03.

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Zaira Mayara.

Na posição "postura do cachorro olhando para baixo", de ponta-cabeça, eu vejo meu pai me observando escorado no batente da porta do meu quarto.

A playlist de meditação rolando no meu celular enquanto a brisa do final de tarde faz meus cachos voarem, sento no tapete de yoga e dobro meu joelho direito, enquanto minha outra perna fica reta, e descanso minha mão sobre o joelho direito, meu tronco e rosto virado pro lado da perna dobrada.

Fecho o olho inalando o cheiro do incenso queimando no pratinho e respiro fundo sentindo meu corpo ficar até mais leve depois de finalizar com uma breve meditação.

- Nossa eu tava com a energia super drenada. - Levanto estalando meus ossos das costas e enrolo o tapete colocando por baixo da minha cama.

Kira: Muito relaxante te ver fazendo isso. - Fala deitada na minha cama e eu pego a minha garrafa térmica de água, dando um gole.

Atacante: Eu não sei como cês consegue ficar de boa com esse cheiro aí. - Fala ainda escorado no batente da porta.

- Vigia, hein, seu Zaion? - Brinco. - Vai ver o teu obsessor é forte.

Atacante: Meu obsessor é você, Zaira, isso que é. - Fala fazendo eu e a Kira dar risada.

Pego o pote onde coloquei os meus cristais, vendo eles no sal grosso, e pego o incenso passando a fumaça dele por cada cristal de olho fechado.

Atacante: Nossa bruxinha, ala. - Ouço a voz dele e abro ligeiramente o olho direito vendo ele e a minha mãe me olharem com mó atenção.

Minha mãe deita a cabeça sobre o peito do meu pai, abraçando a cintura dele, e eu sorrio olhando pra eles, definitivamente independente das brigas eu tenho eles como meta.

Atacante: Nós vai descer pra pista hoje, as coisas de vocês tão arrumadas? - Pergunta com o queixo apoiado na cabeça da minha mãe.

Kira: As minhas estão. - Fala mexendo no celular dela e eu sento na ponta da minha cama fazendo um coque na minha juba.

- Eu vou ficar por cá, essa semana não tem cursinho porque a professora tá com o filho doente, então só vou precisar tá indo pra pista trabalhar mesmo.

Atacante: Pai não dorme bem com uma pretinha em falta lá em casa.

- Eu vou ficar bem, qualquer coisa eu ligo e volto rapidinho.

Kaira: Deixa ela, Zaion, nossa neném já não é neném. - Fala acariciando o peito dele. - Além disso vai ter o Paulista por perto pra cuidar.

- Isso, pai.

Atacante: Se as patroa falou, tá falado né.

Há exatamente três anos, quando meu pai quarentou, muita coisa mudou. Ele passou o comando daqui pro Paulista e nos mudamos pra mansão que ele tem no condomínio do CV, na pista.

Desde então essa casa aqui no Alemão a gente só usa quando vem passar final de semana, ou fazer qualquer outra coisa por cá.

Do mesmo modo aconteceu com o tio Mota e a minha madrinha, de vez em quando vêm pra casa deles aqui mas na maioria das vezes eles estão na casa deles da Barra.

Meu dindo Bil a mesma coisa, tá morando com a tia Mariela num condomínio também do CV desde que passou o comando do Lins pro Breno, e te falar, isso quase deu em divórcio dele e da tia Mari porque ela não queria o meu primo nessa vida, mas se ele quis, fazer o quê.

Kira: Essa sexta-feira eu termino as provas e as minhas férias começam, eu venho ficar aqui com você. - Ela fala me abraçando por trás, a juba dela cobrindo todo meu rosto quando ela se debruça sobre mim.

Kaira: Sobrou bastante comida do seu aniversário ontem, a gente tá levando uma parte e a outra eu guardei em potes e coloquei no freezer. - Ouço ela falar e pego o meu gatinho no colo, tirando da caminha que eu improvisei enquanto as coisas que eu comprei pra ele da shein ainda não chegaram.

- Tá bom, mãe.

Minha mãe recebe uma ligação e sai indo atender, eu coloco o meu celular pra carregar e paro na frente do meu pai encarando a cara de tralha dele.

O cabelo na régua, o corte na sobrancelha, a barba ralinha, o brinco de diamante na orelha direita, a corrente de prata no pescoço, a mão contendo a aliança no dedo anelar e um anel prateado com uma pedra azul no dedo mindinho, trajadin com o manto do Mengão, o vulgo gravado nas costas da blusa, tá envelhecendo igual vinho.

- Muito lindo, cara, não dá. - Fico na ponta do pé beijando seu queixo, a barba rala causando uma leve coceira nos meus lábios.

Ele me abraça fazendo eu olhar pra cima, recebendo um beijo na testa enquanto seguro seus braços pra não cair. Ele passa a língua no lábio fazendo eu bater o olho no nome da minha mãe tatuado na horizontal bem abaixo do seu lábio inferior.

Não aceitarei menos que isso.

Desfaço o abraço e ele pega a minha mão, beijando as costas da mesma, meu olho analisando a data de casamento deles tatuada nos dedos da mão esquerda.

Eu amo que o meu pai é obcecado por nós, ele tem também Zaira Mayara e Kira Yara tatuado no peitoral direito logo abaixo das nossas datas de nascimento.

Kira: Ai, tô ficando com ciúme. - Faz bico.

Atacante: Fica não, pô. - Me solta indo na direção dela. - Quem que é a caçula do pai, quem que é? - Pergunta abraçando ela e eu dou risada.

Imaginem um homem do tamanho dele fazendo essa figura, tudo pra mim. Nem parece o homem que geral teme.

Kira Yara de Oliveira Ferreira

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Kira Yara de Oliveira Ferreira.
14 anos.

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