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Suellen volta pro quarto me obrigando a tomar a água que deixou e mandando eu tomar banho em seguida, eu faço no modo automático, com a mente matutando pra caralho, e quando saio me visto.

Suellen: E ela como tá? – Pergunta olhando pra mim.

— Isso que eu vou lá no posto saber, deixei ela sendo examinada e pá.

Suellen: Quer que eu vá com você? – Nego com a cabeça.

— Precisa não, minha princesa. Tu amanhã tem faculdade de manhã e de noite estágio. – Abraço ela beijando a lateral da sua cabeça. – Vai descansar.

Suellen: Qualquer parada tu me grita, Ryan. – Me solta apontando o dedo e eu assinto confirmando.

— Ainda, pô.

Ela sai e eu pego a minha carteira junto da peça e as chaves da minha nave. Encaixo a quadrada no coldre e saio do meu quarto passando pelo corredor indo direto pra porta que dá pro quintal.

Abro o portão, saindo, e tranco antes acionar o alarme da nave sinalizando que as portas destravaram. Entro dirigindo até o postinho e chegando lá franzo as sobrancelhas ao ver a Clara assinar uns papéis no balcão antes de sair pegando o celular ligando pra alguém.

Meu celular chama e eu atendo vendo que é ela.

Clara: Amor? – Engulo o acúmulo de saliva antes de responder.

— Oi.

Clara: Me liberaram no postinho já, tem como cê vir me buscar? – Meu carro tá parado por trás de três carros então isso explica o porquê dela não ter me visto.

— Tô aqui já. – Dobro o volante pra direita avançando com o carro e paro bem rente à passagem da entrada.

Ela desliga sendo iluminada pelo farol assim que passa pelo vidro dianteiro e abre a porta sentando no banco do passageiro.

Clara: Chegou tem muito tempo? – Sorri se inclinando pra me beijar e eu fico parado sentindo pegar no canto da boca porque se eu me mover vai ser pra dar só um empurrão.

— Agora. – Respondo tirando o cinto de segurança. – Trocar um papo com a doutora rapidinho e nóis mete o pé.

Clara: Tudo bem.

Eu abro a porta saindo do carro e entro no posto cumprimentando a rececionista e as pessoas que encontro por cá.

— Tem como eu falar com a doutora que atendeu a moça que acabou de sair? – Falo com a rececionista. – Clara Araújo.

— Claro, primeira porta à direita que tu vê no corredor. – Agradeço e vou pra lá batendo antes de entrar.

— Boa noite, doutora.

Dra: Boa noite, sua namorada acabou de sair daqui. – Aponta pra cadeira e eu nego com a cabeça querendo continuar em pé.

— Tô ligado, mas não tá cedo pra ela ir pra casa não?

Dra: Por mais que tenha sofrido uma fratura pode sim, prescrevi um gel muito bom pra ela passar e em menos de uma semana vai tá como nova.

— Não querendo dizer como fazer o teu corre. – Pigarreio limpando a garganta. – Mas eu achei que alguém que passa por um aborto como esse tivesse que ficar pelo menos uma noite em observação ou algo parecido. – A mulher franze as sobrancelhas e me encara parecendo confusa.

Dra: Mas ela já teve um aborto espontâneo tem um tempinho, do que você tá falando? – Puta que pariu, só posso ter escutado errado.

— Como assim? – É tudo que sai da minha boca. Essa caralha não brincou com cara de malandro desse jeito.

Dra: Semana passada ela chegou desesperada aqui, tava com sangue escorrendo pelas pernas, perguntando o que fez de errado. Infelizmente veio tarde demais, não deu pra segurar o bebê e eu até quis te ligar porque você se fez presente na maioria dos pré-natais porém ela disse que ela mesma ia contar.

— Jaé então. – Confirmo saindo de lá possesso.

O pior é que de cara eu já tinha notado que ela não tava reagindo como alguém que acabou de perder um filho em menos de vinte e quatro horas, porém não levei isso em consideração porque eu também não sou das melhores pessoas pra demonstrar sentimentos.

Entro no carro passando a mão no rosto e coloco o cinto dando partida, a surra que a Mayara não terminou de dar nela eu me seguro pra não dar aqui e agora. O choro falso dela só me deixando mais bolado.

Clara: Meu Deus, vai mais devagar, amor. – Pede quando eu acelero dobrando a esquina e eu paro abruptamente fazendo ela ir pra frente batendo a cabeça no painel do carro. – Por que voc...

Suas palavras somem dentro da sua garganta quando eu grudo a minha mão no seu pescoço enforcado sem nem usar metade da força que eu quero, ela se debate dando tapas na minha mão e eu pressiono a cabeça dela contra o vidro do carro, batendo.

— Deve se achar a mais fodona pra brincar com a cara de vagabundo, né não, cachorra? – Afrouxo o aperto quando vejo que ela vai apagar e ela nega com a cabeça chorando, sorrio vendo cada lágrima descer de seu olho. – Finalmente uma coisa verdadeira no meio de tanta falsidade.

Clara: Eu juro que eu ia te contar. – Funga. – Só precisava de tempo pra digerir.

— Tempo pra digerir ou pra eu te apresentar como fiel? – Ela fica calada e eu seguro pelos cabelos com força, tirando dela um gemido de dor. – Hein? – Sorrio amargamente. – A vontade que eu tô de te descer a porrada não tá escrita, mas tô preferindo reprimir ela porque se eu te pegar pra te bater eu só paro quando tu for pra vala! – Cuspo as palavras na cara dela e abro a porta empurrando ela pra fora do meu carro. – Tu me ver passando na rua já muda de rota, só pra não te mandar meter o pé daqui.

Bato a porta travando, quando dou partida no carro olho pelo retrovisor ela correndo atrás dele até eu pisar fundo no acelerador, deixando ela pra trás.

Paro o carro em uma rua qualquer me sentindo sufocado pra caralho e sem pensar duas vezes ligo pra única pessoa capaz de me trazer de volta pra mim.

Essa Noite.Onde histórias criam vida. Descubra agora