Capítulo 01

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A mulher passou pelos corredores do departamento de edição sem dar ouvidos àqueles que a chamavam. Em uma das mãos ela carregava a notícia do dia, quase sendo amassada pela força que exercia sobre a folha, enquanto os pés pisavam com força no chão. A vontade que Yoo-ri tinha naquele momento era de jogar para bem longe o seu crachá, mas não podia fazer isso, estaria abrindo mão de algo que lutou muito para alcançar.

Parou em frente a porta, onde estava escrito em um letreiro "Redator Chefe".

Ela contou até três, cerrando um dos punhos tentando controlar a raiva, e aproveitou para prender bem seu cabelo — que sempre a atrapalhava, indo para a frente de seu rosto nas horas mais inoportunas.

Sem demora, empurrou a porta, adentrando sem permissão a sala daquele que era seu chefe.

— Vocês apagaram. — Jogou a folha que carregava sobre a mesa de madeira, espantando o homem que se encontrava bastante concentrado no próprio celular. — Cortaram parte do meu texto, por acaso o senhor sabe quanto tempo eu passei pra investigar isso?

O tom da voz de Yoo-ri saía cada vez mais alterado, e ela, por sua vez, tinha a mandíbula trincada — suas fontes saltavam, ressaltando a raiva e a dor de cabeça. Ela comprimiu os lábios ao perceber que o superior simplesmente fingia entender o motivo das reclamações.

O homem ergueu o olhar por debaixo das lentes grossas, encarando com os seus olhos — levemente azulados, como as águas de um pequeno recife — a jovem ali em sua frente, aparentando estar extremamente frustrada.

— O que deseja Srta. Nam? — Pôs os cotovelos na mesa e apoiou o queixo redondo em ambas as mãos.

— Sabe muito bem do que estou falando. A matéria que eu escrevi — apontou para si mesma, e depois para a folha de jornal — sobre o acidente na Kiire Joks, é disso que estou falando. E do fato de terem simplesmente apagado trechos.

— Precisa se acalmar e entender que não funciona assim, se seu texto não foi totalmente autorizado, aceite. — Falou ele, de uma maneira simples, voltando a atenção para o celular, quase que apagando imediatamente a existência da outra ali.

— Qual foi o erro? — Yoo-ri insistiu. — Não tinha nada demais ali, eram apenas suspeitas, o povo gosta disso, e da verdade. É o que fazemos, senhor.

— Não, vocês fazem o que for aceito. E se a sua matéria não era totalmente coerente, é nossa obrigação modificar. — O homem endureceu a voz, passando a ficar de pé, para deixar óbvio a sua posição superior no jornal.

— Claro. — A morena ergueu ambas as sobrancelhas, umedeceu os lábios finos ao levar as mãos até a cintura. — Pagaram, não foi? Assim a obrigação de vocês se torna o que eles exigirem, basta uma boa quantia...

— Saía imediatamente! Ou sai, ou perde o emprego, posso considerar isso uma calúnia, senhorita.

— Considere a droga que quiser. — Yoo-ri mordeu sua bochecha internamente, antes de iniciar os passos para fora da sala.

 — Yoo-ri mordeu sua bochecha internamente, antes de iniciar os passos para fora da sala

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— Yoo-ri, precisa ficar calma minha irmã. Já é a terceira vez que a guarda chama nossa atenção. — Yu-na, irmã mais velha e detenta na prisão, pediu mais visto que a jornalista ficasse calma.

— Yu-na, eles apagaram boa parte da minha matéria, tudo porque falei sobre as possíveis maçãs podres dentro do esporte. — A jornalista deixou o corpo relaxar sobre o encosto da cadeira, levando as mãos até a cabeça, aproveitando para jogar um pouco pra trás. — Não aguento, irmã.

— Você é jovem demais para estar estressada.

— Fala como se você fosse velha demais, sendo que são apenas sete anos de diferença. E cinco anos da sua vida, até agora, você passou na cadeia.

— Por agir como está agindo agora — Yu-na arrastou a cadeira mais para perto da mesa que separava as duas irmãs, o barulho que o material de alumínio fez em contato com chão, chamou a atenção de uma das guardas, mas a mesma não fez nada além de olhar rapidamente. — Precisa parar com isso, Yoo-ri.

— Não quero, Yu-na, vou entregar quem fez isso com você, e todos os outros que estiverem na frente. — Puxou as mãos da mais velha, segurando firme, tentando transmitir um pouco de força para a outra.

— Como estão Mamãe e Papai?

— Bem, mamãe não sabe o que faço na prática. Quando nosso pai vê alguma matéria minha que seja escandalosa demais, ele queima para que ela não veja.

— Ela não quer que você acabe assim como eu, nessa prisão, com uma vida inteira perdida. — Yu-na direcionou o olhar para baixo, tentando fugir das lembranças e o do olhar de Yoo-ri que pesava sobre si.

O tempo na prisão podia estragar as pessoas. Com Yu-na não era diferente, a mulher estava mais magra, a pele já não era tão corada, algumas linhas de expressão apareciam. Os cabelos que eram tão escuros como a noite estavam cheios de pontas duplas e ressecados. Fora os traços físicos, a mulher encontrava-se desgastada mentalmente. Pesadelos que não a deixavam dormir — por isso as olheiras —, as ameaças de outras detentas, e o medo que sentia em relação à segurança de si própria, até mesmo da mais nova.

Para Yoo-ri, Yu-na sempre foi um exemplo, e tinha sido por conta dela que a jornalista tinha seguido aquela carreira.

— Vamos! Onde está aquela mulher guerreira, uh? — Yoo-ri segurou mais firme ainda nas mãos da irmã, olhando profundamente nos olhos delas.

— Eu luto todo dia pra sobreviver aqui dentro.

— Não é disso que estou falando, quero saber cadê a sua coragem, antes você também queria desmascarar eles tanto quanto eu.

— Acontece que antes eu não estava nessa droga! — Soltou de imediato as mãos da outra, desferindo um murro contra a mesa. Ação que fez com que Yoo-ri levasse um pequeno susto. — Isso é difícil, nada vale a sua liberdade Yoo-ri.

— Mas vale a sua. — Yoo-ri apanhou a bolsa sobre a mesa, e sem mais delongas, empurrou a cadeira para trás, ficando rapidamente de pé. — E nem que eu acabe aqui, eu vou derrubar todos os que acabaram conosco. Um por um eles vão engolir cada palavra e cada injustiça.

Nam Yoo-ri saiu da prisão segurando o choro e a insatisfação; detestava ver a própria irmã decaindo

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Nam Yoo-ri saiu da prisão segurando o choro e a insatisfação; detestava ver a própria irmã decaindo. Enquanto andava pelas ruas, com a intenção de voltar ao trabalho, sentiu o celular vibrar dentro do bolso da frente da calça. Limpou a última lágrima antes de atender a ligação.

— Yoo-ri? — Mesmo que um pouco abafada, a mulher sabia reconhecer a voz alterada do colega.

— Oi Joonie, estou voltando.

— Tenho uma notícia para você. — O outro falou com tamanho entusiasmo.

— É só falar.

— O motoqueiro do caso Kiire Joks sobreviveu.

Parecia que o sol tinha renascido outra vez naquele dia. Yoo-ri não pensou duas vezes antes de pegar o primeiro táxi que passava na rua.

— Não fale mais nada, estou indo. — Guardou o celular de volta no bolso, abriu a porta do veículo em seguida, entrando nele para que o motorista iniciasse a partida. — Para o hospital central, por favor. 

Kiire JoksOnde histórias criam vida. Descubra agora