Capítulo 26

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-Eu presumo que deva existir uma boa explicação para o atraso de ambos. – Cirino sentado em frente a sua mesa de professor na Fênix, nem olhou para nós ao nos repreender.

Hoje sua usual túnica marrom, era preta deixando-o com um aspecto sombrio e assustador.

-Tegor desafiou Stela e Ludir a duelarem no fim do treino, Senhor. – Abaixei o meu rosto para o chão, analisando atentamente a madeira escura que revestia todo o lugar, tentando esconder o rubor que surgia no meu rosto ao lembrar o que mais havia que Ícaro estava ocultando – Desculpe-nos pelo atraso.

Cirino finalmente tirou o rosto do livro que vinha lendo e olhou para nós dois, sua expressão ainda era séria. Seus olhos iam de um para o outro e depois voltavam a repetir o movimento. Ele sabia! Assim como dois mais dois somam quatro ele havia entendido muito mais do eu desejava.

-É claro. – Assentindo indicou com a mão as carteiras a sua frente nos incitando a entrar – E quem ganhou?

-Eu.

Um vestígio de sorriso surgiu em seu rosto, mas tão logo apareceu, sumiu quando seus olhos caíram em Ícaro novamente.

-Parece que você vem sendo um ótimo tutor, mesmo com alguns desvios de rota às vezes. –A inexpressividade dele era impressionante, enquanto eu tentava disfarçar olhando para todos os lados, ele encarava Cirino na maior naturalidade possível. – A próxima não será perdoada, fui claro?

-Sim – respondemos juntos, nos sentando lado a lado.

A aula transcorreu rápido, até mesmo quando meu corpo esfriou e a dor em meu ombro triplicou, forçando uma compressa de agua gelada que de nada ajudaria, ou quando eu comecei a cochilar durante a aula e fui acordada com um maravilhoso sermão.

Já tinha anoitecido quando saímos da Fênix, Cirino quis compensar nosso atraso com mais falatórios sobre a magia de Nimalgia. O que achei bem irônico o nome derivar de magia e eles insistirem que na verdade é apenas ilusão, as mágicas de verdade foram a muitas passagens atrás, atualmente caindo em desuso, dizem que um dos últimos vivos que dominam esse poder é Onor, e infelizmente resolveu optar pelo mau caminho dela. E mais um dia se encerrava sem que nada de útil eu pudesse descobrir.

Eu e Ícaro caminhávamos ombro a ombro atentos com qualquer movimento estranho pelas trilhas àquela hora da noite. Não tocamos no assunto de mais cedo, temi que houvesse sido algo do momento, o que analisando melhor foi uma completa besteira ter deduzido isso, nunca antes o tinha visto tão relaxado quanto agora, eu sabia como era isso porque me sentia da mesma forma. Era engraçada a maneira como nos conectávamos nessas situações.

-Já se perguntou o que fará se não conseguir voltar para casa? – Seus olhos admiravam sem ver o céu nebuloso de Nimalgia, enquanto sua voz estava calma e tranquila, escondendo qualquer outra emoção que eu tentei identificar.

-Tenho medo de pensar nisso, então, acho que a melhor resposta é: não faço ideia.

-É tão ruim assim ficar em aqui? Quer dizer... eu sei que tem todo o fato da maldição, mas... - ele não terminou, a pergunta estava implícita. 

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora