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Sinto o cheiro do incenso mais forte e abro um dos meus olhos vendo a Zaira passar o bagulho em minha volta, quando ela vem vindo pra frente eu fecho o olho rapidão pra não tomar esporro por ter aberto.

Ela continua falando palavras de afirmação enquanto repete um mantra, espirro quase sendo asfixiado pelo cheiro e dou uma tossida antes correr pra janela no meu limite.

Abro a boca sentindo o ar fresco bater no meu rosto e inspiro ar pra caralho quando ela para perto de mim falando que ainda não acabou.

- Acabou sim, pô, desse jeito tu me mata intoxicado. - Passo a mão no meu peito descoberto, alisando.

Zaira: Mato nada, para de drama. - Aproxima o incenso e eu pego da mão dela jogando pela janela abaixo.

- Quase me mata asfixiado, quem que ia te comer da melhor forma? - Ela desfaz a cara de bolada sorrindo safada.

Abraço ela descansado o queixo sobre a sua cabeça e ela distribui beijos pelo meu peito, deixando a marca do gloss rosado e brilhoso dela.

Zaira: Vai arrumar suas coisas quando? - Joga a cabeça pra trás pra poder olhar pra mim. - Amanhã cedo a gente já vai.

- Vamo comigo, ajudar teu tchuco. - Giro ela abraçando seu pescoço e caminho com ela na minha frente, o corpinho pequeno encaixado no meu.

Ela me ajuda a arrumar minhas coisas e quando nós tá subindo o zíper da mochila todas as luzes da casa se apagam, deixando a gente no bréu.

Zaira: Ué. - Pego na mão dela caçando o quadro de distribuição do lugar.

Ela liga a lanterna do celular e nós para no corredor da sala, retiro a tampa do bagulho olhando os disjuntores tudo em ordem.

- Não faz sentido, essa porra tá tudo certa. - Volto a tampar o quadro.

Pego meu celular na intenção de ligar pro Raúl mas não tem nem uma barra de sinal, Mayara tenta no dela e tá a merma parada.

Zaira: Misericórdia, do nada isso. - Respira fundo.

- Eu vou sai... - Ela arregala o olho negando com a cabeça. - Preciso ir ver.

Zaira: Eu saio contigo então. - Agora é a minha vez de negar com a cabeça. - Então ninguém sai, caralho. Nunca viu filme de terror não?

Caminho pela sala e paro perto da janela, bem no canto, arrasto a cortina pra direita e xingo baixo ao olhar dois corpos estirados no jardim.

Mayara para por trás de mim e eu aperto o olho reconhecendo dois dos quatro soldados que o Raúl mandou pra fazer a contenção da casa.

- PUTA QUE PARIU. - Chuto o vaso na minha frente e nós corre pra cima depois de checar que as portas estão trancadas.

Pego o meu fuzil T4, posicionando entre o meu braço e a minha costela enquanto me aproximo da janela no centro do corredor aqui de cima.

Engulo o acúmulo de saliva ao bater o olho nos outros dois que tava faltando, também mortos, os corpos boiando na merda da piscina cuja água tá vermelha de sangue.

Sinto a testa da Mayara grudar nas minhas costas nuas antes de escutar ela fungar baixinho e sentir suas lágrimas deslizarem pela minha pele.

Zaira: Eu tô com medo. - Puxo ela pra mim, secando suas lágrimas com a mão livre e beijo sua cabeça, ela tremendo nos meus braços.

O ódio que eu tô não tá nem escrito, do miserável que tá causando essa merda e consequentemente assustando ela, e principalmente de mim por tá fazendo ela passar por isso, eu não devia ter deixado ela brotar comigo pra início de conversa.

- Escuta aqui. - Seguro seu rosto olhando seus olhos molhados, o narizinho já vermelho. - Nunca enquanto eu respirar vai acontecer algo com tu. - Falo sério. - Tá me escutando? - Ela assente e eu pergunto novamente querendo ouvir a resposta.

Zaira: Eu tô. - Me abraça.

- Agora eu preciso que tu tente de todas as formas possíveis ligar pro Raúl enquanto eu olho todas as janelas, tá bom? - Ela confirma desbloqueado o celular e me acompanha fazendo o que eu pedi enquanto eu olho tudo fazendo a vistoria em cada canto da casa.

Da janela do último quarto eu posso ver a picape daquele imundo estacionada bem na frente da casa, tinha que ser...

Pablo: RYAN SAI E VEM BBRINCAR COM O PAPAI. - O velho grita e eu olho em volta tentando achar o cuzão.

- POR QUE TU NÃO ENTRA? - Abro a janela e grito de volta. - TEM UMA T4 AQUI TE ESPERANDO, SEM FALAR DOS OUTROS BRINQUEDOS.

Tivesse sozinho eu já teria saído pra acabar com essa palhaçada, porém com a Zaira aqui é um piso em falso meu e a vida dela corre perigo. Minha preocupação é ela e só ela, tô foda-se pra mim. Não sei quem me mata primeiro, eu mermo ou Atacante.

Zaira: Tu lembra que quando a gente usava 4G pegava melhor lá embaixo? - Assinto. - Acho que tem mais chance de pegar rede lá.

Nós desce de novo e é tudo muito rápido, eu tenho o vislumbre do reflexo do velho assim que nóis para na frente do janelão entreaberto sem cortina e ele efetua um disparo certeiro que vem na nossa reta.

Giro meu corpo e o da Mayara, invertendo as nossas posições, e urro deixando o fuzil cair quando a ardência da bala adentrando no lado direito do meu peito me toma fazendo eu cair no chão, na hora Mayara dá um grito estridente pra caralho, chega ecoa pela casa toda.

Essa Noite.Onde histórias criam vida. Descubra agora