21.

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Maratona concluída.
{3/3}

Paulista.

Como que eu explico que o que mudou de repente é o facto de que antes eu me segurava no pensamento de que ela, acima de ser filha do homem que eu mais respeito e admiro nessa vida, era uma menina de menor e agora que ela é uma mulher eu tô com medo de não ter como me segurar e acabar por fazer o que tenho vontade desde que ela se tornou adolescente.

Zaira: Me responde, Ryan. - Chega perto, fazendo eu olhar pra baixo pra poder olhar no seu olho.

Fecho o olho e falo algo que eu nunca pensei em falar, de tão desesperado.

- Tu não tem ficante pra dormir agarrada não?

Zaira: Porra, Paulista, não fode! - Fala alto boladona. - Se eu tô pedindo pra você é por que é você que eu quero, mas tá tudo bem, pode ir embora. - Sai da minha frente deixando a passagem livre, como se tirar o corpinho pequeno dela do caminho fosse ser uma grande dificuldade.

- Melhor assim, morenão. - Faço menção de tocar no rosto dela que desvia e dá um tapa na minha mão.

Zaira: Vai embora, Ryan. - Pede com os olhos brilhando e eu bufo.

- Não chora, Mayara. - Puxo ela pra mim, ela se debate e segundos depois tá com o rosto enterrado no meu peito e os braços curtos abraçando a minha cintura enquanto eu tô com o queixo apoiado sobre seu cabelo volumoso e leve. - Eu fico.

Deito na cama dela que enfia o rosto na curva do meu pescoço e passa a perna pelo meu quadril, o braço dela esticando até alcançar a minha mão onde ela entrelaça nossos dedos respirando fundo.

Zaira: Eu te amo. - Susurra e eu beijo a cabeça dela fazendo cafuné com a mão livre.

Ela adormece e antes mesmo que eu cogite ir embora, o sono me pega fazendo eu capotar ali mesmo, todo desconfortável porque ela tá mais em cima de mim do que na cama, me deixando imóvel por medo de me mexer e acabar acordando ela.

{...}

- Passa a visão. - Falo com o radinho na mão, encarando a movimentação aqui na rua onde o tráfico come solto, e em seguida escuto a voz do Silveira na linha.

Silveira: Tô com o playba Juan aqui, chefia, assaltou uma moradora agorinha.

- Sobe pra cá com o otário que ele vai tomar madeirada da boa, quer roubar que roube os rico do meio dele. - Falo alto boladão em plenas onze da manhã. - Tá me tirando a palhaço pra roubar gente honesta e trabalhadora na minha quebrada, só pode. - Bufo saindo da merda da frequência.

- Hoje o patrão mata um. - Ouço um dos cria comentar.

Isso só pode ser teste pra minha fé que já não anda boa, se gente daqui apronta por cá cai na madeira sem dó os de fora então eu nem falo, é muita audácia nego querer chegar metendo o louco num meio que não tá familiarizado achando que o poder que tem fora vai ter efeito aqui dentro onde o malandro é a lei.

- Não ligo que teu cu tá cheio de droga, meu bom. - Esculacho logo que o filha da puta é colocado na minha frente, dentro da salinha. - Tu pega parada minha sem pagar, some por dias dando perdido e agora quando volta assalta gente NA MINHA QUEBRADA? - Grito vendo o fudido suando com a pele pálida, as pupila tudo dilatada enquanto ele olha pros lado assustado.

Juan: Meu pai é...

- FODASSE QUEM É TEU PAI, MERMÃO. - Corto ele praticamente cuspindo as palavras na sua cara. - Eu sou o Paulista, aqui dentro é palavra minha e não do teu pai, teu otário.

Ele tosse coçando o nariz, todo fudido, a abstinência batendo na portinha dele. Por mais que me agrade ver gente da direita nesse estado, eu quero a porra do meu pagamento.

Giro a minha dedeira de outro no dedo indicador enquanto olho pra sua cara pálida de morto vivo.

- Meu pagamento, cadê?

Juan: Eu-eu. - Olho pra trás e passo a língua no lábio antes de virar pra frente e socar a cara dele no ódio, a cadeira indo pra trás com o peso, fazendo ele cair e tossir cuspindo sangue. - Eu juro que meu pai percebeu que eu tô dependente e parou de me dar grana, assim que eu conseguir eu dou, só me dá mais um tempo.

- A moral que tu já não tinha comigo foi pra puta que pariu, playba. - Assovio pro Silveira fazendo sinal com as mãos apontando pro zé dependência jogado no chão. - Pega a chave da nave dele.

Juan: Aí é sacanagem, pô, tô dormindo lá porque nem em casa mais eu sou bem vindo. - Levanta tentando fugir e quando alcança a porta dá de cara com o Bin que encara ele com o fuzil atravessado no peito, cobrindo a passagem enquanto nega com a cabeça encarando ele com desaprovação.

Silveira faz uma vistoria pelos bolsos do zé dependência e pega a chave jogando pra mim, eu pego no ar o controle do Porsche girando no meu dedo.

- Tua nave já era, dívida quitada, quitada pra caralho. - Sorrio. - Isso aqui vale muito mais do que tu me deve, o triplo do triplo do triplo do triplo... - Respiro fundo guardando a chave no meu bolso. - Leva pro desenrolo depois bota pra piar. - Ordeno vendo o playba ser levado contra a sua vontade. - Aviador. - Chamo ele que chega mais.

Aviador: Qual a boa, chefia?

- Vai atrás daquele moleque que mexe com desmanche de carro, pergunta se ele tá interessado em comprar a carruagem do zé dependência...

Ele assente saindo e eu passo a língua no lábio acendendo um beck depois de respirar fundo.

Essa Noite.Onde histórias criam vida. Descubra agora