Depois que todos foram embora e ficamos apenas nós três, a senhora Monte me levou para conhecer o resto da casa, e disse pelo menos umas cinco vezes que eu me sentisse a vontade. No andar de baixo além da sala e da mesa de jantar conheci uma pequena cozinha com um fogão a lenha e diversas travessas de argila penduradas, já no andar de cima tinham dois quartos, não tão pequenos assim, comportavam uma cama toda trabalhada nos enfeites, uma poltrona ficava perto da janela e diversos livros e folhetos se enfileiravam no chão à direita. Não tinha nada extraordinário, tudo arrumado e organizado.
O quarto do casal Monte também não era diferente daquele primeiro que eles haviam apresentado como meu, exceto pela cama que era maior e uma pequena mesinha no canto. Assim que as apresentações terminaram eu fui tomar um banho no pequeno cubículo que ela indicou como lavatório, enquanto preparava o jantar.
Eu quase tive um braço quebrado para tentar entender como funcionava tudo aquilo que estava vendo. Uma imensa banheira de prata – essa foi a melhor dedução que eu achei – tomava conta de todo o cubículo, dois vidrinhos que eu supus serem os sabonetes ficavam ao lado, mas, da onde viria à água? Depois de perder quase vinte minutos vasculhando tudo e me recusando a descere falar que eu não sabia usar uma banheira achei uma pequena alavanca pendurada em cima da banheira, puxei e ela nem ao menos se mexeu, tentei uma segunda vez e nada, aquilo parecia emperrado. Usando os dois braços e toda a força que dispunha puxei para baixo, a alavanca desceu e uma pequena quantidade de água saiu por um cano que prendia lateralmente a banheira.
Nunca tinha visto uma engenhoca tão estranha em toda minha vida. Puxei novamente a alavanca e mais um pouco de água saiu. Se continuasse naquele ritmo o dia teria amanhecido que ainda estaria lá, mas como não achei outra solução continuei. Haviam se passado mais uns quinze minutos quando notei que a água já estava a um nível razoável e resolvi entrar.
Completamente gelada tomei o banho mais rápido da minha vida. E sai de lá tremendo de frio. Voltando as minhas roupas de antes deixei tudo como estava e desci, não achei um espelho para que pudesse averiguar a situação do meu cabelo, então confiei nos meus dedos para desembaraça-lo.
-Chegou bem a tempo querida, espero que tenha se entendido bem com a banheira. – Seline sorriu novamente enquanto eu entrava na cozinha e ela colocava uma enorme travessa na mesa. –Kael, o jantar já está na mesa!
-Demorou um pouco, mas acho que me entendi bem, só não consegui descobrir como esvazia-la – Sorri sem jeito tentando me desculpar. -Não se preocupe mais tarde eu lhe ensinarei, confesso que essa não é a melhor das nossas invenções.
-O que não é a melhor das nossas invenções? – Kael disse entrando na cozinha.
-A banheira, aquilo quase me mata.
-Ora, não mataria se você tivesse me ouvido e feito ela no andar de baixo.
-Você sabe muito bem porque não pude deixa-la no andar de baixo, não teríamos espaço para a sala.
Eu olhava de um para o outro nessa discussão, enquanto Seline enchia meu prato com uma espécie de sopa amarela, com algo boiando junto, o aspecto não era dos melhores porem o cheiro era agradável. Arrisquei uma primeira colherada, estava fervendo soprei um pouco antes de levar a boca e no instante que fiz isso, me senti como em desenho animado que corações formam nos olhos e você levita alguns centímetros, até voltar ao chão.
-Huummmm!
Quando abri os olhos notei que o falatório havia cessado e o senhor e a senhora Monte me encaravam.
-Está uma delicia! –Disse enrubescendo e levando mais uma colherada a boca. –Do que é feito?
Quebrando algumas regras de etiqueta falei com a boca cheia pronta minha terceira colherada. Os olhos de Seline brilharam e seu sorriso ia de orelha a orelha com meu elogio. Era realmente estranho que depois que tudo o que aconteceu na minha vida, no final do dia eu estar sentada a mesa com pessoas que nunca havia visto antes, num lugar que não fazia ideia do que era ou onde ficava, mas senti um felicidade boa tomar aquela sopa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Reino Amaldiçoado
AdventureStela acredita ser uma adolescente como as outras, até que um grave acidente muda tudo. Levada a um mundo paralelo, conhecemos o enigmático reino de Nimalgia, amaldiçoado há muitos anos por um Rei tirano, as pessoas vivem presas dentro de seu própri...