Capítulo 32

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Não sabia o que Ícaro havia dito para Mirno, mas o pobre senhor nos trouxe sem nenhum problema até a parte de trás da gigante torre.

-Não existe nenhuma outra entrada? – Disse enquanto olhava o buraco em forma de túnel a minha frente – Isso aqui não tem cara de que vai levar a algum lugar!

Puxei a mochila que carregava para mais perto ainda, qualquer queda o pesado livro e as comidas amorteceriam o impacto.

-Tenho certeza, não é o melhor lugar para entrar, mas um das cozinheiras que por coincidência é irmã de minha esposa, confirmou que esta é uma pequena entrada até a sala de armazenamento, que os antigos funcionários usavam para saquear – Ele olhou cansado para nós - Ainda acho que vocês não estão pensando muito bem na onde estão se metendo -Disse como se duvidasse que sairíamos dali vivos - mas ainda assim boa sorte, fiz o máximo que pude para ajuda-los.

Ícaro assentiu enquanto a velha carroça fazia a volta percorrendo o caminho que havíamos feito minutos antes.

-Preparada?

-Se não estiver esse não será o melhor momento para descobrir.

O esboço de um sorriso ameaçou se abrir em seu rosto, quebrando um pouco a tensão que vinhamos sentindo desde a saída de Nimalgia.

Começamos nossa caminhada pelo estreito túnel, nossos passos formavam ecos tenebrosos, quando já não podíamos enxergar mais nada a nossa frente Ícaro pegou o tal do acendedor, a pequena chama que produzia conseguia parcialmente iluminar nosso caminho.

Era íngreme e apertado fazendo com que andássemos em fileirinha, pelo sombrio corredor, o ar começava a ficar rarefeito exigindo mais de nossos corpos, falar estava descartado, teríamos que poupar energia para o que nos aguardava a cada curva que fazíamos. Tudo era uma incerteza, saímos de Nimalgia sabendo que teríamos que acabar com a maldição, e a única forma seria chegando até Onor. Esse podia ser meus últimos momentos, minhas últimas decisões, mais uma vez eu tinha a sensação que via minha vida inteira passar na minha frente. Minha mãe e meu pai colocando as coisas na caminhonete para o acampamento, seu Antônio me repreendendo por correr, Brenda ainda no hospital, um carro capotando e explodindo, um homem dourado... O rei de Nimalgia, filho de Galu, antigo Rei de todas essas terras.

Falar com mortos certamente foi a parte mais bizarra, e, no entanto, comparado com agora, com esse momento, não me parecia mais tão incomum.

"voltar ao seu destino".

Era isso que havia me dito, acho que só agora eu entendia, talvez Defel confiasse em mim para isso. Soava estranho pensar dessa forma, um homem morto desejava que eu salvasse não um, mas dois reinos, matando seu irmão de mais de 200 anos. A história da Cinderela não assemelhasse mais tão distantes da realidade assim.

Senti uma forte vontade de pegar aquele livro na mochila, me repreendi por não tê-lo lido quando tive chance, saber quem era meu oponente seria melhor do que enfrenta-lo às cegas, neste momento eu não sabia nem se ele fazia ideia que duas pessoas invadiam sua torre.

-E agora? - Ícaro disse a minha frente, me fazendo parar abruptamente. O caminho se bifurcava em dois, formando um Y. - O seu amigo não falou nada sobre isso. - Sua voz soava em tom sarcástico.

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora