Capítulo 3

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Já havia se passado uma semana desde o acidente e dois dias que tinha voltado para casa, Brenda ainda continuava internada, mas a cada dia as noticias eram mais animadoras, a mãe dela, Dani havia passado na minha casa ontem, estava abalada e com alguns cortes no rosto que ainda não sumiram, embora todo o susto passado a recuperação de Brenda estava sendo bastante contagiante para todas nós. 

Seu Manuel, como de costume, vinha me visitar todos os dias a tarde junto com sua esposa Silvia, estava para conhecer pessoas mais amorosas que aqueles dois. De tudo que vinha acontecendo da minha melhora significativa, havia uma coisa que estava me incomodando, desde que acordei naquele hospital até hoje, já entortei dois talheres, quebrei três copos e afundei alguns botões do controle remoto. O medico, Vicente, achou que isso poderia ser algum pânico, ou trauma psicológico causado pelo acidente, mas que em breve eu estaria melhor.

 Ligando a Tv coloquei no canal que passava a série sobre zumbis, aquilo me distraia das horas que tinha que passar em casa, sem ninguém para conversar e com Brenda ainda no hospital, não havia nem mensagens no celular. Mas nem mesmo a série foi capaz de com o tempo manter o sono longe de mim, o que era bom, enquanto acordada pouco conseguia descansar então abracei o mundo dos sonhos, ouvindo ao fundo os gritos de zumbis sendo dilacerados. 

Eu não sabia quanto tempo havia decorrido, até que senti alguém me cutucando, abri os olhos e me espantei com o que estava vendo, a sala ao meu redor havia ficado estranhamente dourada, todos os móveis e objetos estavam em volta de uma espécie de tela dourada, reluzente, seria lindo se não fosse completamente assustador.A minha frente um homem, com barba e bigodes grandes, um cabelo comprido -maior que os meus que chegavam quase aos ombros - olhava para mim, ele não possuíaforma corpórea, eu conseguia enxergar o outro lado da sala através de seu corpo que brilhava no mesmo tom dourado que os móveis. Eu não conseguia falar, não conseguia gritar nem ao menos me mexer do sofá, era tudo irreal demais, porem nítido, muito nítido. 

 Sem falar nada o homem dourado se aproximou de mim, com a mão estendidana frente seu dedo levantado quase encostou à minha cara. Ele ficou assim, estático nessa posição apenas me observando e abrindo um sorriso gentil, igual ao que o seu Manuel transmitia para mim toda vez que me via. Bondade. Eu pensei.

Enquanto tentava me mexer e levantar do sofá, percebi que mais nada em mim doía, meu ombro estava perfeito como sempre estivera antes do acidente, e os cortes que eu tinha por todo o corpo também não ardiam. Consegui me sentar sem maiores problemas, embora o choque me desestabilizasse. Voltando com a mão para o lado do corpo e sorrindo mostrando todos os dentes – também translucido – como se visse graça em meu espanto, o homem dourado me olhava em completa adoração. 

-Está na hora de voltar para a casa – Ele disse com sua voz harmônica, como se tivesse soado dentro do meu cérebro e não pronunciado de fato as palavras – O caminho finalmente voltará a ter seu destino... 

Dizendo isso ele sumiu como em passe de mágica e tudo voltou ao que era antes. Com o coração disparado eu gritei, meu corpo voltando a sentir os efeitos do acidente. Abri os olhos, vasculhei por tudo, girando, os moveis estavam nos lugares com suas respectivas cores, não havia ninguém em casa, respirando fundo tentei me acalmar. 

-Foi só um sonho, Stela, só um sonho, ninguém invadiu sua casa e pintou tudo de dourado - Respirei fundo novamente sentido as batidas de meu coração voltarem ao normal – Você só esta nervosa, não surta. 

 Abri e fechei os olhos três vezes para ter certeza de que não tive nenhuma alucinação, nunca antes havia tido um sonho tão real quanto esse, e ao mesmo tempo tão estranho. Numa ultima tentativa de que aquilo era meu cérebro pregando peças me belisquei e tudo continuava no mesmo, como sempre foi e sempre será. O estresse do acidente iria me levar a loucura a qualquer momento.Levantando fui até a cozinha pegar mais uma garrafa de água, e logico que não foi surpresa nenhuma quando eu a amassei, ultimamente qualquer coisa mais frágil vinha sendo destruída por mim. 

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora