se sobre o colchonete de exercício, no chão. Ela suava intensamente e pressionava as pálpebras com força, os lábios se retorciam e os dedos agarravam o edredom que cobria seu corpo, como se fosse algo realmente precioso. Jamais imaginou que sofreria quando seu subconsciente projetasse a imagem do rosto dele, enquanto dormia.

Ele era tão lindo, alegre, inteligente e cheio de vida. E era dessa maneira que seu pesadelo se iniciava, disfarçado de sonho...

No sonho os dois caminhavam juntos no quintal da casa onde dividiram a infância e adolescência, o sol brilhava e iluminava principalmente o rosto dele, o rosto juvenil de Jordan. Mas, de repente, tudo mudava, o céu escurecia e a alegria esvaia-se do rosto do rapaz. E novamente ele repetia as mesmas palavras: Ji-na, eu preciso de você.

Ela seguraria a mão dele até o fim. Quanto mais escurecia mais apertava a mão dele, tinha medo de perdê-lo. E, como na vida real, Ji-na também o perdeu naquele sonho. Em um instante suas mãos, que antes agarravam Jordan, estavam repletas de sangue, no outro segurava uma lista com nomes e valores ao lado deles.

Infelizmente, reconhecia aqueles nomes. Nomes de pessoas inocentes que ajudara a eliminar. Mas o último nome, o de valor mais alto, era mais valioso que qualquer tesouro que houvesse no mundo. Era o nome dele. Logo mais uma folha surgiu entre seus dedos, os olhos da médica saltaram quando leu o nome que estava no final da nova lista.

Atordoada, Ji-na despertou. Seus pensamentos não a deixavam raciocinar direito, então percorreu a sala com o olhar. Sentiu um alívio no peito quando viu o loiro dormindo todo enrolado no sofá ao seu lado.

Park Jimin estava bem. Maldito pesadelo!

Ji-na rastejou até a beira do sofá e acariciou os fios loiros do piloto que se encontrava num sono aparentemente pesado.

Ah, Park! Ele parecia tanto com ele... Dois tolos inocentes, cheios de sonhos, e igualmente envolvidos em toda essa sujeira. Ela o amava. Um sorriso involuntário surgiu no rosto da morena quando ele agarrou de repente a mão que o acariciava. Ela riu quando percebeu que Jimin ainda dormia e levou a outra mão, a que estava livre, até o rosto dele. A mesma juventude que um dia ela viu esvair-se de Jordan, estava ali, presente no rosto macio e iluminado do Park. Droga! Ji-na suspirou pesadamente e desviou o olhar para cima. Não permitiria que outra desgraça acontecesse. Faria o que deveria ter feito há anos para evitar que a juventude do piloto se esvaísse.

— Você não pode ser importante para mim, Jimin. E eu não posso permitir que algo pior aconteça a você, como aconteceu com Jordan.

— Doutora, você não precisa carregar essa culpa consigo o resto da vida.

— Então você estava ouvindo? — Ela virou o rosto, surpresa, pois não havia notado que o Park não estava sozinho, e encarou Yoongi que havia acabado de sentar no sofá onde dormiria.

— Sim, foi inevitável, lamento por isso. — confessou. — Não consigo dormir num lugar com muita gente.

— Você não cresceu num orfanato? — Ela questionou, ficando de pé.

— Sim, mas isso não influencia em nada. Enfim, voltando ao assunto do momento, pra quê carregar tanta culpa? É certo que talvez você não seja a melhor pessoa do mundo, e que deveria estar presa... — Ji-na ergueu uma sobrancelha. Yoongi pigarreou antes de prosseguir. — Porém, como me importo com Jung Kook, considero as pessoas que se esforçam para ajudá-lo. Eu sei que você tem outras prioridades, que não gosta das irmãs Nam, que cometeu crimes, mas vejo que está tentando ajudá-las, apesar de tudo. Então, apenas pare de se martirizar e punir.

Kiire JoksOnde histórias criam vida. Descubra agora