Corte de Estrelas Caídas

15

A respiração de Stella era regrada, seus ouvidos estavam atentos a todos os sons daquelas árvores, de esquilos a pássaros, o coração batia de forma calma, compassada, os olhos violeta salpicados de estrelas concentrados em um único ponto: aquele cujo a ponta da flecha engatilhada no arco apontava.

O alvo era um veado jovem distraído pastando a beira do riacho e ele mal poderia desconfiar que sua morte estava a apenas um tiro ao Stella soltar os dedos firmes da linha do arco e soltar a flecha que voou reta e certeira na cabeça do animal transpassando o crânio dele que sequer teve tempo de dar o grito da morte e já cair sem vida no chão.

Stella abaixou o arco, queixo erguido e cheia de confiança, então sentiu uma massa grande e quente se aproximando por suas costas e a boca do macho chegou próxima a sua orelha pontuda.

— Um tiro lindo, meus parabéns — disse Adonis a fazendo sorrir e voltar o rosto para ele, os dois próximos demais.

— Obrigada, agora, vai pegar o nosso alimento — ela disse o fazendo revirar os olhos, mas logo o grande macho alado de cabelos ruivos escuros se afastou e fora até a carcaça do animal morto o pegando pelos chifres.

Adonis o jogou pelos ambos, aguentava o peso tranquilamente, o que era de se assustar às vezes.

— Vamos — ele disse e Stella guardou o arco o pendurando de travessado contra o peito e o seguiu por entre as árvores na direção de seu acompanhamento.

Fora uma caminhada de dez minutos, o sangue o animal pingando por todo o caminho e sujando roupa preta de Adonis, mas ele não parecia se importar com o fato, na verdade, pouca coisa o incomodava, ele era um grande mistério, ao mesmo tempo que acreditava conhecê-lo, ele ia e dava sinais para ela de que não o conhecia em nada, o que era um pouco frustante.

***
Quando chegaram ao acampamento, Stella usou a magia para limpar e fatiar a carne do veado, a porção iria durar por alguns dias, pelo menos até eles irem embora dali.

Ela estava sentada no tronco ao lado da fogueira cuidando do espeto que girava sozinho assando a carne lentamente, porém a atenção da princesa logo fora no grunhido irritado de Adonis próximo ao lago e olhou para ali o vendo tirar a túnica preta deixando em evidência o grande corpo musculoso sujo de sangue.

— Porra — ele disse jogando a túnica no chão, na beira do lago e Stella deu um baixo riso.

— Acho que um banho lhe cairia bem — ela disse e ele soltou os ombros, ergueu o rosto e bufou alto pela boca.

— Eu também acho — ele disse tirando as botas e as meias e levando as mãos ao cinto da calça preta de couro e Stella ergueu as sobrancelhas.

— Vai tomar banho aí? A água é gelada, é melhor ir nas fontes... — ia dizendo.

— Eu gosto de água gelada — ele disse abaixando as calças e Stella rapidamente olhou para o outro lado evitando assim ver o macho nu.

— Você é extremamente estranho — ela disse escutando os passos dele na água e depois o som do corpo afundando aos poucos.

— Culpe o sangue de ninfa da água de minha mãe — ele disse por fim e o som dele pulando de ponta fez com que Stella olhasse para o lago e visse apenas a água se movimentando.

Stella deu de ombros e se abraçou voltando a atenção a carne sendo assada, ela ficou ali olhando paga o fogo e logo começou a imaginar pequenas fadas dançando entre as chamas, fluidas e naturais como aquele fogo que preparava seu almoço, mas algo começou a incomodar a princesa, e esse algo era a demora de Adonis ao voltar a superfície da água.

Ela olhou para o lago, apenas o som da queda da cachoeira, a água azul calma, sem movimentação alguma.

— Doni? — ela chamou e não obteve resposta. — Adonis?! — chamou mais alto agora se levantando.