Capítulo 36

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Depois de revistarem Ícaro e tirarem todas as armas que portava, eles o libertaram, praticamente o jogando aos meus pés.

-Você está bem? – Sussurrei me agachando eu lado, mesmo ciente que Onor ainda podia nos ouvir. Passei a mão pelo corte na testa tentando avaliar a profundidade do dano, fazendo-o retesar.

-Estou. – Sua voz saiu rouca e ele pigarreou tentando falar novamente – Estou, sim.

O analisei de cima a baixo tentando identificar danos mais sérios, mas nada que eu pudesse afirmar de fato. Seu rosto estava torcido pela dor dos socos e mesmo em pé era visível que se curvava para frente. Nós nos encaramos e palavras não foram necessárias, estávamos prontos.

-E então, como voltamos? – Disse para Onor postado a nossa frente assistindo a grandes labaredas de fogo que dançava ignorando tudo que se passava naquele ambiente.

Contrariando todo o bom senso e o instinto de sobrevivência, ele enfiou a mão naquela chama que crepitava, eu abafei um grito enquanto assistia ao fogo consumir primeiro sua mão, depois a manga da túnica até o cotovelo. Sua expressão continuava inexpressiva, sem soltar nenhum grito, enquanto o fogo consumia seu braço.

E simples assim, ele voltava, saindo das chamas, a pele em carne viva parecia não o incomodar mais do que túnica destruída. E na ponta dos dedos, uma pedra, singela, oval e com um brilho único, reluzia em sua mão.

O Selo de Dalta.

-Isso os levará até o Reino Mundano, e quando acharem o Selo, ele os trará de volta– Erguendo o braço bom que não havia sido consumido pelo fogo ele nos impediu de falar – Eu saberei quando tiverem o Selo. E mais uma coisa, para deixar claro, não revogarei nenhuma maldição até vocês retornarem com o que eu quero, então é bom se apressarem.

Eu duvidava que ele revogasse qualquer coisa, tendo o Selo ou não. Fechando a mão boa com a mão queimada em volta do Selo de Dalta, palavras inteligíveis começaram a sair de sua boca... mas eu ainda precisava saber de mais uma coisa.

-Espere. – Onor ergueu os olhos para mim com raiva e fúria – Há mais uma coisa que ainda quero saber, eu fui uma escolhida pela maldição?

Ícaro segurou minha mão, sem muita certeza do que fazer. Uma risada escapou de Onor antes que pudesse responder.

-Não achei que temesse por sua vida, dado o que fez agora pouco – Disse dando de ombros – E sim, você foi uma escolhida, mas já passou por ela, então não precisa se preocupar – Ele disse essa última parte olhando fixamente para Ícaro, que não deixou de notar.

Eu apenas assenti, sem saber mais o que pensar... tudo se misturava em um turbilhão de emoções, que logo eu teria que lidar. Me apoiei à Ícaro, o sustentando devido a dor dos ferimentos. Com sua boca tão próxima do meu ouvido, eu o ouvia suspirar pesadamente, aguentando firme tudo o que sofrera.

E então assim, pelas mãos da pessoa que eu mais odiava, aquele mesmo vento da minha ida há Nimalgia voltava, o fogo estava irritado, indo para todas as direções, os detritos do chão voavam ao nosso lado, perto de nos atingir, tudo escureceu e um buraco se abriu aos nossos pés nos lançando em queda livre. E simples assim, tudo o que eu mais queria nos últimos dias estava acontecendo, da forma que eu menos imaginava.

Estava voltando para casa.

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora