Um lugar ao sol

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21 de novembro de 2022

Dezoito anos depois...

As minhas pernas estavam extremamente cansadas de caminhar por incontáveis horas. Mas qualquer coisa era melhor do que passar o resto da minha vida naquele orfanato. Todos sempre me odiaram naquele lugar, todos sempre me trataram muito cruelmente e eu odiava viver lá. Eu não tinha amigos, não tinha descanso e muito menos paz. Eles não me tratavam como uma órfã em busca de uma família, para eles eu era uma empregada, ou melhor dizendo, escrava.
Os serviços sempre eram feitos por mim e eu não recebia absolutamente nada por isso. Além de insultos, grosserias e mais trabalho.

As moças e as órfãs sempre foram muito hostis comigo. Era sempre surras pesadas, palavrões e insultos. E tudo isso por causa dessas manchas no meu corpo. Mas a pior parte era ouvi-las dizer que eu nunca seria adotada, porquê ninguém iria querer um monstro como eu. Se até mesmo pelos meus pais biológicos eu fui renegada. E aquelas palavras doíam tanto.
Eram mais dolorosas do que as surras, a fome e as torturas psicológicas. Mas elas sempre estiveram certas. Ninguém nunca veio me buscar, eu sempre era rejeitada e ninguém nunca quis ser minha mamãe ou papai.

Eu sempre mantive viva a esperança e jamais briguei com elas. Porquê eu nunca quis ser como aquelas mulheres e órfãs. E talvez isso as deixassem irritadas. Porque mesmo quando estavam me maltratando, ferindo ou deixando-me ao relento, eu ainda continuava resistindo. Tudo me foi negado, a educação, alimentação, carinho, amor e até mesmo um simples conforto de uma cama. Eu nunca tive nada.
E com o passar dos anos, as coisas pioraram consideravelmente. Até ficar de uma maneira insustentável, que me obrigou a fugir, sem absolutamente nada.

A única coisa que eu tenho em minha mochila são três mudas de roupas velhas. Sequer um documento, porquê elas sempre estiveram convictas que eu nunca seria adotada. Então elas não se preocuparam com a minha documentação. Apenas me deram um nome imaginário. Eu havia aprendido algumas coisas, quando ia escondida na biblioteca mas infelizmente alguém sempre avisava e eu era castigada. Elas simplesmente me odiavam e era triste ver isso em seus olhos. Eu nunca fiz nada à elas, mas havia nascido diferente. E por isso, eu era um instrumento para descarregar o ódio.

A minha barriga protesta e eu sinto as minhas pernas ficarem mais moles. Eu estou com fome, com muita fome mas eu não tenho dinheiro. Eu tampouco sei para onde estou indo, apenas estou caminhando para longe do orfanato. Passo em frente a uma padaria e o cheiro delicioso que inspiro quase me fazem implorar por um pedaço de pão. Nem que fosse um duro, de semanas ou até mesmo um mofado.
As pessoas me vêem e rapidamente saem do meu caminho, com medo e repulsa.
Havia um homem na minha frente, ele ainda não havia me visto e estava tentando de maneira falha guardar a sua carteira. Mas ela cai, justamente em minha frente e ele sequer percebe, pois continuou andando.

Me abaixo até a sua carteira e vejo a quantidade de euros que há nela. Mas a minha consciência rapidamente me diz o quão errado seria não devolver. Eu estava com fome mas aquele desconhecido poderia estar precisando. E sem hesitar, eu apresso os meus passos e o alcanço. Ele era alto, muito alto. Usava roupas formais e parecia sério.

_Senhor? - O chamo cautelosamente

Evito o tocar para chamar a sua atenção, pois percebo uma arma em sua cintura. Ele poderia se assustar e atirar em mim, sem querer. Ou talvez por querer, ninguém gosta quando eu encosto em alguém.
O desconhecido se vira e naquele instante eu solto um longo suspiro ao vê-lo. Os seus olhos eram azuis como um dia ensolarado, seus cabelos eram castanhos e pareciam muito sedosos. O seu rosto era muito expressivo, fazendo-me chegar a conclusão que ele realmente era um homem muito bonito.

_Eu posso ajudá-la? - A sua voz era firme

_É... - Estendo a carteira - O senhor perdeu isso.

Diferentemente de qualquer outra pessoa que eu tenha conhecido, ele não a pegou e saiu correndo. Ele simplesmente abriu um sorriso e olhou-me de uma forma diferente. Ele não aparentava sentir repulsa ou desprezo. Era um olhar comum, como se eu realmente fosse normal.

Sublime AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora