Fogo e gasolina

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Observo o casal sentado em minha frente, compreendendo que a cada dia a verdade estava mais perto de ser revelada. Estive há alguns dias atrás no local do acidente e encontrei uma casa. E acreditava aquela era a chave para descobrir como a Zoe conseguiu sobreviver. E eu estava realmente certo.
O acidente foi proposital, a cada dia mais eu estava certo de que era verdade. Os freios estragados deixavam evidentes que alguém tentou assassinar a Samila naquele dia e uma pessoa em questão estava sob as minhas suspeitas.
A Lilian.

Ela era a única pessoa que estava com ela, no dia em questão. E ela conseguiu sobreviver, sabe-se lá como.
Eu tinha as minhas dúvidas quanto o caráter da esposa de meu pai, mas jamais imaginaria que ela seria capaz de tamanha atrocidade.
Por isso decidi convocá-la para depor e ouvi-la. Eu precisava obter respostas concretas e descobrir a verdade. Eu estava investigando o caso, a pedido do próprio Paul. Portanto todos os relatórios e exames daquele dia estavam nas minhas mãos. Eu sempre achei muito estranho o fato de estar justamente a Lilian presente naquele dia. E se ela realmente fosse a culpada, eu adoraria vê-la pagar. Não somente pela Samila ou pelo Paul mas também pela Zoe, que sofreu todos esses anos, indiretamente por sua culpa.
Eu apenas torcia para o meu pai não estar envolvido, seria decepcionante demais para mim.

_Eu tenho uma dúvida em relação ao seu depoimento. - Digo - Vocês encontraram o carro, com a moça dentro, certo?

_Sim. Ela estava grávida e deu a luz naquele momento. - Diz a moça

_E em seguida o carro pegou fogo?

_Sim, senhor. Nós tentamos ajudá-la, mas ela estava presa. E não daria tempo do meu marido ir à nossa casa buscar algo para cerrar a porta e tirá-la.

_Nós queríamos ajuda-la, senhor. Acredite em nós.

_Eu acredito em vocês. Mas eu não consigo entender uma única coisa. - Me sento - Por que vocês abandonaram o bebê?

Um silêncio ensurdecedor se instala na minha sala e ambos trocam olhares.

_Eu não sei. - A moça começa a chorar - A menina estava chorando muito.

_Ela nasceu prematura, caso não saibam.

_Ela deveria estar com frio ou com fome. Nós não sabíamos o que fazer, como cortar o cordão umbilical.

_Poderiam tê-la levado ao hospital.

_Estávamos apavorados. Nós tínhamos acabado de ver uma pessoa morrer queimada em nossa frente.

_Por que não esperaram a polícia e a ambulância? - Questiono - Eles chegaram nos minutos seguintes.

O casal era em idade avançada e realmente pareciam estar sendo sinceros. Mas infelizmente agiram com imprudência.

_Ou vocês poderiam entrar em contato com a família do bebê. Por que não fizeram nada disso? - Pergunto diretamente - Por que preferiram abandonar um bebê recém nascido na porta de um orfanato?

_Desculpe-me, senhor delegado. Mas nós não temos uma resposta para essa pergunta. Estávamos nervosos e apavorados. A única coisa que pensamos foi em tentar ajudar aquela criança.

_Deixá-la abandonada em um orfanato qualquer não ajudaria. Principalmente se ninguém tivesse a encontrado.

_Eu sei que agimos de forma errada. E não há um dia sequer que eu me esqueça do que eu fiz.

_Se acalme, querida. - O homem tenta acalmá-la - Você não pode ficar nervosa.

_Por todos esses anos, eu me questionei desta péssima decisão. Eu deveria tê-la criado ou feito qualquer outra coisa, mas eu errei. Eu sei que eu errei e por minha culpa algo terrível deve ter acontecido com ela.

Sublime AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora