Capítulo 2

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-Chamada 140...repetindo chamada 1.4.0. 

Bi,bi,bi,bi,bi... 

-Dr. Vicente, chamada 0.3.2. emergência. 

O que eram todos esses números...?...

 •••

 Tinha algo me incomodando, um barulho soava ritmado, que doía, incomodava. Meus olhos estavam fechados e pesavam uma tonelada. O bi,bi,bi não parava, porque ninguém desligava ele?

Tentei me mexer, mas percebi que tinham colocado algo muito pesado em cima de mim, porque alguém faria isso? Forçando meus olhos novamente consegui abri-los lentamente, uma luz clara me cegava, depois de várias tentativas consegui focar o teto branco em cima de mim. Aquele não era o meu quarto, fazendo um esforço fenomenal consegui movimentar a cabeça na direção que incidia uma forte luz, bem ao lado da onde eu estava, em uma poltrona singela, minha mãe toda retorcida, com um livro em seu colo e o rosto apoiado na mão. Ela dormia. Embora eu percebesse a fragilidade que estava, parecia abatida, cansada.

 Erguendo os olhos um pouco para o lugar aonde aquele som irritante vinha, detectei caninhos transparentes, fios, e uma maquina gigante. MeuDeus! O que eu estava fazendo em um hospital...?! 

-BRENDA! – a verdade veio de súbito, rápida na velocidade da luz, me atingindo em todos os lugares, o caminhão, a batida, a explosão... – Eu sobrevivi... 

Mesmo grogue e com a voz seca, soando quase inaudível isso bastou para tirar minha mãe do leve cochilo. 

 - Tela! Você está bem? Como está se sentindo? – Ela se ajeitou rapidamente na poltrona, pendendo para frente, segurando minha mão, seus olhos estavam inchados e neste momento começavam a se formar mais lagrimas. – O médico disse que o pior já passou, logo vamos para casa, meu amor!

 -Mãe, como está a Brenda? A Dani? O que aconteceu?

 Minha voz começava a ficar histérica, o barulho irritante aumentou a um ritmo frenético, minha mãe se inclinou apertando um botão ao lado da cama.

 -Se acalma Stela, você não pode entrar em pânico assim, não faz bem. Você passou por muita coisa, estamos todos preocupados. 

 Do nada um grupo de enfermeiros adentrou na sala, trazendo uma seringa e diversas bugigangas de medico que eu não entendia. Eles estavam alvoroçados ao meu lado, procurando todos os sinais possíveis que aquela maquina irritante produzia. 

 -Não, não a anestesiem! – Um homem adentrava a sala, tinha um estetoscópio pendurado no pescoço, vestido todo de branco, o cabelo cheio de gel jogado de lado. A palavra dele na pequena sala foi uma ordem, ninguém mais se mexia, um rapaz com a seringa no meio do processo estava imóvel, todos esperando mais ordens do meu suposto médico. Olhando para mim ele sorriu, seus olhos esverdeados pareciam reluzir, eu até o acharia bonito se não estivesse toda arrebentada e desesperada para saber da minha amiga. - Sou o Dr. Vicente, atendi você logo quando chegou ao hospital. Soube que foi muito valente garota. 

 -Como esta minha amiga? E a mãe dela?

 Ele olhou rapidamente para a minha mãe e assentiu, chegando mais perto de mim, ela segurou minha mão

 -Mãe, por...favor..! – Eu sentia meus lábios tremerem, meus olhos a ficarem turvos novamente.

 -Está tudo bem Tela, tudo ficará bem! Brenda bateu a cabeça, a pancada foi muito forte, a situação dela era grave, mas começamos a ter noticias de melhora hoje cedo...

 Não...não...não!!

 Eu queria gritar, queria dizer que isso não era possível, minha amiga estava boa, todas nos estávamos e no dia seguinte sairíamos ali dando risadas e pararíamos na lanchonete que o Tiago trabalha, compraríamos um sorvete e ficaríamos sentadas lá por horas, conversando. Mas não conseguia, minha garganta estava fechada, até respirar estava difícil. 

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora