~Tudo meio assim...~

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Sem dúvida conhecer o Antônio e a Aisha assim que cheguei em Chicago foi muito especial e importante para que, nesses últimos 4 meses, eu tenha me sentido bem e acolhida.

Tudo com o Antônio é fácil e muito claro, e isso me dá um conforto muito grande, porque sei que com ele é sempre de verdade, inclusive a mania que ele tem de deixar tudo separado das cores quentes para as frias ~ pensa só como não são as gavetas das roupinhas da Aisha ~ ou de precisar de tudo escuro para dormir e quando essa opção não estava disponível colocava sempre uma camisa no rosto, coisas de Antônio.

De uma forma muito orgânica, a gente tinha criado uma rotina e eu praticamente dividia meu tempo entre os plantões e as aulas, plantões agora de 24 horas e nos meus dias de folga normalmente eu passava com o Antônio e a Aisha.


Nessa altura eu já tinha a senha da porta da casa, um dos quartos de hóspedes disponível para mim com as minhas coisas básicas para as vezes que eu dormi ali com eles, minha relação com a Joana e com a Amélia era excelente e eu sentia que elas gostavam de mim da mesma forma que eu gostava delas. Era fácil escolher nos meus dias de folga estar com eles, e o amor que eu criei pela Aysha eu não consigo explicar, a gente se dava muito bem. Ela tinha acabado de fazer sete meses e embora seja só um bebê ela era muito inteligente ou será que agora eu percebo crianças de um jeito diferente? Para quem antes não gostava de pegar bebê no colo, acho que estou me saindo bem.

Antônio me perguntava algumas vezes sobre o Brasil e o motivo real que eu tinha escolhido vim para Chicago, embora não fosse mentira que o upgrade na minha carreira seria gigantesco com especialização internacional e poder fazer parte de uma equipe tão reconhecida, ele sabia que não era a história inteira.

Por muitas vezes eu quis contar mas aí eu lembro de tudo que ele passou e também da cronologia do tempo afinal de contas tem só 4 meses que ele precisou se despedir da mãe da filha dele, eu sei que ele se importaria com que aconteceu comigo.. porque ele realmente se importa com as coisas que eu falo, com o que eu sinto, mas ainda não me sentia pronta para dividir com ele esse pedaço doloroso da minha história.

Eu não posso deixar de falar que essa atenção que ele dá para mim me deixa bem mexida, é porque é um contraponto tão grande com os homens que passaram pela minha vida e embora eu saiba que a minha relação com o Antônio é completamente diferente do que foi com esses outros caras, ainda assim a forma como ele me trata fica latejando sempre na minha mente.

Com o Luiz era tão estranho, eu lembro que demorou 5 meses para ele contar para família que ele estava comigo e nesse período todas as vezes que a gente estava juntos se precisava tirar alguma foto ele pedia para eu sair, se precisasse atender o telefone e a gente estivesse juntos eu não podia fazer barulho, como se ele precisasse de coragem para contar para as pessoas que ele namorava comigo, uma médica recém-formada na época.

Acho que foi por isso que eu me cadastrei e realizei a prova para essa especialização, para provar para ele que eu era mais do que uma médica recém-formada e que eu seria mais do que ele achava que eu seria capaz de atingir.

Quando eu penso que por muitas vezes as escolhas que eu tomei foi para e contra a forma como ele me via ou os outros caras que passaram na minha vida eu me sinto tão pequena. E eu só consigo perceber isso agora muito pela relação que eu criei com o Antônio nesses últimos meses.

Porque com ele, eu sempre estou no centro da minha vida, é sempre o que eu quero fazer, o que é importante para mim, se eu vou estar confortável ou não.

E isso me faz lembrar a primeira vez que eu dormi na casa dele, o cuidado que ele teve para que tudo estivesse impecável, me fez achar a coisa mais fofa do mundo.

Você sabe que eu sou médica, né Antônio? Eu já dormi em cada lugar... tem hospital que as salas de descanso são bem tensas, então eu fico em qualquer lugar...não precisa preocupar.. é sério, eu durmo na sala !

 ➖ Só que aqui você não é médica, você é a Amandinha e não vai dormir na sala...

Claro que ele trocou toda a roupa de cama e encheu a cama de travesseiro nesse dia, mostrou 3 vezes como o controle do ar e o da persiana funcionavam e se eu precisasse dele, ele estaria há exatos 6 passos no quarto do lado.

É tudo meio assim, porque não tem como eu não criar um paralelo na minha cabeça.

E o fato dele ser um gostoso não ajuda muito em evitar pensar nele de outras formas.
E eu também nunca senti que ele me vê de alguma outra forma além de amiga ~ o que de fato não é uma questão por tudo que ele passou no último ano ~ e a realidade é que é muito bom ser amiga do Antônio.

Acontece que ele é um lutador, bem sucedido, muito bem apessoado , carinhoso e gentil, o que eu tenho para oferecer para ele nesse lugar? Absolutamente nada! Então tudo bem o jeito que a gente vive.


Agora se dependesse de Lucy... a reação dela quando ele veio me buscar no hospital a primeira vez foi muito engraçada e desde de então,Lucy não sai do meu pé.

No fundo eu queria ter conhecido ele antes disso tudo, talvez quando a gente fosse jovem. Será que a nossa relação poderia ser diferente? Não sei responder essa pergunta também, além disso, eu acredito que as coisas acontecem do jeito que elas têm que acontecer então eu vim para ser amiga e ter alguém como ele do meu lado me apoiando, me incentivando e cuidando de mim é o suficiente, eu já sou muito grata e de forma nenhuma eu posso correr o risco de perder a coisa mais sólida que eu tenho na minha vida nos últimos tempos, então mesmo a minha cabeça às vezes me colocando pensamentos confusos eu sempre faço exercício de respirar e entender qual que é a prioridade para mim.

E a minha prioridade hoje é não deixar nada estragar nossa relação.

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" Amanda, hoje vamos fazer algo diferente... venha com uma roupa mais formal...e não me faça perguntas, não quero estragar a surpresa "

Olhei desconfiada para a mensagem que ele me enviou, sem nem um bom dia.
Tentei tirar dele de todo jeito o que seria, mas o falador Antônio, nesse dia resolveu fazer a bixa muda e não disse nada e isso só aumentou a minha curiosidade.

Já que eu tinha que ir com algo mais formal, teria que passar no meu apartamento depois do plantão antes de ir para casa dele, mas não seria difícil escolher o que usar, na verdade tinha um único vestido que eu trouxe do Brasil que fugia do padrão das minhas roupas, o que me fez pensar que até aquele momento não tinha comprado nenhuma roupa ou sapato em Chicago.

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Sai do banho enrolada em uma toalha e olhei o vestido na minha cama e sorri.

➖ É cada coisa que esse homem me faz passar... 

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